Guia inédito de identificação e distribuição de quelônios auxilia em ações de conservação

De fácil manuseio, o livro foi pensado não só para os alunos de pós-graduação e pesquisadores, mas também para gestores de parques, leigos e pessoas que se interessam por quelônios.  A obra contou com o financiamento da Fundação Betty & Gordon Moore.

Um guia completo e inédito que contém mapas de identificação de 18 espécies de quelônios encontrados na Amazônia, além de uma prancha com fotos de ovos em tamanho real. Assim é o livro “Quelônios Amazônicos: guia de identificação e distribuição” lançado na última quinta-feira (3) no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC) em parceria com a Organização Não-Governamental Wildlife Conservation Society (WCS Brasil).

“É a primeira vez no mundo que um guia traz como diferencial fotos de ovos de tartarugas em tamanho real, além dos mapas de distribuição das espécies, num resultado do esforço das doutoras Camilas e da mestranda Thais”, disse o pesquisador Richard Vogt, um dos autores do livro, que traz informações atualizados sobre taxonomia (identificação), biologia, ecologia, ameaças e distribuição das espécies de quelônios da Amazônia.

A ideia de produzir o livro surgiu em 2013, a partir do doutorado de Camila Fagundes, doutora em Biologia de Água Doce pelo Inpa, que trabalhou com as áreas de distribuição e adequabilidade das espécies. O livro também compila trabalhos de Camila Ferrara (doutora em Biologia de Agua Doce pelo Inpa), que atua com a comunicação entre os quelônios, juntamente com o pesquisador Richard Vogt, um dos maiores especialistas em conservação e ecologia de tartarugas de água doce, além de Thais Morcatty (mestranda em Ecologia pelo Inpa), que atua na avaliação dos impactos e da sustentabilidade da atividade de caça e do comércio de quelônios amazônicos.

Segundo Fagundes, o livro traz informações sobre os quelônios na Amazônia para auxiliar nas ações de conservação, já que a Amazônia é um dos lugares de maior diversidade desse grupo e também um dos vertebrados mais ameaçado no mundo. “Não podemos desenvolver ações de conservação se não temos conhecimento da nossa fauna. O nosso intuito é colaborar com esse conhecimento”, disse.

O livro contou com o financiamento da Fundação Betty & Gordon Moore e teve a tiragem inicial de 1.000 exemplares. Os interessados em adquiri-los que podem fazê-lo na Editora Inpa (na sede do Inpa, no Campus I, situado na rua Bem-te-vi, s/nº – Petrópolis) ou ainda na sede WCS Brasil, que fica no Mini campus da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), no bloco H.

Na opinião do diretor da WCS Brasil, Carlos Durigan, a grande importância de publicações entre os pesquisadores é divulgar conhecimento. Ele explica que a WCS Brasil tem um programa para conservação de quelônios e por meio desse programa foi feita a parceria com o Inpa e com o pesquisador Vogt para desenvolver o guia com informações atualizadas das espécies amazônicas. “Será uma ajuda para os grupos de interesse para conservação, e esperamos utilizar essas informações para sensibilizar as pessoas para a necessidade de conservação dessas espécies”, destacou.

Para o professor da Ufam, Paulo Andrade, coordenador do projeto Pé-de-Pincha, esse é um guia que há muito tempo se esperava no meio acadêmico. “Tínhamos guia sobre quelônios de outros países próximos, mas para a Amazônia brasileira esse é um guia completo e o primeiro que vem com mapas de identificação. Ele é uma guia com uma linguagem simples que veio preencher uma lacuna que existia para identificação desses animais”, disse.

De acordo com Camila Ferrara, uma das autoras, é um livro fácil de ser manuseado, e foi pensado não só para os alunos de pós-graduação e pesquisadores, mas também para gestores de parques, leigos e pessoas que se interessam por quelônios. “É um livro de tamanho menor, tem uma linguagem simples e com a chave taxonômica que ajuda a entender e descobrir a espécie”, disse.

Pesquisas recentes

As pesquisas do Inpa têm descoberto que pelo menos uma espécie de quelônio da Amazônia, a tartaruga-da-amazônia, se comunica através do som com outros indivíduos da espécie tanto dentro e fora da água e apresenta 11 tipos de sons no repertório vocal com frequência variando entre 36,4 e 4.000 hertz. Isso significa que é um som audível ao ouvido humano. O ser humano ouve entre 20 a 20.000 mil hertz.

O estudo com telemetria acústica demonstra que filhotes de tartaruga-da-amazônia seguem os adultos após o nascimento para áreas de alimentação como uma estratégia de cuidado parental e a comunicação teria grande importância nesse processo. Além disso, análises mostraram que o sistema atual de Áreas Protegidas da Amazônia brasileira possui notáveis lacunas na proteção de quelônios de água doce.

Já a WCS tem realizado monitoramento das populações de quelônios de principalmente duas espécies (irapuca e tracajá) em três Unidades de Conservação do Mosaico do Baixo Rio Negro (Parque Nacional do Jaú, Parque Rio Negro Setor Norte e Reserva Extrativista do Rio Unini), e da tartaruga-da-amazônia na Reserva Biológica do Abufari com o a finalidade de avaliar o estado de conservação dessas populações.

“Os resultados preliminares mostram que em áreas do Mosaico do Baixo Rio Negro há baixa porcentagem de indivíduos jovens que alcançam a idade adulta e poucas fêmeas reprodutoras. Em populações de quelônios, a mortalidade de filhotes é naturalmente alta, entretanto, estamos iniciando trabalhos para tentar identificar se o consumo de quelônios estaria diminuindo a quantidade de jovens que se tornam maduros e o número de fêmeas reprodutoras, já que estas são preferencialmente consumidas devido ao maior tamanho”, contou Fagundes.

Fonte: Inpa

(PDF) Quelônios Amazônicos: Guia de identificação e distribuição (researchgate.net)

VER MAIS EM: http://amazonia.org.br/ – (disponível em: agosto 2017)