Atos reuniram mais de dez mil participantes em Belém no último domingo. O objetivo foi alertar a população sobre a grave crise vivida pelas universidades públicas e pelos institutos de pesquisa.
A capital do Pará teve um domingo dedicado à defesa da ciência e educação, severamente afetadas pelas politicas governamentais de cortes orçamentários que vêm sucateando institutos, laboratórios, universidades e colocando em risco o desenvolvimento do País inteiro. As manifestações começaram pela manhã, no Parque Zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém, para o “Abração”, ato de apoio ao Museu, que, por falta de verbas, corre o risco de encerrar atividades no Parque Zoobotânico e na Estação Científica Ferreira Penna, na floresta de Caxiuanã. Logo depois, na Praça da República, também em Belém do Pará, foi realizado o ato cultural “Educação e Ciência para um Brasil Soberano e Inclusivo – Em Defesa das Universidades Públicas e dos Institutos de Pesquisa”. Juntas, as duas manifestações tiveram mais de dez mil participantes.
“O Abração no Museu Goeldi, resultado de um movimento voluntário organizado pelos artistas e intelectuais de Belém e de todo o Pará, foi uma festa comovente e mais um marco histórico na instituição”, declarou o diretor do Museu, Nilson Gabas Jr.
O Museu foi fundado em 1866 e há mais de 150 anos dedica-se a estudar os sistemas naturais e socioculturais da Amazônia, bem como a divulgar conhecimentos e acervos relacionados à região. No início do mês, a instituição lançou um alerta nacional de que poderia fechar as portas devido aos cortes no orçamento em 2017. Vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, Inovação e Comunicações (MCTIC), o Museu também foi severamente afetado pelo contingenciamento da Pasta que congelou 44% do orçamento previsto para o ano. Após semanas de protestos, o governo federal anunciou, no dia 13 de setembro, a liberação de R$3 milhões, garantindo o funcionamento de suas três bases físicas até o final de 2017. Porém, conforme ressalta Gabas Jr., o cenário para 2018 permanece preocupante.
“Como tenho dito, apesar de termos conseguido recuperar parte do orçamento de 2017, o PLOA de 2018 prevê uma diminuição de mais de cinco milhões reais em nosso próximo orçamento, e as manifestações de domingo valeram não apenas para celebrar o que já conseguimos recuperar, mas para protestar e recuperarmos o que nos é devido em 2018″, disse.
A manifestação seguinte, na Praça da República, foi coordenada pelo reitor da Universidade Federal do Pará (UFPA) e presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior no Brasil (Andifes), Emmanuel Tourinho. Segundo ele, o ato teve como objetivo informar a população sobre a grave crise vivida pelas universidades públicas e pelos institutos de pesquisa, responsáveis pela formação de recursos humanos e pela produção de conhecimento para o desenvolvimento econômico e social do País, além de vários serviços prestados à sociedade.
“Não são apenas as próprias instituições que estão em risco. É o futuro da nação que está em jogo. Sem um sistema público forte e qualificado de ensino superior e de pesquisa científica e tecnológica, será cada vez mais difícil gerar renda para a população vencer a desigualdade e tornar o Brasil uma nação soberana, com autonomia para tomar as suas próprias decisões”, declarou Tourinho.
Além da UFPA e da Andifes, colaboraram com a realização do evento a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a União Nacional dos Estudantes (UNE), a Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), o Instituto Federal do Pará (IFPA), o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), o Diretório Central dos Estudantes da UFPA (DCE/UFPA), a Associação dos Docentes da UFPA (ADUFPA), o Sindicato dos Professores e Professoras das IFES do Pará (SINDPROIFES/PA) e o Sindicato dos Trabalhadores das Instituições Federais de Ensino Superior no Estado do Pará (SINDTIFES).
Tourinho conta que as manifestações foram uma oportunidade de conscientizar a população sobre a situação crítica da ciência, tecnologia e educação no Brasil. A programação do evento incluiu apresentações de diversos grupos de música e teatro da UFPA. Entre as apresentações, os representantes das entidades que organizaram o ato falavam aos participantes sobre as preocupações com a situação dos institutos de pesquisa, severamente afetados pelos cortes orçamentários do governo.
“Se não forem cumpridos os orçamentos, isso cria dificuldades para a gestão das instituições. O alerta nosso é que, sem a liberação do orçamento, não teremos como fechar o ano e entraremos 2018 com um orçamento que já é reduzido, por consequência da Emenda do teto de gastos. Todas as instituições de CT&I no País já sentem fortemente os efeitos dos cortes. E ano que vem deverá ser ainda pior”, alerta Torurinho.
Daniela Klebis – Jornal da Ciência
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