A melhoria da infraestrutura fez parte das iniciativas para o desenvolvimento do país, no período de 1964 a 1984. A construção de rodovias como a BR 174, Manaus – Boa vista, com destaque para o trecho Caracaraí (RR) / Manaus (AM), possibilitando a ligação dos dois Estados, por inserir-se neste contexto, representou um passo importantíssimo para a consolidação da rede viária sul-americana e do sistema pan-americano de rodovias (Brasil, Venezuela, Uruguai, Argentina e Paraguai).
Para que a BR 174 pudesse ser construída foi preciso criar, pelo Decreto Presidencial No. 63.184, em 27/08/1968, o 6º. Batalhão de Engenharia de Construção, sediado em Boa Vista – RR. Posteriormente, em 1970, o DNER e o Exército Brasileiro assinaram convênio para que a BR 174 fosse construída. Tal ano é considerado o marco do início das ações efetivas para a construção da BR 174.
Cabe ressaltar que:
– No cenário da época vigorava a chamada “Guerra Fria” (de 1947 a 1991), tendo de um lado a liderança dos Estados Unidos da América – defensor do capitalismo e da democracia – e de outro a liderança da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas), defensora do socialismo e do comunismo. Aliados na Segunda Guerra Mundial, suas ideologias contrastantes segmentaram a liderança política, econômica e militar mundial no pós-guerra. Foi neste contexto que o Governo brasileiro implantou projetos para segurança, integração e desenvolvimento da Amazônia, dentro de um planejamento geopolítico para a região, com base na doutrina de segurança nacional, com alinhamento ao capitalismo e à democracia;
– A ideia de construção de uma estrada nos moldes da BR 174 era antiga, tendo sido realizadas várias tentativas, todas sem sucesso: em 1847, em 1893 e em 1928. O ponto central deste desejo sempre foi a integração da Amazônia ao restante do país;
– Os waimiris-atroaris na verdade são dois grupos de índios, ambos do Grupo Kinja: os waimiris, que na época da construção da BR 174 eram liderados pelo tuxaua (líder, cacique ou capitão) Maroaga, e os atroaris, então liderados pelo tuxaua Comprido. A comunicação verbal destes grupos é a do ramo Karib. Os atroaris foram considerados mais belicosos do que os waimiris, talvez pela influência do temperamento de seu líder Comprido, mais jovem e sem a maturidade de Maroaga (na faixa dos sessenta anos de idade, na época). Os grupos eram unidos, mesclados, sendo que a companheira de Comprido era filha de Maroaga.
É importante considerar que desde a segunda metade do século 19 a área por onde passaria a rodovia BR 174 serviu de palco para recorrentes conflitos entre os índios waimiris-atroaris e garimpeiros, caçadores, castanheiros, tartarugueiros e aventureiros de todo tipo, bem como com a polícia militar do Amazonas, esta especialmente atuante nos anos 60.
A justificativa da PM do Amazonas de interferir no contato com os waimiris-atroaris deveu-se à proximidade de algumas aldeias com a capital Manaus. Em 1968 uma das mais conhecidas expedições para consolidar a aproximação com os índios waimiris-atroaris (dentro das iniciativas denominadas “frentes de atração”, coordenadas pela FUNAI, que substituiu o SPI – Serviço de Proteção ao Índio), foi liderada pelo padre e antropólogo italiano Giovanni Calleri.
Onze pessoas fizeram parte de referida expedição, sendo que dez membros da expedição foram mortos pelos waimiris-atroaris, sem nenhuma chance de defesa. O único sobrevivente foi o mateiro Álvaro Paulo da Silva, conhecido como Paulo Mineiro. Calleri foi alertado por Paulo Mineiro que em função do comportamento rude e teimoso com que estava lidando com os índios havia uma ameaça à vida dos membros da expedição. Apesar do aviso e da insistência do citado mateiro, Calleri não lhe deu a devida importância. Então, Paulo Mineiro decidiu abandonar a expedição para salvar a sua vida.
No dia em que Paulo Mineiro fugiu, todos os demais membros da expedição foram mortos pelos índios, alguns enquanto dormiam. Segundo relato de Paulo Mineiro, ele foi perseguido pelos waimiris-atroaris ao longo de alguns dias. Somente logrou sobreviver por causa da sua inegável experiência e competência em lidar com a realidade da selva. O sobrevivente Paulo Mineiro, no período em que estive comandando a construção do trecho da estrada pertinente ao Destacamento Norte, foi um dos mateiros com os quais eu contava.
Tive a oportunidade única de ouvir dele mesmo, detalhes do ocorrido na Expedição Padre Calleri. Lamentavelmente, após a minha saída, ele faleceu em decorrência de um acidente, quando prestava serviços de manutenção da estrada. Com ele se foi a memória dos detalhes do ocorrido no massacre dos membros da expedição.
