O ex-presidente americano quase morreu na expedição que em 1914 colocou no mapa um afluente do Aripuanã.
O plano original era navegar pelo rio Amazonas e coletar espécimes para o Museu Americano de História Natural. Depois de ocupar a Casa Branca por oito anos e perder uma eleição para o democrata Woodrow Wilson, o republicano Theodore (Teddy) Roosevelt não resistiu ao desafio de explorar o curso de um rio desconhecido da Amazônia.
Roosevelt gostava de se aventurar. Na virada do século XIX, saíra com fama de herói da guerra de Cuba contra a Espanha, durante a qual comandou os Rough Riders, um corpo voluntário de cavalaria. Mais tarde, ajudou a desbravar o Dakota do Norte, onde caçava búfalos. Para completar, já tinha participado de um safari de três meses na África.
Estava com 55 anos quando mudou seus planos de viagem para o Brasil, em resposta ao convite do governo para que ele acompanhasse o então coronel Cândido Rondon em uma expedição pela Amazônia. Em uma incursão anterior, para instalar o telégrafo no noroeste do Brasil, o militar e sertanista havia descoberto um rio e era preciso explorá-lo.
O rio da Dúvida, como foi chamado, nascia em Rondônia, mas ninguém sabia o percurso que seguia nem muito menos onde desaguava. Em dezembro de 1913, um grupo de 22 homens comandados por Roosevelt e Rondon começou a expedição, na região de Cárceres, no Mato Grosso. Foram mais de dois meses para alcançar a nascente do rio.
“Em 27 de fevereiro de 1914, pouco depois do meio-dia, começamos a descer o rio da Dúvida, rumo ao desconhecido. Estávamos bastante incertos se, depois de uma semana, nos encontraríamos no Gy-Paraná, ou se depois de seis semanas chegaríamos ao Madeira, ou se depois de três meses alcançaríamos não sabíamos onde”, escreveu Roosevelt. “Por isso, o rio tinha sido batizado como Dúvida.”
Além de incertos sobre a trajetória, eles estavam desnutridos e enfraquecidos por doenças tropicais, como a malária. Se nas semanas anteriores tinham se embrenhado na mata para caçar onça-pintada, pelo mero prazer da captura, naquele momento abatiam macaco para comer. Como se não bastasse, o rio revelou-se pontuado por perigosas corredeiras.
Sobravam problemas. O embate com índios mais tarde conhecidos como Cinta Larga só não aconteceu graças a Rondon e sua experiência com povos isolados. Três homens do grupo morreram. Um deles afogou-se durante a travessia de uma corredeira. Outro foi morto por um colega de expedição, que acabou abandonado à própria sorte na selva.
Roosevelt também esteve à beira da morte. Durante dias, tremeu e delirou da febre provocada por uma infecção na perna, cortada em uma pedra. Chegou a pedir ao filho, Kermit, e ao naturalista George Cherrie, que o deixassem para trás e seguissem viagem. Depois, socorridos por seringueiros, eles conseguiram concluir a expedição.
Descobriram que o rio da Dúvida era um afluente do Aripuanã, cuja foz fica na margem direita do rio Madeira, no Amazonas. Ao final da expedição, o rio, que tem 679 quilômetros de extensão, recebeu o nome de Roosevelt. É assim que está grafado nos mapas. As pessoas que vivem às suas margens preferiram abrasileirar: chamam de rio Teodoro.
Repórter Especial da Brasileiros, é jornalista e mestre em História pela USP. Ganhou um prêmio Esso por uma série de reportagens sobre o impacto da ditadura na vida de crianças e adolescentes
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http://brasileiros.com.br/2017/08/como-teddy-roosevelt-virou-nome-de-rio-na-amazonia/
http://topnews.com.br/noticias_ver.php?id=51710
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