O Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará (Ideflor-bio), através da Diretoria de Biodiversidade/Gerência de Sociobiodiversidade, tem como missão apoiar a implementação da Política Nacional de Gestão Ambiental e Territorial de Terras Indígenas (PNGATI) no estado Pará, através de ações de proteção, recuperação, conservação e uso sustentável dos recursos naturais dos territórios indígenas, estabelecendo o mapeamento e zoneamento participativos, como ferramentas de gestão dos territórios indígenas.
Em 2014, iniciaram-se os estudos de campo para o Diagnóstico Participativo e Etnozoneamento da Terra Indígena Alto Rio Guamá (TIARG). Os trabalhos resultaram na elaboração dos livros “Gestão Ambiental e Territorial da Terra Indígena Alto Rio Guamá: Diagnóstico Etnoambiental e Etnozoneamento” e “Narrativas Tembé sobre Biodiversidade”, que foram lançados pelo Instituto recentemente, em um Seminário realizado em Paragominas, município que aloja grande parte da área florestada da Terra Indígena Alto Rio Guamá.
A TIARG está inserida nos municípios de Santa Luzia do Pará, Nova Esperança do Piriá e Paragominas, na divisa com o estado do Maranhão, uma das regiões mais devastadas e ameaçadas de toda a Amazônia em termos de biodiversidade. Devido a um histórico de invasões irregulares e atividades ilegais praticadas no interior de suas terras, principalmente a extração ilegal de madeira, que vem ocorrendo intensamente na região, a TIARG encontra-se ocupada por não indígenas em toda a sua área central e grande parte de suas matas nativas já foram perdidas. Além disso, na atualidade, poucos indígenas são falantes da língua Tembé, evidenciando a necessidade de ações concretas para a conservação da língua, que é um dos pilares de uma cultura.
O livro “Gestão Ambiental e Territorial da Terra Indígena Alto Rio Guamá: Diagnóstico Etnoambiental e Etnozoneamento” reúne o resultado de estudos relacionados a aspectos ambientais, socioeconômicos e culturais da TIARG. No aspecto ambiental, são apresentados capítulos específicos sobre o meio físico, a flora e a fauna, as espécies ameaçadas de extinção e o monitoramento da extração ilegal de madeira, utilizando a técnica de Radar.
Estes estudos, em conjunto com o conhecimento que os indígenas naturalmente detêm sobre suas terras, serviram para embasar o capítulo do etnozoneamento da TIARG, que é o estabelecimento de zonas de uso no território Tembé, com regras específicas, acordadas entre os próprios indígenas. O objetivo é que o livro se torne uma ferramenta política para diálogo entre os indígenas e os governos, bem como para o diálogo interno da comunidade, uma vez que os diagnósticos temáticos trazem orientações para resoluções das problemáticas socioambientais desta Terra Indígena.
O livro “Narrativas Tembé sobre Biodiversidade” é o segundo volume de uma série de publicações viabilizada pelo Ideflor-bio, intitulada Conhecimento Indígena. Ele reúne 15 histórias do cotidiano Tembé ligadas à flora e à fauna local, contadas no idioma ancestral por indígenas fluentes na língua materna e transcritas pelo linguista Sérgio Meira, do Museu Paraense Emílio Goeldi, com apoio dos mestres da cultura indígena da TIARG. Estas histórias estão ricamente ilustradas e refletem o universo indígena sobre temas que ligam elementos da biodiversidade, como animais e plantas, a aspectos típicos da cultura Tembé e de suas relações com a natureza. O livro bilíngue foi produzido pela equipe do Ideflor-bio como forma de estimular o aprendizado da língua materna, principalmente entre os estudantes indígenas, apresentando versões na língua Tembé e sua tradução para o português.
A língua indígena carrega, em si, um vasto arsenal de conhecimento ancestral sobre os elementos da biodiversidade e sobre o funcionamento dos ecossistemas nos quais os povos indígenas estão inseridos e, por isso, o Ideflor-bio investiu esforços para chamar a atenção para a necessidade de ações integradas de conservação da diversidade biológica e da diversidade cultural e linguística do Estado do Pará.
✎Texto: Denise Silva / Ascom Ideflor-bio (disponível em: janeiro 2018)
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