Estado é o único do país que não faz parte do Sistema Interligado Nacional (SIN) e tem o abastecimento dependente do país vizinho. Situação preocupa, diz Eletrobras, mas fornecimento poderá ser suprido por termelétricas em caso de necessidade.
Único estado do país que não está ligado ao sistema elétrico nacional, Roraima vive uma rotina de interrupções constantes no fornecimento de energia. Abastecido pela produção elétrica da Venezuela, que vive uma crise política e econômica, o estado convive com apagões que têm se tornado mais frequentes conforme a tensão aumenta no país vizinho. Em apenas oito meses, Roraima já registrou 16 apagões.
No acumulado de menos de 2 anos, já são 54 blecautes ligados a falhas no fornecimento de energia elétrica do país que faz fronteira com o estado, de acordo com a Eletrobras Distribuição Roraima. Em 2014 foram registrados sete blecautes. Em 2015 foram 24 e, em 2016, 38 casos.
Dez dos quinze municípios do estado são abastecidos desde 2001 pela energia venezuelana, incluindo a capital Boa Vista, e já houve ocasiões que o desabastecimento nas cidades durou mais de 10 horas afetando 440 mil moradores. Outros cinco municípios têm o fornecimento garantido por termelétricas.
Quando há interrupção no fornecimento de energia, é comum que também falte água.
Dos 16 apagões deste ano, dois foram em dias consecutivos, um na tarde de terça (15) e outro na quarta (16). Ambos duraram menos de 1h, mas causaram transtornos à população.
Anselmo Brasil, diretor presidente da Eletrobras Roraima, explica que os apagões são frequentes porque há interrupção do fornecimento de energia elétrica em um trecho de Las Claritas, no estado de Bolívar, onde há grande incidência de descargas atmosféricas. Para o governo de Roraima, o problema se repete porque não há a devida manutenção na linha de transmissão.
Ele explica que Roraima usa a energia da Venezuela como forma de economizar gastos com a produção de energia. O estado é o único do país que não faz parte do Sistema Interligado Nacional (SIN).
Ao todo, os municípios abastecidos pelo Linhão de Guri, que vem do país vizinho desde 2001, consomem 180 megawatts por dia, sendo que 130 são oriundos da Venezuela e 50 produzidos na termelétrica de Monte Cristo, que fica na zona Rural de Boa Vista.
Assim, quando há desligamento no fornecimento da energia da Venezuela, o sistema elétrico local cai e só volta a funcionar depois de algum tempo. Com isso, a capital e os demais municípios interligados ficam ‘no escuro’.
“Não conseguimos prever esses apagões porque isso é uma questão atmosférica. Existe nessa região [Las Claritas] uma alta incidência de descargas elétricas. O que estamos trabalhando aqui desde a última terça é diminuir para 15 minutos o tempo que as termelétricas daqui levam para assumir todo o fornecimento de energia. Isso sim está ao nosso encargo, porque entendemos o desconforto que isso causa aos nossos consumidores”, afirma Anselmo.
Ele diz que a Eletrobras está totalmente preparada para assumir o abastecimento das dez cidades ligadas a Guri caso haja uma interrupção definitiva no fornecimento de energia. No entanto, a despesa da empresa passaria de R$ 1 milhão por dia com produção de energia para R$ 3,5 milhões diariamente.
“Ficar sem energia, Roraima não fica. Nós usamos energia da Venezuela porque ela é mais barata e mais conveniente para nossa geração, mas se ocorrer de ficarmos sem a Venezuela, nós não ficaremos desprovidos de energia e nem haverá aumento na tarifa repassada ao consumidor”, pontuou.
População amarga prejuízos com apagões
Conforme a própria Eletrobras, em menos de dois anos, mais de 120 processos por aparelhos queimados foram protocolados na empresa devido aos apagões.
Um restaurante no Centro da capital, por exemplo, já teve problemas em centrais de ar e freezers devido aos blecautes e oscilações de energia.
No início da tarde de quarta-feira (16), quando houve o último apagão, o restaurante perdeu clientes, segundo a caixa da empresa, Nely Figueiredo.
“Nós tivemos clientes que vieram e nem desceram do carro, só perguntaram se tinha energia e nem entraram. Outros estavam aqui, mas foram embora por causa do calor”, afirmou.
Ela também reclamou das oscilações de energia que ocorreram logo depois do apagão. “Ficamos mais de 40 minutos sem energia e depois ainda tivemos quatro oscilações de energia. Não tem eletrodoméstico que aguente”.
O autônomo Cícero Mendes tentou ir ao banco na quarta, quando o estado enfrentava o apagão, mas não conseguiu resolver o que precisava e reclamou da situação.
“Eu ia enviar dinheiro a um parente meu, mas não consegui. Aqui tá sempre acontecendo esse problema e nos sentimos prejudicados com isso”, desabafou.
Linhão de Guri
O Linhão de Guri foi inaugurado em agosto de 2001. A linha possui 706 quilômetros de extensão, ligando Boa Vista ao complexo hidrelétrico de Guri, em Puerto Ordaz.
O empreendimento de caráter binacional foi construído pela Eletrobras Eletronorte em parceria com a venezuelana Electrificación Del Caroní (Edelca), atual Corpoelec – Empresa Eléctrica Socialista.
Até 2001, Boa Vista era atendida por um parque térmico local que também abastecia o município de Mucajaí. No entanto, como a usina já não suportava mais a demanda crescente foi necessário recorrer ao país vizinho.
A interligação de Roraima ao SIN já é discutida há anos e deve ser feita com a construção do Linhão de Tucurí. Com essa obra, que ainda não começou, o estado terá energia mais confiável e segura do que a fornecida pela Venezuela.
Fonte: G1 – Colaborou Rede Amazônica Roraima
VER MAIS EM: amazonia.org.br (disponível em agosto 2017)
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