Na edição recém-publicada do Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Naturais, cientistas brasileiros e estrangeiros se dedicaram ao impacto das mudanças climáticas e as ameaças ao ecossistema amazônico. 

 Cerca de 30 especialistas assinam o dossiê temático da mais nova edição do Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Naturais. Com o tema “Interações bióticas e abióticas no nordeste paraense”, a publicação reúne contribuições de pesquisadores brasileiros e estrangeiros que fazem parte de dois projetos essenciais para a compreensão dos aspectos ambientais da região: o Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera da Amazônia (LBA) e o Experimento de Seca na Floresta Amazônica (ESECAFLOR). Os editores responsáveis por esta edição foram os pesquisadores Maria de Lourdes Pinheiro Ruivoe Rogério Rosa da Silva, ambos do Museu Paraense Emílio Goeldi. 

O editor científico do Boletim, Dr. Fernando Carvalho Filho, ressalta a importância de estudos que alertem para os riscos que o equilíbrio do ecossistema amazônico corre diante das alterações no clima. “Os seres vivos estão intimamente integrados com a parte abiótica do planeta e, por isso, alguns cientistas, defensores da Teoria da Gaia, acreditam que a Terra é, na verdade, um grande ser vivo. Verdade ou não, isso demonstra o quanto os seres, do micróbio até as imensas árvores centenárias, dependem uns dos outros e de condições climáticas e físicas adequadas para garantir a perpetuação de seus materiais genéticos. Apesar disso, alguns governos relutam em aceitar que o planeta esteja passando por mudanças climáticas drásticas e que estas mudanças interferem nos fatores abióticos e bióticos”, afirma o editor.

Os estudos – As circulações de brisas marítimas e terrestres e o seu papel na precipitação no litoral paraense são investigados no artigo “Variabilidade atmosférica da precipitação associada com as circulações de brisas marítimas e terrestres no nordeste do estado do Pará, Brasil”. O trabalho verificou que as circulações de brisas são mais intensas durante o período chuvoso, no mês de março, em relação ao período menos chuvoso, no mês de agosto. A precipitação local observada, que pode estar relacionada com a brisa marítima, apresentou maior frequência durante o final da tarde e o início da noite.

As oscilações do clima ao longo do estuário do rio Marapanim, localizado na costa nordeste do Pará, foram tema de outro artigo publicado nesta edição. Intitulado “Modificações nas propriedades físico-químicas de sedimentos de manguezais submetidos ao clima amazônico”, o trabalho fez a descrição da contínua e progressiva maturação dos sedimentos de manguezal distribuídos nessa região, baseada nas propriedades físico-químicas desses sedimentos.

As mudanças globais, de origens naturais ou consequências da ação humana, impactaram negativamente no equilíbrio da biosfera a partir de estudo realizado no Experimento de Seca na Floresta. Esse é o assunto discutido no artigo “Variação sazonal dos atributos químicos de Latossolos em uma área submetida ao estresse hídrico na Amazônia”. O estudo foi desenvolvido nas áreas do projeto ESECAFLOR e do Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio), ambas localizadas na Floresta Nacional de Caxiuanã (PA).

O experimento que sustenta o artigo “Influência do estresse hídrico sobre a decomposição da serapilheira em floresta amazônica de terra firme” também foi realizado na Flona de Caxiuanã. Neste caso, o propósito do trabalho foi verificar as consequências da seca artificial para o desenvolvimento desse tipo de vegetação.

A mesma área serviu de análise para o artigo “Variabilidade mensal e horária de elementos meteorológicos na área experimental do Projeto Esecaflor na Floresta Nacional de Caxiuanã, Pará, Brasil”. Na pesquisa, seis elementos meteorológicos foram analisados: precipitação, temperatura e umidade relativa do ar, radiação solar e direção do vento. O estudo destaca as florestas tropicais como reguladoras do clima e considera o padrão de variabilidade dos elementos meteorológicos representa uma interdependência entre os fluxos térmicos e hídricos para a floresta e a atmosfera.

O trabalho “Impacts of experimental drought on community structure and floristic composition of tree saplings in a lowland tropical rainforest in Eastern Amazonia” busca comparar a florística e a estrutura de plantas entre a parcela experimental e a parcela controle do projeto ESECAFLOR, ressaltando as consequências negativas diante da seca provocada no experimento. Nesta edição do Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Naturais participaram pesquisadores do Museu Goeldi, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPA), da Universidade Federal do Pará (UFPA), da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) e do Institut National de la Recherche Agronomique (França).

Programa LBA – O Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera da Amazônia (LBA) busca estudar o funcionamento e a interação entre todos os componentes do ecossistema amazônico, seja em áreas de terra firme ou costeiras. A primeira fase do programa foi implantada em 1999 e, atualmente, o projeto é vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).

ESECAFLOR – Desde 2010, o Experimento de Seca na Floresta é um dos sítios de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (PELD) apoiada pelo CNPq. Voltado para o estudo do impacto da seca artificial sobre o funcionamento da floresta primária, o foco está na pesquisa das consequências da seca nos processos físicos e no conjunto dos seres vivos locais. O experimento abrange dois hectares da Estação Científica Ferreira Penna do Museu Goeldi na Floresta Nacional de Caxiuanã, onde um deles é recoberto com seis mil painéis de plástico, que reduzem 50% da precipitação no solo. As duas áreas controladas (uma com e outra sem cobertura artificial) criam as condições para o desenvolvimento da pesquisa.

O Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Naturais é uma publicação é quadrimestral. Clique neste hiperlink para acessar a versão completa.

Texto: Erika Morhy. 

Agência Museu Goeldi