O Cerrado teve, em 2015, uma taxa de desmatamento 52% superior à detectada na Amazônia. O bioma de árvores baixas e retorcidas, onde nascem alguns dos principais rios do País, perdeu naquele ano 9.483 km2, ou seis vezes a área da cidade de São Paulo, contra 6.207 km2 na Amazônia no mesmo período.
O dado oficial do governo federal, que foi divulgado nesta semana no site do Ministério do Meio Ambiente sem alarde, é o primeiro do monitoramento do bioma que começou a ser feito no ano passado e que, assim como ocorre com a Amazônia, será anual. Ainda não há uma série histórica completa, mas o levantamento indica uma queda nos últimos anos, em especial em relação a 2009, quando a perda foi de 10.342 km2.
A data é uma referência importante porque foi o ano em que o governo estabeleceu a Política Nacional de Mudança do Clima, que trouxe como uma de suas metas que até 2020 o desmatamento do Cerrado deveria ser da ordem de 9.421 km2. Essa mesma política estima que a perda da Amazônia tem de ser de 3.925 km2. Questionado pelo Estado, o Ministério do Meio Ambiente considerou que o número de 2015 do Cerrado é bom, pois indica que “estamos próximos de cumprir com a meta prevista na política”.
Ambientalistas, porém, questionaram a boa notícia ao pontuarem que a meta considerou como aceitável uma perda anual de cerca de 1% dos remanescentes do bioma. Além disso, dizem, ela foi feita tendo como base uma estimativa de que, nos anos anteriores, havia ocorrido uma perda média de 15,7 mil km2 por ano entre 1994 e 2008. Foi, então, estabelecida a redução de 50% até 2020, mas já em 2009, como revelam os dados agora, a taxa já era menor.
O levantamento também traz detalhes das perdas no período de 2013 a 2015, mostrando que as mais pronunciadas ocorreram na região de expansão da fronteira agrícola conhecida como Matopiba, que engloba os Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
Por meio de nota, o Ministério do Meio Ambiente disse que “os dados não permitem estabelecer nenhuma relação entre a redução do desmatamento na Amazônia e a expansão agrícola no Cerrado” e disse que governo dará prosseguimento à implementação do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e Queimadas no Cerrado (PPCerrado).
Menos protegido – A reportagem também ouviu ex-ministra Izabella Teixeira, que estava à frente da pasta até o ano passado. Ela disse que foi na gestão dela que o processo de monitoramento começou e lembrou que o bioma permite uma supressão de vegetação maior que a Amazônia, com Reserva Legal obrigatória de apenas 20%. Mas disse que é preciso “avaliar com clareza a dinâmica do desmatamento e novas medidas que podem assegurar mais proteção”.
* Publicado em: Estadão
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