A euforia observada sempre que o desmatamento na Amazônia dá sinais de recuo esconde um problema crônico que, no médio e longo prazo, está longe de ser resolvido. Nos últimos cinco anos, a taxa anual teima em permanecer ao redor dos 5 mil km2. Segundo os dados oficiais do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), reduções expressivas abaixo deste valor parecem longe de acontecer. Sob esta óptica, o dado de 21% de queda no desmatamento na Amazônia Legal de agosto de 2016 a julho de 2017, anunciado no último boletim do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), deve ser visto com cautela. 

Variações cíclicas de aumento ou recuo do desmatamento na Amazônia, de acordo com o patamar histórico, representam somente uma coisa: acabar com a Amazônia em uma velocidade menor. “A notícia é boa, mas a euforia não pode sobrepujar a realidade: a floresta continua sendo destruída”, afirma o pesquisador sênior do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), Paulo Moutinho.

Prova disso é que mais de 20% do desmatamento registrado pelo Imazon ocorreu em unidades de conservação, dado que consolida uma tendência preocupante – no ano passado, segundo dado oficial, o desmatamento registrado em UCs foi de 12%.

Para interromper esse ciclo, é preciso novas investidas do governo na proteção da floresta, e incentivos para o uso sustentável de recursos, além do reconhecimento por parte de todos de que a floresta presta um serviço inestimável aos brasileiros.É ela, por exemplo, que mantém o serviço de irrigação gigante do agronegócio da região.

No entanto, a posição de governantes aponta para a direção oposta. Nesta quarta (23), o governo federal anunciou por decreto a extinção da Reserva Nacional do Cobre e Associados (Renca), uma área com mais de 4 milhões de hectares, que fica na divisa entre o Sul e Sudoeste do Amapá com o Noroeste do Pará. A área, extremamente preservada, passará a ser explorada para a extração de ouro e outros metais, impactando diretamente na floresta, em terras indígenas e unidades de conservação.

“Este cenário de descaso com áreas sob proteção é alimentado por outros atos oficiais, como a legalização da grilagem de terras públicas via MP’s. Algo que parece incentivar o crime sob anuência do Estado. A velocidade de destruição da floresta foi reduzida. É fato. Mas, é real e grave”, reforça Moutinho.

Queda também esconde armadilhas

Os dados do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon mostram ainda que, levando em conta a alta cobertura de nuvens que impediram o monitoramento de 5% da área, especialmente em Roraima e Amapá, os dados de desmatamento e degradação florestal de julho de 2017 podem estar subestimados.

“É cedo para falar em retomada da queda do desmatamento”, afirma o pesquisador do Imazon e coordenador do SAD, Antônio Victor Fonseca, ao Observatório do Clima. Embora seja a primeira desaceleração registrada pelo SAD em cinco anos, ela ainda é insuficiente para compensar a elevação de 62% em 2015 e de 7% em 2016. “Em 2016 tivemos a maior área estimada pelo SAD em seus oito anos de monitoramento”, disse o pesquisador. O pico foi de 9.481 km2 registrados.

Além disso, o desmate detectado pelo Imazon em julho deste ano foi idêntico ao de julho de 2016. E o período quando as derrubadas ocorrem de fato é a partir de junho e julho, quando começa a estação seca (o “verão”) na Amazônia. “Entrar no verão amazônico com esse nível de desmatamento é algo que chama atenção”, diz Fonseca.  

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FONTE: IPAM Amazônia