Pioneiro na utilização do termo ‘biodiversidade’, professor americano veio ao Rio debater caminhos para o investimento em infraestrutura sustentável, na FGV.
“Sou formado em Biologia pela Universidade de Yale. Em 1965, fui à Amazônia pela primeira vez. Sou um dos fundadores de projeto que investiga os efeitos do desmatamento na fauna e na flora. Sou especialista em assuntos ligados à natureza brasileira, professor e membro sênior da Fundação das Nações Unidas (UNF).”
Conte algo que não sei
Milhares de pessoas no mundo vivem bem graças a uma substância encontrada no veneno da jararaca, capaz de derrubar a pressão do sangue até zero permanentemente, podendo levar inclusive à morte. Cientistas do Instituto Butantan, em São Paulo, estudaram como isso funciona e descobriram que esse mesmo veneno pode ser utilizado em um novo medicamento para o tratamento da hipertensão. O remédio atua no sistema nervoso central, reduzindo a pressão arterial e a frequência cardíaca ao mesmo tempo. Isso significa, acima de tudo, que a Amazônia tem uma biodiversidade fantástica e é a maior biblioteca do mundo. Cada espécie é como um livro de soluções para algumas doenças.
Qual é a chave para conservar a Floresta Amazônica?
Manter mais de 80% da cobertura florestal, proteger o seu ciclo hidrológico para que continue sendo uma floresta com índices de pluviosidade suficientes para atender as regiões agrícolas de Mato Grosso, São Paulo e Argentina, e fomentar oportunidades sustentáveis para a população local. É possível que isso inclua criar cidades sustentáveis na Amazônia — como Manaus, por exemplo. Então,acredito que o futuro das cidades seja a chave para a Amazônia inteira. Pensar nessa região como um todo requer considerar as cidades também.
O senhor é considerado o padrinho da biodiversidade?
Fui o primeiro a usar o termo “diversidade biológica”, ainda nos anos 1980. A comunidade científica discutia sobre a variedade de seres vivos na natureza, mas não tínhamos esse termo definido. Na época, ninguém prestou atenção em quem foi o primeiro, só depois as pessoas perceberam de fato.
Muitas pessoas relacionam a sustentabilidade apenas com a natureza, sem considerar um meio ambiente integrado. Como o senhor avalia essa questão?
A sustentabilidade tem vários elementos, não é apenas uma unidade. Existem os elementos sociais, ambientais e também os econômicos. Para algo ser sustentável, é preciso juntar todos esses componentes. Se você proteger só o meio ambiente, sem pensar no lado social, as pessoas e a economia vão ser prejudicadas. Se proteger apenas o elemento econômico, saem prejudicados as pessoas e o meio ambiente. É importante administrar o meio ambiente, as atividades humanas e a economia como um sistema, por meio de planos integrados.
Qual é a visão dos estrangeiros sobre a Amazônia?
A maioria deles nunca vai ter a oportunidade de visitar a Amazônia. Os estrangeiros só conhecem essa região por meio de televisão, livros, etc. No entanto, acham que é um lugar maravilhoso, misterioso, fascinante e, talvez, perigoso. Alguns compreendem que a floresta é importante para o ciclo de carbono do planeta e para o ciclo hidrológico.
E qual é a maior diferença entre essa perspectiva externa e a visão dos brasileiros?
O mais interessante é que há uma opinião pública muito forte lá fora sobre a importância de preservar a Amazônia. É uma grande floresta, reconhecida no cenário mundial, mas muitos brasileiros não sabem disso. Mesas de discussão e congressos sobre sustentabilidade são essenciais. Viajei mais uma vez ao Brasil porque mantenho interesse muito grande pela infraestrutura sustentável que, acima de tudo, respeita o meio ambiente.
Fonte: O Globo
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