O fogo voltou a atingir parte da Terra Indígena Araribóia, no sudoeste do Maranhão. Localizada em uma área de transição do Cerrado para a Floresta Amazônica, extremamente vulnerável a incêndios, a reserva de 413 mil hectares vem registrando focos de incêndios quase diários ao longo dos últimos meses. Segundo a Fundação Nacional do Índio (Funai), cerca de 12 mil indígenas das etnias Guajajara e Awá-Guajá vivem na área, muitos em situação de isolamento voluntário.
Segundo o coordenador do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (PrevFogo), Gabriel Zacharias, as chamas dos últimos dias preocupam as autoridades ambientais, que já avaliam a necessidade de uma aeronave sobrevoar a área para se certificar da real dimensão do problema. O monitoramento por satélite dos focos de calor indica que algumas informações preliminares fornecidas ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama0 ou que correm boca a boca são exageradas.
“Faz dois ou três dias, a Terra Indígena Araribóia voltou a ter uma linha de fogo que os brigadistas já estão combatendo. Estamos com 40 pessoas na área, mas é importante esclarecer que, nos últimos meses, não houve um só momento em que não houvesse um incêndio florestal no interior da terra indígena”, disse Zacharias à Agência Brasil. “Os brigadistas estão combatendo a linha de fogo. Se a chuva demorar, ainda pode surgir outra linha que iremos combatendo até que as chuvas se normalizem e os incêndios cessem de vez.”
Embora ainda não saiba precisar o alcance da atual linha de fogo, o coordenador do PrevFogo ressaltou que, com a seca, de agosto até hoje, pelo menos 43 mil hectares de vegetação já foram destruídos pelas chamas. Um novo levantamento deve ser divulgado no começo da próxima semana, mas, segundo Zacharias, até o momento, não há indícios de que o fogo tenha impactado os grupos indígenas que vivem isolados. “Conseguimos manter o incêndio o mais afastado possível das áreas onde vivem, circulam e caçam.”
Apesar da dimensão do estrago na Terra Indígena Araribóia, Zacharias destacou que, mesmo 2017 sendo um ano atípico, extremamente seco e de estiagem prolongada, a área afetada por incêndios é inferior às registradas nos dois anos anteriores. Em 2016, foram queimados quase 130 mil hectares. Em 2015, quando ocorreu um dos piores incêndios nesta terra indígena, as chamas queimaram cerca de 250 mil hectares, ou seja, mais da metade da unidade. Além disso, acrescentou Zacharias, este ano, os órgãos de fiscalização têm conseguido evitar a ação criminosa de não índios.
De acordo com o coordenador do PrevFogo, parte dos incêndios no interior da terra indígena é provocada por ações dos próprios índios. “O Ibama faz um trabalho para conscientizar os índios sobre a importância de evitar o uso do fogo [na agricultura]. Ou, se o usarem, que o façam de forma controlada, construindo aceiros [faixa livre de vegetação, onde o solo fica descoberto]”, explicou Zacharias. Ele disse que, além de ajudarem voluntariamente a fiscalizar o extenso território, há, entre os índios, guajajaras contratados como brigadistas, para combater o fogo. Além disso, lembrou Zacharias, as leis brasileiras permitem aos índios atear fogo em suas roças e que, muitas vezes, o emprego do fogo no plantio está ligado a tradições culturais.
“É importante destacar que os índios do país inteiro estavam acostumados a um ambiente em que o fogo se extinguia na própria floresta. As mudanças climáticas e a perda de vegetação vêm interferindo no controle que os povos tinham sobre essa prática. Talvez, isso os obrigue a rever tal forma de agir, mas é algo complexo, pois, entre determinados povos, o uso do fogo é um padrão cultural, muitas vezes associado a práticas religiosas ou elementos culturais”, destacou Zacharias.
Indígenas
A Agência Brasil não conseguiu fazer contato com líderes indígenas locais, como Fred Guajajara.
Na Europa, onde participa de vários eventos para denunciar o que classifica de “violações aos direitos humanos dos povos originários brasileiros”, a líder Sônia Guajajara usou as redes sociais para cobrar proteção do Poder Público. “Este é o terceiro ano consecutivo que o incêndio devora nossa terra, nossas matas. Como não continuar cobrando, denunciando e exigindo a proteção e o respeito à nossa Terra?”, escreveu Sônia, contrariando o coordenador do Ibama, ao alegar que o fogo é causado por pressão do agronegócio, já que a terra indígena é cercada por áreas de plantio de larga escala.
Alex Rodrigues – Repórter da Agência Brasil
FONTE: EBC/AGÊNCIA bRASIL
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