Convidado da reunião do Geea, Arce falou sobre a aspectos culturais e geopolíticos da Panamazônia e defendeu uma integração e cooperação por meio da sociedade civil, uma vez que os governos têm se demonstrado ineficientes.

O que falta para a Amazônia se desenvolver é prosperidade. Não podemos ficar esperando por projetos ou iniciativas governamentais, não é do interesse deles. A afirmação foi feita pelo diretor-executivo da Associação Panamazônia, Belisário Arce, durante a 51ª Reunião do Grupo de Estudos Estratégicos Amazônicos (Geea) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), nesta quarta-feira (28).

Convidado para a primeira reunião do Geea deste ano, Arce falou sobre a aspectos culturais e geopolíticos da Panamazônia, e defendeu uma integração e cooperação por meio da sociedade civil, uma vez que os governos têm se demonstrado ineficientes.

Para o palestrante, os problemas sociais, econômicos e ambientais decorrem de tal característica, sendo necessário criar condições para que essa prosperidade ocorra. “Um dos caminhos seria a criação de uma agenda liberal para a Amazônia”, acredita.

Cooperação

Um outro caminho, segundo o especialista, é a cooperação e a integração da Amazônia como um todo. “A Amazônia é muito fragmentada. As sociedades amazônicas possuem um território muito vasto, com mais de oito milhões de km²”, afirma ao acrescentar que o espaço geográfico e o bioma não contribuem para tal integração. “Não há estradas, os caminhos de conexão são os rios, as comunicações de telefonia e internet são precárias. Toda a comunicação, de modo geral, é dificultosa”, garante.

Arce defende que todos esses fatores contribuíram para que as sociedades amazônicas se desenvolvessem isoladas umas das outras. “Hoje o nível de integração e cooperação panamazônica é próximo de zero”, afirma.

Em contrapartida, o especialista acredita que as diversas partes da Amazônia estão de costas umas para as outras.  Na opinião do palestrante, é essencial que as sociedades que fazem parte da Panamazônia comecem a colaborar para romper essa inércia econômica que se encontra e assim superar os obstáculos.

Para o palestrante, os obstáculos enfrentados na Amazônia brasileira, especificamente aqui no Amazonas, são obstáculos semelhantes aos enfrentados pelo Peru, Bolívia, Colômbia e outras sociedades amazônicas. “Cada um tenta enfrentar, superar, avançar e se desenvolver isoladamente. Não dá certo”, afirma.

Mudança de cenário

Arce defende que a mudança de cenário se dará a partir do momento em que as sociedades panamazônicas começarem a negociar entre si, promoverem a indústria, cooperação científica, tecnológica, acadêmica, artística, cultural e tantas outras. “Quando essa cooperação, de fato existir, os governos vão ter que reconhecer essa integração. Parece que esse é o caminho”, diz.

Sobre o porquê da difícil relação de cooperação entre os governos, Arce defende que isso se deva não só na Amazônia, mas em qualquer outro lugar que haja o federalismo, uma vez que o processo se dê no centro de poder, que normalmente é a capital federal. É o que ocorre na Amazônia, segundo ele.

“Essas capitais federais estão muito distantes da Amazônia. Brasília está muito distante da Amazônia, Lima (Peru), La Paz (Bolívia), Caracas (Venezuela) estão distante. Todas as capitais estão distantes do centro regional amazônico, tanto geograficamente, quanto culturalmente”, enfatiza, ao dizer que isso vá além. “Estão distantes em termos de compreensão da Amazônia e de interesse. Os interesses dos centros nacionais de poder não convergem com os interesses genuínos da região amazônica. Por que Brasília vai se preocupar em promover a integração?”, questiona.

Arce garante que o interesse em prosperar deva partir única e exclusivamente da sociedade civil amazônica, pois os planos governamentais são ineficazes. Prova disso seria a Organização de Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), que nesse ano de 2018, completa 40 anos. Apesar do Tratado ter objetivos grandiosos e auspiciosos, eles não se concretizaram.

Na opinião do especialista, o resultado desse Tratado foi mostrar que os acordos e tratados internacionais entre os governos não funcionam muito bem. “A sociedade civil não tem meios legais para promover a integração na Panamazônia porque ela depende de acoodos internacionais que devem ser firmados pelos governos, mas a cooperação não”, finaliza.  

A 51ª Reunião do GEEA contou com a presença de pesquisadores, professores universitários, gestores e do cônsul colombiano, José Gilberto Rojas Florez.

Sobre o Geea

O Geea foi criado em 2007 com o objetivo de estabelecer fórum permanente multidisciplinar, visando à análise de questões relevantes sobre a Amazônia e um veículo para a socialização da ciência através de linguagem acessível. O grupo, formado por pesquisadores, professores, empresários, humanistas e gestores reúne-se a cada dois meses para debater um tema escolhido previamente e apresentado por especialista de renome. O secretário-executivo é o pesquisador Geraldo Mendes.

Texto e foto Karen Canto  – Ascom Inpa

FONTE: INPA