Durante a construção da BR 174 há evidências objetivas de 23 (vinte e três) mortes de colaboradores, sendo que 15 (quinze) delas foram decorrentes de ataques de emboscada pelos waimiris-atroaris. Na área de responsabilidade do Destacamento Norte nunca revidamos, molestamos, ferimos ou matamos um índio.
Nossos contatos com índios e informações sobre eles eram sempre através da FUNAI. Nosso lema era o mesmo de Rondon: “morrer, se preciso for, matar, nunca”. Nós é que estávamos cortando as terras que eles consideravam ser deles. A atuação da FUNAI ocorria apenas de forma pacífica, sem violência.
Outras iniciativas geradas pelas “frentes de atração”, coordenadas pela FUNAI e seus sertanistas, tiveram sucesso, embora relativo, pois os waimiris-atroaris tinham comportamento notoriamente ambíguo (momentos de aparente receptividade e outros com doses de agressividade). Tal variação de conduta dos waimiris-atroaris provavelmente foi consequência dos contatos e conflitos (segundo pesquisadores, desde 1856), com os invasores já citados no início deste texto.
A construção da BR 174, iniciada em 1970, marcou a efetiva presença do Exército Brasileiro numa área com histórico de conflitos, num ambiente hostil não gerado nem fomentado pelos militares. Tal cenário de atritos, com aproximações e tentativas de aproximação, por décadas, gerou sequelas para todos. As sequelas ocorreram, tanto no lado dos índios quanto no lado de civis e militares, pelas mais diversas razões (conflitos físicos, mortes, doenças como gripe, malária e outras decorrentes da presença de estranhos no bioma natural da região).
Presenciei, numa das chegadas de um grupo de waimiris-atroaris no posto da FUNAI na área do Destacamento Norte, em 1976, que vários índios estavam com sarna, que pegaram de seus cachorros. É importante destacar que epidemias oriundas de contatos dos índios com invasores de seu território já eram conhecidas há muito tempo. Por exemplo, há registros de que em 1926 dezenas de waimiris-atroaris morreram por causa de uma epidemia de gripe.
Apesar das conhecidas quinze perdas humanas causadas pelos waimiris-atroaris ao longo da construção da BR 174, reitero que nenhum ataque aos índios nem qualquer morte de um índio ocorreu por ação do Destacamento Norte do 6º. B E Const, Unidade que comandei com muito entusiasmo e energia.
O Exército matou índios durante a construção da BR 174 ?
É uma pergunta que precisa ser respondida por quem viveu a situação ou por quem analisa informações confiáveis, de forma isenta, e não por pessoas que teorizam sobre a questão. Com a autoridade de quem comandou o Destacamento Norte do 6º. B E Const nos anos 1976 e 1977 (portanto, nos dois últimos anos de construção da BR 174) reafirmo que nenhum índio foi morto por ação militar, em toda a área que cobrimos.
As mentiras em contraponto ao que afirmo são revoltantes, disseminadas por meios de comunicação viciados, por pessoas desinformadas ou ideologicamente fanatizadas, considerando apenas as versões que lhes convêm. Na enorme área que abrangeu minha participação na condução das atividades do Destacamento Norte eu asseguro que tratamos os índios de maneira respeitosa, mesmo após termos sido agredidos. Antes de ocuparmos a Amazônia os índios já estavam na terra que chamamos Brasil.
Na área e no período em que estive na liderança da construção da estrada, até a sua conclusão, e dou meu testemunho de que a atuação do Exército foi digna, competente, honesta e altamente profissional. Orgulho-me deste período da minha vida. Vi subordinados adoecerem, alguns morrerem, outros superarem extremas dificuldades, tudo para o bem do Brasil e dentro dos princípios éticos, de cidadania, de patriotismo, de respeito ao próximo, de disciplina, que caracterizam a formação de qualquer militar. Eu também passei por momentos delicados, de grandes riscos e graças a Deus os superei.
Trabalhamos vinte e quatro horas por dia, durante todos os anos da construção, equipes de dia e de noite, sem parar. Paradas apenas no período das chuvas torrenciais, que aproveitávamos para manutenção dos equipamentos, capacitação do pessoal e planejamentos. Nenhuma hora-extra ganhamos ou reivindicamos ao longo do nosso trabalho. O que ganhamos, dinheiro não compra.
A conclusão da BR 174 ocorreu em 06 de abril de 1977, dia do histórico e inesquecível encontro entre as frentes Sul (Destacamento Sul, responsável pela construção no sentido Manaus – Boa Vista) e Norte (Destacamento Norte, responsável pela construção no sentido Boa Vista – Manaus) do 6º. B E Const. Eu estava presente no local (Km 356,4) deste encontro e não é possível transformar em palavras a sensação, o orgulho da missão cumprida, o sentimento de ter concluído um esforço de muitos anos, conquista de muitas pessoas.
