O Rio Tapajós fornece um caso paralelo de desinformação sobre planos para a construção de uma barragem de alto impacto, particularmente como parte de um esquema maior que, aparentemente, não é para ser publicamente admitida até após a conclusão de um projeto atual. Neste caso, a hidrelétrica de São Luiz do Tapajós desempenha o papel de Belo Monte e a hidrelétrica de Chacorão o papel de Babaquara, em Altamira, no Pará.
Assim como Babaquara, que inundaria a terra indígena já demarcada, Chacorão inundaria 11.700 ha da Terra Indígena Munduruku. Esta barragem não está incluída no atual Plano Decenal de Expansão de Energia [1], nem no eixo “energia” do Programa para a Aceleração do Crescimento (PAC) [2], mas suas eclusas são incluídas no eixo “transportes” do PAC e representam uma alta prioridade para tornar navegável o Rio Tapajós como hidrovia para o transporte de soja de Mato Grosso para portos com acesso ao Rio Amazonas [3].
Uma sequência de eventos está atualmente em curso na bacia do Rio Tapajós que se repete muitas das piores características da história de Belo Monte [4, 5]. Da mesma forma, as várias ilegalidades e injustiças no licenciamento e na construção de Belo Monte repetem acontecimentos ocorridos poucos anos antes, no caso das barragens do Rio Madeira [6-8].[11]
NOTAS
[1] Brasil, MME (Ministério das Minas e Energia) (2015) Plano decenal de expansão de energia 2024. MME, Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Brasília, DF. 467 pp. http://www.epe.gov.br/PDEE/Relatório%20Final%20do%20PDE%202024.pdf
[2] Brasil, PR (Presidência da República) (2011) “PAC-2 Relatórios” PR, Brasília, DF. Disponível em: http://www.brasil.gov.br
[3] Brasil, MT (Ministério dos Transportes) (2010) “Diretrizes da política nacional de transporte hidroviário” MT, Secretaria de Política Nacional de Transportes, Brasília, DF. 33 pp. http://www2.transportes.gov.br/Modal/Hidroviario/PNHidroviario.pdf
[4] Fearnside P.M. (2015) “Amazon dams and waterways: Brazil’s Tapajós Basin plans” Ambio, 44(5) 426-439. doi: 10.1007/s13280-015-0642-z
[5] Fearnside P.M. (2015). “Brazil’s São Luiz do Tapajós Dam: The art of cosmetic environmental impact assessments” Water Alternatives, 8(3) 373-396. http://www.water-alternatives.org/index.php/alldoc/articles/vol8/v8issue3/297-a8-3-5/file
[6] Fearnside P.M. (2013) “Decision-making on Amazon dams: Politics trumps uncertainty in the Madeira River sediments controversy” Water Alternatives, 6(2) 313-325. http://www.water-alternatives.org/index.php/alldoc/articles/vol6/v6issue2/218-a6-2-15/file
[7] Fearnside P.M. (2014) “Impacts of Brazil’s Madeira River dams: Unlearned lessons for hydroelectric development in Amazonia” Environmental Science & Policy, 38 164-172. doi: 10.1016/j.envsci.2013.11.004
[8] Fearnside P.M. (2014) “Brazil’s Madeira River dams: A setback for environmental policy in Amazonian development” Water Alternatives, 7(1) 156-169. http://www.water-alternatives.org/index.php/alldoc/articles/vol7/v7issue1/244-a7-1-15/file
[9] Fearnside P.M. (2017) “Planned disinformation: The example of the Belo Monte Dam as a source of greenhouse gases”. In: Liz-R. Issberner & P. Lena (eds.) Brazil in the Anthropocene: Conflicts between Predatory Development and Environmental Policies. Routledge, Taylor & Francis Group, New York, E.U.A., pp. 125-142.
[10] Fearnside P.M. (2012) “Desafios para midiatização da ciência na Amazônia: O exemplo da hidrelétrica de Belo Monte como fonte de gases de efeito estufa”. In: :Fausto Neto A. (ed.) A Midiatização da ciência: Cenários, desafios, possibilidades, Editora da Universidade Estadual da Paraíba (EDUEPB), Campina Grande, Paraíba. pp. 107-123.
[11] Este texto é traduzido e atualizada de [9], que foi adaptado de [10]. As pesquisas do autor são financiadas pelo Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq: proc. 304020/2010-9; 573810/2008-7), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM: proc. 708565) e Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA: PRJ15.125).
Leia os artigos da série:
Desinformação no EIA de Belo Monte: 1 – Resumo da série
Desinformação no EIA de Belo Monte: 2 – Barragens como a “única opção”
Desinformação no EIA de Belo Monte: 3 – A energia que “precisamos”
Desinformação no EIA de Belo Monte: 4 – Barragens como “energia limpa”
Desinformação no EIA de Belo Monte: 5 – A “Fábrica de metano”
Desinformação no EIA de Belo Monte: 6 – Coca-Cola versus Guaraná
Desinformação no EIA de Belo Monte: 7 – Barragens no Inventário Nacional de gases de Efeito Estufa
Desinformação no EIA de Belo Monte: 8 – O EIA e o aquecimento global
Desinformação no EIA de Belo Monte: 9 – A emissão inicial de metano
Desinformação no EIA de Belo Monte: 10 – A “mentira institucionalizada”
Desinformação no EIA de Belo Monte: 11 – As lições de História
Philip M. Fearnside é doutor pelo Departamento de Ecologia e Biologia Evolucionária da Universidade de Michigan (EUA) e pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus (AM), onde vive desde 1978. É membro da Academia Brasileira de Ciências e também coordena o INCT (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia) dos Serviços Ambientais da Amazônia. Recebeu o Prêmio Nobel da Paz pelo Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC), em 2007. Tem mais de 500 publicações científicas e mais de 200 textos de divulgação de sua autoria que estão disponíveis neste link.
FONTE: Amazônia Real
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