Indígenas da etnia Munduruku divulgaram uma carta reclamando da construção da Usina Hidrelétrica São Manoel, entre Mato Grosso e Pará. Na carta, as lideranças alegam que os representantes da usina não cumpriram um acordo feito em julho deste ano com o povo indígena e dizem que querem negociar com “pessoas sérias”.
Por causa do clima de tensão e de suposta ameaça de invasão ao canteiro de obras, a Justiça determinou que a Força Nacional fizessem a segurança no local. Em cumprimento à decisão da Justiça Federal, equipes desembarcaram em Alta Floresta, a 800 km de Cuiabá, na semana passada.
Uma reunião entre os índios, representantes da Fundação Nacional do Índio (Funai) e da Usina São Manoel e Polícia Federal está prevista para acontecer nesta semana.
Na carta, divulgada no sábado (14) na página do Movimento Iperegayu, que defende os direitos do povo Munduruku, os indígenas cobram a suspensão da licença ambiental concedida pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) à usina.
“O ataque das hidrelétricas contra nossos locais sagrados não vai ficar assim. Não vamos sossegar até que o Ibama cancele a licença da hidrelétrica, até que as duas empresas peçam desculpas aos nossos antepassados e ao nosso povo e cumpram o combinado para a segunda visita às nossas urnas”, dizem, em documento.
A medida judicial, determinando reforço na segurança, também é criticada pelos indígenas, que alegam ter sido recebidos com bomba. “Quando chegamos, fomos recebidos com bomba, uma barreira da força nacional e um papel do juiz que nos impedia de entrar no nosso próprio território, que foi roubado pela usina. Estamos esperando justiça até hoje pela destruição de Dekoka’a e a justiça funciona para proteger a usina hidrelétrica e trata nós como criminosos”, argumentam.
Eles afirmam que estão no local sagrado para o povo indígena e que têm direito de permanecer na área onde está sendo construída a usina até que as reivindicações deles sejam atendidas.
Os indígenas cobram uma reunião entre as lideranças indígenas e representantes do governo federal e da usina hidrelétrica. “Queremos o presidente do Ibama, presidente da Funai (Fundação Nacional do Índio), presidente do Iphan (Instituto Nacional do Patrimônio Histórico) e diretor-presidente da Empresa de Energia São Manoel e diretor-presidente da Companhia Hidrelétrica Teles Pires para dialogar com a gente”, reivindicam.
Durante o acordo feito em julho para a não ocupação do canteiro de obras, os indígenas fizeram uma carta com as reivindicações deles, alegando impactos ambientais e prejuízos aos índios. Entre os pedidos feitos à Funai foi a emissão de um parecer desfavorável à licença de operação da Usina Hidrelétrica São Manoel.
Além disso, os índios pediram autorização para visitar as urnas funerárias, que teriam sido retiradas pelas usinas hidrelétricas, no local onde elas estiverem. Segundo a carta, a empresa não informou o local exato das urnas.
“Após a visita queremos que as urnas roubadas sejam levadas para uma terra que nenhum Pariwat (homem branco) tenha acesso. Essa devolução das urnas tem que ser acompanhada pelos pajés”, afirmou. Também cobraram um pedido formal de desculpas aos índigenas pela destruição dos lugares sagrados.
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