Manejo da planta, de cujas folhas se extrai a pilocarpina, princípio ativo do colírio para glaucoma, maior causa de cegueira do mundo, garante o sustento de muitas famílias na floresta nacional, no Pará.
É do jaborandi (Pilocarpus microphyllus), espécie existente na Floresta Nacional (Flona) de Carajás, administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), no Pará, que se extrai os sais de pilocarpina, importante componente de fórmulas usadas no tratamento do glaucoma, maior causa de cegueira do mundo.
Para transformar essas folhas em uso medicinal, 47 pessoas da Cooperativa Coex-Carajás passam o dia dentro da floresta colhendo, secando e ensacando as folhas do jaborandi. O trabalho é executado durante seis meses no ano – começa em julho e acaba em dezembro. Anulmente, são colhidas de 40 a 50 toneladas de folhas do jaborandi.
Tudo é vendido para o Grupo Centroflora, no Piauí, empresa que trabalha com a comercialização e o desenvolvimento de extratos vegetais. É das folhas que o Centroflora extrai os sais de pilocarpina e vende a substância para o laboratório farmacêutico Boehringer Ingelheim, na Alemanha, que produz o colírio para o tratamento do glaucoma.
E o melhor: tudo é feito com manejo sustentável para que todos os anos os extrativistas possam continuar a gerar o sustento de suas famílias e da mesma forma conservar o recurso natural, importante tanto para o consumo da sociedade quanto para o equilíbrio ecossistêmico das áreas naturais.
Ganhos financeiros
A atividade propicia renda para famílias que vivem no entorno da Flona de Carajás e que, devido às poucas oportunidades de trabalho na região, têm o seu sustento oriundo da floresta em pé. Os ganhos financeiros pelos seis meses de trabalho, período de coleta, ficam entre R$ 18 mil a R$ 20 mil por cooperado, conta o presidente do Cooperativa Coex-Carajás, Gilson Moraes Lima.
Esse é um bom exemplo de projeto que une o uso das riquezas naturais à geração de renda de forma sustentável e com inclusão social e produtiva de famílias beneficiárias ou usuárias de unidades de conservação.
“A cooperativa avança todos os anos, colhemos cada vez mais e tudo isso com manejo sustentável do jaborandi”, ressalta Lima, que é filho de cooperado e conhece bem a luta dos folheiros de jaborandi, como são chamados na região.
Depois dos seis meses, alguns trabalhadores ficam sem atividade, mas outros colhem sementes nativas para a mineradora Vale, mantendo algum rendimento mensal. Das sementes nascem mudas que ajudam no repovoamento da espécie no interior da própria unidade de conservação.
Segundo o Coordenador de Produção e Uso Sustentável do ICMBio, João da Mata Nunes Rocha, o uso sustentável de recursos naturais gera alternativas de renda e também promove a conservação da sociobiodiversidade. “Há uma mudança de comportamento, pois as pessoas passam a cuidar da área, sendo o controle social uma importante ferramenta que intimida a ocorrência de atividades ilegais e que causam degradação ambiental”, argumenta ele.
Segundo o chefe da Floresta Nacional de Carajás, Marcel Regis Moreira da Costa Machado, a experiência de extração das folhas de jaborandi mostra que a unidade de conservação pode conciliar os interesses econômicos com a conservação ambiental. “Isso permite diversos usos dos recursos naturais existentes na unidade e beneficia diversos grupos sociais da região”, diz Machado.
Ainda segundo ele, essa experiência é fruto de diversas parcerias, como por exemplo, com a Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), que vem colaborando com estudos e pesquisas para otimizar e melhorar esse processo produtivo no interior da unidade.
História
A colheita do jaborandi em Carajás tem história. A planta já esteve na lista de espécies ameaçadas de extinção. Tudo por conta da forma de coleta e das condições de trabalho. A retirada das folhas se dava de forma clandestina, indiscriminada e de maneira errada. A planta era arrancada sem critérios técnicos e de boas práticas de produção.
Além disso, os folheiros acampavam dentro da floresta para fazer a colheita em condições precárias e ilegais, vendiam as folhas para atravessadores e obtinham pouco retorno financeiro com o pesado esforço realizado.
A partir do ano de 2000, o governo federal começou a apoiar a organização social dos extrativistas. Com isso, eles foram se articulando e, assim, nasceu a cooperativa, acabando com os atravessadores. Os trabalhadores passaram, então, a vender diretamente para a empresa Centroflora, que banca as despesas com proteção individual, ferramentas para a atividade e alimentação dos folheiros em campo.
Os extrativistas também aprenderam o uso sustentável do jaborandi, através do manejo, ou seja, podam a planta com equipamentos apropriados e realizam a coleta seletiva das folhas. A planta do jaborandi é um dos símbolos do debate entre conservação ambiental e exploração mineral na região, pois sua ocorrência se dá principalmente em locais de alto interesse de exploração mineral no interior da Flona.
A Flona de Carajás
A Floresta Nacional de Carajás abriga o maior projeto de mineração do Brasil onde são diariamente exploradas toneladas de ferro, manganês, granito e cobre. A região é conhecida pela grande riqueza mineral que, na década de 80, atraiu muitas pessoas.
No interior da Flona, são realizadas ações de pesquisa científica, conservação, visitação e proteção, destacando-se as pesquisas envolvendo o gavião-real, a arara-azul grande e as atividades de observação de aves.
A Flona Carajás é uma das mais diversificadas e ricas da Amazônia. O local apresenta múltiplos interesses ambientais, extrativismo vegetal e mineral. A unidade foi criada por decreto presidencial em 2 de fevereiro de 1998 com uma área total de aproximadamente 350 mil hectares (o novo tamanho se dá pela criação do Parque Nacional Campos Ferruginosos), abrangendo os municípios de Parauapebas, Canaã dos Carajás, Água Azul do Norte, no Pará.
Carla Oliveira
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Comunicação ICMBio
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