O resultado prático da construção da BR 174 nos leva aos seguintes fatos:
– Índios morreram, mas não por causa ou ação direta de militares do Exército Brasileiro. Pelo menos na área em que eu atuava isso nunca aconteceu;
– Dos 23 (vinte e três) mortos da equipe de construção, 15 (quinze) foram mortos de maneira covarde (emboscada) pelos waimiris-atroaris;
– A integração por rodovia com o resto do Brasil e o desenvolvimento de Roraima, tornaram-se realidade;
– A magnitude da obra e a capacidade de superação técnica e física dos obstáculos enfrentados com sucesso, é motivo de orgulho para o Brasil, para o Exército Brasileiro como um todo e, particularmente, para a sua Engenharia e logística (Intendência).
O momento atual pelo qual passa nosso país, também merece algumas considerações:
– Durante o período em que membros do Exército Brasileiro lideraram os rumos do Brasil, muito foi realizado, bastando buscar os registros do período, sendo que o principal objetivo (evitar que comunistas pró-Cuba e União Soviética destruíssem o Brasil) foi alcançado;
– Quando os militares tinham o poder de decisão em suas mãos, democraticamente, nunca se aproveitaram para elevar salários ou gerar benesses próprias. Os salários dos militares sempre foram baixos comparativamente com outros segmentos. Nenhum poderoso militar enriqueceu às custas do dinheiro do povo;
– De 1984 até o presente momento, os militares continuaram com baixos salários, sofreram grandes quedas em seus orçamentos e ainda passaram a ser tratados com desrespeito pelos ocupantes do poder;
– Está sendo alimentado pelos poderosos do momento, a maioria oriunda de grupos ideológicos ultrapassados, simpáticos a movimentos antidemocráticos e buscando interesses materiais próprios, um preconceito contra os militares e até retaliações;
– O povo brasileiro tem orgulho de suas Forças Armadas e boa parte sonha para que assumam novamente as rédeas da nação;
– Mentiras são espalhadas, sistematicamente, para desmerecer o comportamento e os feitos do Exército Brasileiro (seminários, jornais, filmes, novelas, programas de entrevistas etc) quase como um mantra, uma orquestração;
– Certas análises de valor e de versões dos fatos deixam de levar em conta o cenário, o contexto no período de construção da BR 174, gerando conclusões distorcidas da realidade;
– Testemunhos e informações coletadas são analisados e levados em conta desde que sirvam de justificativas para o demérito do Exército Brasileiro e do Governo daquela época.
O exposto neste texto tem por objetivo trazer uma parte da verdade à tona, tendo como foco a BR 174, particularmente quanto à atuação do Destacamento Norte do 6º. B E Const, no período de 1976 e 1977, neste momento em que se divulgam inverdades, mentiras deslavadas, da tal “verdade alternativa”, das meias-verdades, do cinismo, da hipocrisia, de distorções e manipulações de dados e informações, visando interesses sórdidos de pessoas e grupos que assaltam a nação sem nenhuma piedade com seu povo, tão deseducado para entender o quanto é manobrado, o quanto é incapaz de separar o joio do trigo.
Espero que um dia uma verdadeira “Comissão da Verdade” exponha para a nação o fiel retrato do que ocorreu e do que está ocorrendo.
FONTE: DEFESANET
Telmo Travassos de Azambuja
Capitão da Arma de Engenharia, da reserva não remunerada, graduado na AMAN em 1969
Currículo abaixo (*)
* Telmo Travassos de Azambuja
Capitão da Arma de Engenharia, da reserva não remunerada, graduado na AMAN em 1969
Guerreiro de Selva, No. GS 0418, em 1969
Pós-graduado na EsAO –Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais, em 1978
Engenheiro civil, graduado pela Universidade Católica de Pernambuco, em 1975
Pós-graduação, nível especialização, em engenharia de transportes pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1975
Cursos e estágios para especialização em gestão da qualidade no Japão, França, Espanha e Reino Unido
Supervisor Técnico Independente Nível III na área de engenharia civil e auditor líder na área de gestão da qualidade pelo Instituto Brasileiro da Qualidade Nuclear, de 1980 a 1988, com atuação na construção das usinas nucleares de Angra 1, 2 e 3 e na construção do submarino nuclear da Marinha do Brasil
Membro da Turma Jubileu de Prata, da AMAN
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NOTA
Lucas Pingret
necessitamos de achar um General com o DNA do Castelo Branco para a INTERVENÇÃO MILITAR e a caça a essa corja de vagabundos hoje completamente desmascarados, como corruptos, ladrões e comunistas ate o extermínio.
impor a Lei e ordem novamente no País
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