“Onhe endu Yipiranga gui hembe kanguy’i/ Xondáro sapukai omboryry”. As palavras guarani para dizer que as margens plácidas do Ipiranga ouviram o grito dos guerreiros marcaram, hoje (16), a abertura oficial do Abril Indígena no Salão Negro, em evento organizado pelo Ministério da Justiça e a Funai.
O ministro Torquato Jardim, o presidente Franklimberg de Freitas, e o ministro do Tribunal Superior Eleitoral, Edmar Gonzaga uniram-se aos representantes dos Pataxó, Tikuna, Fulni-ô, Xucuru, Xingu, Kamayurá, Gavião, Kariri-Xocó e Bororo, além de servidores e convidados, para a solenidade que se iniciou com a versão Guarani do hino nacional cantada pelo maestro e violonista cacique Rosbon Miguel.
O presidente Franklimberg mencionou o 1º Congresso Indigenista Interamericano, em 1940, que estabeleceu o dia 19 de abril, data em que os delegados indígenas se reuniram pela primeira vez no evento, como data comemorativa em vários países. Acrescentou, ainda, que um milhão de indígenas, que formam 305 povos, apresentam demandas diversas e atendê-las em sua especificidade é o grande desafio da Funai: “Da mesma forma que a Funai constata e administra a presença de índios isolados e/ou de recente contato em regiões longínquas da Amazônia brasileira, existe também um outro grande segmento da população indígena que reivindica outros direitos, como mais vagas para ingresso em universidades brasileiras, melhoria no sistema de saúde indígena e oferta de financiamento para o pequeno agricultor.”
Ao discorrer sobre heterogeneidade, demarcação, desenvolvimento sustentável nas comunidades indígenas e apoio ao trabalho desenvolvido pela Funai, o presidente encerrou o discurso agraciando o ministro com a Ordem do Mérito Indigenista, pelos serviços prestados em apoio à Fundação dentro de suas atribuições.
Na ocasião, o ministro também recebeu de Gerusa Caiado Rezende, representante de Sebastião Salgado, obra do fotógrafo em que retrata os Korubo e faz parte de seu projeto mais recente: “Amazônia”. Torquato Jardim aproveitou para conceder ao artista uma placa com inscrições de reconhecimento e agradecimento pelo seu trabalho.
Após saudar os representantes indígenas, Jardim afirmou que “em certa medida, todos os céus do Brasil estavam ali”. Em discurso sobre a comemoração e a manutenção da ancestralidade, o ministro declarou ser importante definir possibilidades de lidar com as transformações, preservando a cultura: “É preciso encontrar uma forma constitucional e jurídica economicamente justa, socialmente leal para com os povos indígenas para atender essa demanda.”
Eles são a festa
Kakai Pataxó, liderança indígena, também comemorou a homenagem. “Nós todos sabemos que o Dia do Índio não é só no mês de abril, mas todos os dias. Todos os dias são de batalha para o nosso povo que corre sempre atrás de seus direitos.” Na língua patxohã, Kakai entoou uma oração cantada e todos os representantes dos povos presentes, em uníssono, cantaram e dançaram Kana Pataxi Petoin em roda.
Após a solenidade, foi aberta a exposição de artesanato que dividiu o Salão Negro do Ministério com maloca ambientada, stand de distribuição de cartilhas elaboradas pela Funai e conjunto de obras fotográficas da coleção “Festas e Ritos” de Sebastião Salgado.
O que têm a dizer?
Nildes Kariri-Xocó, artesã que mora no Distrito Federal há mais de 20 anos, participou da abertura do Abril Indígena e também divulgou suas peças na exposição. Segundo ela, apesar de a exposição no Salão Negro representar uma conquista, faz-se necessário o reconhecimento constante da realidade dos povos originários. “A gente não existe só no mês de abril. Nascemos indígenas e morreremos indígenas. Precisamos desse valor todos os dias e não só no Dia do Índio.”
A indígena menciona, ainda, as dificuldades que enfrentam os artesãos indígenas, muitas vezes passando desapercebidos. “Não precisamos ser invisíveis. Eu tenho o maior orgulho (de ser artesã). Eu não deixo o artesanato, nem paro de lutar, justamente para incentivar o meu povo”, ressaltou.
Ao falar sobre os territórios, Nildes destaca que os povos indígenas permanecem na luta pelas áreas que tradicionalmente ocupam, direito garantido pela Constituição, e que “índio é terra, não tem como separar.”
Para Kakai Pataxó, é necessário que haja, por parte do Brasil, mais divulgação da rica cultura e realidade indígena. “Somos um povo trabalhador e guerreiro. Muitos acham que o índio é preguiçoso, mas isso é mentira. Nós acordamos cedo na aldeia para trabalhar, para cuidar da nossa agricultura, muitos vão à pesca de madrugada.” Ao ser perguntado sobre situações em que sofreu pelo preconceito de não-índios, Kakai afirma: “Sempre acontece, mas eu, graças a Deus, procuro ser mais forte do que o preconceito e isso eu não deixo me derrubar de jeito nenhum.”
Programação Abril Indígena
O evento terá continuidade até dia 25 de abril e, a partir de amanhã (17), as atrações se dividirão entre os prédios da Funai, no Setor Comercial Sul, e o Palácio da Justiça.
Contação de histórias e projeções de vídeos estão previstas para os próximos dias, enquanto as visitas às mostras de artesanato, fotografias e à maloquinha ambientada estão abertas gratuitamente a todo público, inclusive excursões escolares.
Para saber mais sobre o evento confira a programação ou entre em contato com a Assessoria da Presidência da Funai, pelo número: 3247-6779.
Ascom/Funai
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