Além da formação presencial que acontece em Rondônia, no Centro de Formação Indígena da Kanindé, o Projeto SulAm Indígena promove ainda um conjunto de atividades práticas nas aldeias.
Na última sexta-feira, dia 17 de novembro, o Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) encerrou o Segundo Módulo da Formação de Agentes Ambientais Indígenas (AAIs) da calha Purus, no âmbito do Projeto SulAm Indígena. Apoiado pelo Fundo Amazônia/BNDES, o projeto conta com um processo formativo composto por seis módulos presenciais para representantes do povo Apurinã e três módulos presenciais para os representantes dos povos Kagwahiva.
Além da formação presencial que acontece em Rondônia, no Centro de Formação Indígena da Kanindé, o projeto promove ainda um conjunto de atividades práticas nas aldeias, entre elas excursões de vigilância indígena, mutirões agroflorestais, instalação de viveiros de mudas, monitoramento territorial, feira de sementes e levantamento do potencial produtivo e rotas de escoamento com o objetivo de criar estratégias de organização da produção indígena no Sul do Amazonas.
Os Agentes Ambientais Indígenas são atores importantes nesse processo, pois, além de mobilizadores, multiplicam saberes, ampliando o alcance das ações desenvolvidas nas comunidades.
“Durante o segundo módulo pudemos receber as respostas das comunidades que passam a reconhecer os esforços e tarefas dos Agentes Ambientais Indígenas, um indicativo que a estratégia do trabalho está dando certo e esses representantes, escolhidos por suas aldeias, estão envolvidos no desenvolvimento do projeto. É um processo interdisciplinar que visa conectar as ações e qualificar as pessoas envolvidas, de forma que fortaleça tanto as ações dentro das Terras Indígenas, quanto uma rede entre o povo Apurinã, que vive realidades diferentes de acordo com o processo histórico de ocupação territorial”, avalia Marina Villarinho, assessora do componente Purus e responsável pela formação.
Nesta etapa da formação, 42 agentes do povo Apurinã se reuniram para apresentar e discutir as atividades realizadas junto à comunidade após o primeiro módulo, que incluíram o repasse dos conteúdos trabalhados na formação, excursões de vigilância, apoio aos estudos do potencial produtivo, registros da cultura do povo Apurinã. Dentre esses registros estão canções, histórias míticas e relatos dos mais velhos sobre a luta para a demarcação de suas terras.
“Antes eu não dava muito valor à cultura dos meus pais, dos meus avós. Agora eu entendo que essa cultura também é minha e que existe uma luta muito maior que envolve nossos antepassados. Eu estou muito emocionada com esse entendimento que começa a clarear na minha cabeça, contado pelo tio Chico”, afirma Kelly Apurinã da TI Caititu, a respeito da aula sobre o histórico do movimento indígena ministrada pela liderança Chico Apurinã.
Os Agentes Ambientais representantes das Terras Indígenas Água Preta Inari, KM 124, Boca do Acre e Caittiu deram continuidade aos estudos de cartografia e uso de GPS junto ao consultor Igor Ferreira. Eles tiveram contato com experiências e saberes sobre agroecologia, levantaram problemas nos sistemas produtivos junto à consultora Bianca Lima, que está redigindo o estudo do potencial produtivo e rotas de escoamento de produtos florestais não madeireiros.
O grupo também aprendeu mais sobre a relação dos povos indígenas com o Estado Brasileiro e sobre a luta do movimento indígena, com o apoio de Chico Apurinã, liderança indígena da região e Luciene Pohl que trabalha há décadas junto ao movimento indígena nacional e regional.
“Eu não fazia ideia que os nossos parentes têm estrada cortando a Terra, que passam por esse preconceito das pessoas da cidade, que ficam sem água e sofrem com as queimadas dos fazendeiros”, afirmou Dilermano Apurinã, da TI Água Preta, a respeito das TI km 124 e Boca do Acre, que são cortadas pela BR 317 e aguardam a compensação dos impactos causados pelo empreendimento. “Eu também achava que não tinha muita coisa na minha Terra, mas depois dos exercícios em que levantamos tudo que plantamos, colhemos e produzimos, agora eu vejo quanta riqueza e variedade sai do nosso modo de vida, o quanto a gente contribui com o planeta ao viver bem com a floresta em pé”, disse.
O segundo módulo teve início dia 6 de novembro e foi encerrado no dia 17. O curso também contou com o apoio dos técnicos de campo Leandro Borges, Chris Lopes e Elaine Wanderley, que trabalham diretamente nas terras promovendo as ações de campo. Os AAI retornarão às suas terras junto aos técnicos com algumas ações planejadas, como reuniões de repasse para suas comunidades, mutirões agroflorestais, mapeamento dos castanhais, monitoramento da safra da castanha, monitoramento da desova de alguns peixes importantes, e apoio aos estudos sobre a produção indígena. O próximo módulo está programado para junho de 2018.
FONTE: IEB