Na fronteira chegam todos os povos, línguas e nações. Indígenas da etnia Warao vivem numa Casa de Passagem que se tornou literalmente um abrigo desde que foi inaugurado em novembro do ano passado. Projetado para receber apenas 250 pessoas, atualmente o local comporta 388 indígenas. Vivendo entre barracas, fumaça e redes, eles se alimentam e dormem.
A reportagem cruzou os portões do local despois de horas negociando com as entidades que cuidam da Casa administrada pela Prefeitura de Pacaraima, governo de Roraima, por meio da Secretaria de Trabalho Bem-Estar Social (Setrabes), Organização Não Governamental Fraternidade e Agência da ONU para Refugiados (Acnur). A equipe do Roraima em Tempo chegou ao local às 9h30, mas só teve o acesso liberado por volta das 15h30.
A secretária de Assistência Social, Isabel Dávila, explicou que o abrigo parou de receber estrangeiros depois que a capacidade máxima chegou ao extremo. Ela comentou que todos os dias, de três a quatro famílias, vão a Casa tentar ser atendidas, mas recebem não como resposta.
“Infelizmente, temos que dizer não porque não temos suporte para atender mais do que isso. Estamos dialogando com quem está dentro da Casa para saber o que faremos. O tempo de permanência é 90 dias e posteriormente eles devem sair. São famílias que não têm para onde ir, mas a capacidade do Poder público chegou ao limite”, declarou.
No local, os indígenas fazem fogo no chão, cortam a comida ao lado e cozinham. Roupas estendidas nas grades que cercam o abrigo, sol de uns 35 graus e um redário com centenas de hamacas [rede, em tradução livre] que balançam para lá e para cá, simbolizando sentimento de segurança e acolhimento.
Sobre a alimentação, Isabel comentou que no início, quando o abrigo foi efetivado, a responsabilidade de fornecer comida aos indígenas recaiu sobre o governo federal, o que nunca ocorreu, segundo ela. Atualmente, a instituição que contribui com as refeições dos imigrantes é a Agência da ONU. Mas os atendimentos de saúde são garantidos todas as sextas-feiras pelo município.
“Fazemos os agendamentos durante a semana e temos um trailer para serviços de saúde. Na sexta, os profissionais realizam os atendimentos. Além disso, os profissionais de educação social, assistência social e psicologia, são disponibilizados pelo Estado e fazem trabalho com atividades lúdicas com os estrangeiros. Fazemos o possível para manter o lugar em plenas condições de funcionamento”, destacou.
Quando a reportagem entrou no galpão, ele estava sujo, mas tinha escala de limpeza que é coordenada por grupos. Um quadro na parede para aulas às crianças e uma assessora da secretária informou que um setor administrativo seria mudado para o abrigo, como forma de manter o ambiente organizado.
Isabel relatou que estão com dificuldades para fazer a rotatividade dos estrangeiros. Isto é, de enviá-los aos abrigos da capital porque estão lotados. Antes, a permanência no lugar era de apenas 30 dias. Com isso, eles continuam no ambiente e impedem que outras pessoas sejam acolhidas. Como o governo federal não adota medidas frente à Casa de Passagem, os administradores enfrentam uma série de dificuldades.
A reportagem questionou ainda se existia empecilho no momento de executar os trabalhos sociais devido à cultura indígena e idioma. Isabel respondeu que não, já que os profissionais estão acostumados a lidar com indígenas, porque o município tem grande parte da população constituída por índios; e por ser região de fronteira, estão acostumados com os dois idiomas e muitos falam as duas línguas.
A reportagem foi coibida de falar com moradores do abrigo, porque não estava acompanhada pela secretária responsável nem pelo administrador da Casa. A entrevista com a secretária ocorreu após a visita.
Josué Ferreira
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FONTE: RORAIMAEMTEMPO
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