A obra é resultado de uma expedição realizada ao arquipélago de Mariuá, denominada de Expedição Mariuá-Jauaperi, com o objetivo de conhecer a realidade da floresta e de suas populações humanas e colher informações e dados no campo.

Pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC) e da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) acabam de publicar o livro intitulado “Mariuá – a flora, a fauna e o homem no maior arquipélago fluvial do planeta”. Ao todo, 36 autores participaram da obra, que foi organizada pelo pesquisador do Inpa, o doutor em entomologia Marcio Luiz de Oliveira.

A obra é resultado de uma expedição realizada em 2008 ao arquipélago fluvial de Mariuá, denominada de Expedição Mariuá-Jauaperi, com o objetivo de conhecer a realidade da floresta e de suas populações humanas e colher informações e dados diretamente em campo. O rio Jauaperi está situado nas proximidades de Mariuá.

Oliveira conta que o livro foi editado quase dez anos depois da expedição porque a obra seria publicada pela ONG WWF, patrocinadora da expedição, mas desistiu da ideia. “Nós, então, pegamos os originais e levamos a missão adiante”, explica o pesquisador.

O organizador do livro confessa que só soube da existência de um arquipélago fluvial quando aqui chegou, em 1989, e lhe falaram de um “tal arquipélago de Anavilhanas” no rio Negro, na ocasião, uma estação ecológica, porém, em 2008, foi convertida em parque nacional. “Para minha surpresa, nessa Amazônia cheia de surpresas, anos mais tarde fui informado de que havia outro arquipélago ainda maior, maior mesmo! o de Mariuá, localizado mais acima no mesmo rio Negro”, diz Oliveira.

Enquanto Anavilhanas canta com 400 ilhas em 100 km de extensão, Mariuá possui 1.400, em 275 km de extensão num trecho de rio que chega a quase 20 km de largura. O arquipélago de Mariuá está localizado em Barcelos (a 400 km de Manaus) e se estende desde o limite deste município até o de Santa Isabel do Rio Negro. As ilhas de Mariuá são formadas praticamente por florestas de igapó – que ocorrem apenas em rios de água preta, pobres em sedimentos – e chegam a ficar inundadas a maior parte do ano.

A obra está organizada em dez capítulos que tratam nas suas 181 páginas sobre vegetação; abelhas e mamangavas; aranhas, escorpiões, opilões e outros; peixes e arraias; bichos de cascos; jacarés, lagartos, serpentes e anfíbios; aves; pequenos mamíferos não-voadores; mamíferos de médio e grande porte; e organização sociocultural e gestão dos recursos naturais.   

Segundo Oliveira, nos capítulos do livro, o grande público terá a oportunidade de conhecer, ainda que de forma preliminar, um pouco da fauna, da flora e da gente que vive naquelas cercanias.

Na opinião do organizador, ainda que pese a rápida duração da expedição (cerca de 20 dias), para praticamente todos os grupos amostrados de plantas e animais, a diversidade foi considerada alta, havendo inclusive a ocorrência de espécies endêmicas (que existem apenas naquela área). No tocante às populações humanas que lá vivem, o que chama atenção é o estado de abandono em que estão submersos.

“Para cada indicador que se olhe – saúde, educação, moradia, saneamento, emprego e renda – o quadro é desanimador. No entanto, eles resistem. Resistem porque são fortes”, destaca Oliveira. “O sertanejo é antes de tudo um forte”, lembra o pesquisador da constatação de Euclides da Cunha no monumental “Os Sertões”.

Ao comentar que o livro por já ter quase uma década desde a coleta de informações, Oliveira explica que na Amazônia, devido ao seu gigantismo e complexidade, estudos sobre biodiversidade nunca são conclusivos. “Sempre constatamos que ainda existe muito a ser estudado. Essa expedição durou cerca de 20 dias, o que é muito pouco em termos de amostragem. Mas o livro é uma espécie de pedra fundamental sobre a flora, a fauna e o homem naquele arquipélago”, diz o pesquisador. “Antes dele não havia nada. Que venham agora outros trabalhos e mais e mais conhecimentos”, torce Oliveira.

Sobre a possibilidade de Mariuá sofrer algum tipo de ameaça, o organizador lembra que, de acordo com Samuel Tararan e Carlos Durigan, autores do prefácio do livro, os recursos do arquipélago são utilizados intensamente pelos habitantes da região para pescas comercial e esportiva e coleta de peixes ornamentais. Quelônios e outras espécies animais são caçados para subsistência, mas também sofrem pressão da caça e coleta para fins comerciais.

Lembra, também, que além da pressão do uso da fauna, existe forte pressão no uso de outros recursos naturais como a extração de seixo e areia, assim como madeira para usos na construção civil, o que em geral ocorre de forma irregular. “Para deter isso, precisamos de ações de conscientização acompanhadas de fiscalização”, assevera Oliveira.

O nome Mariuá deriva do fato de que Barcelos, a cidade sede do arquipélago, teve origem em uma aldeia chamada Mariuá dos índios Manaós, localizada no médio rio Negro.

A obra

A expedição foi organizada pela WWF-Brasil, uma organização não-governamental brasileira dedicada à conservação da natureza, diante de um cenário que mereceu investigação dos pesquisadores com destaque para a alta biodiversidade em uma região de solos pobres e um grande número de espécies restritas a essa região (endemismo).

A obra foi publicada pela Editora Inpa, em parceria com a Universidade Federal do Amazonas (Ufam), e teve uma tiragem de 500 exemplares. Contou com o financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).

O livro encontra-se à venda na Editora Inpa, situada no Campus I do Instituto (rua Bem-Te-Vi, s/nº,  antiga Otávio Cabral) e na Livraria da Ufam, no Instituto de Ciências Humanas e Letras (ICHL) – Setor Norte.        

Da Redação – Ascom Inpa

Fotos: Zig Koch, S.C. Dias e Luciete Pedrosa