Estima-se que a Floresta Amazônica bombeie 20 bilhões de toneladas de vapor d’água para a atmosfera todos os dias, o que alimenta boa parte das chuvas na região central e no Sudeste do Brasil.

Se tivéssemos que aquecer água para promover a mesma evaporação, precisaríamos de seis meses de toda a capacidade de geração elétrica do planeta para cada dia.

Sobre este único aspecto, o valor dos serviços da floresta soma alguns milhares de dólares por hectare por dia. Quem cuida e protege o patrimônio florestal do Brasil presta um enorme serviço.

Dona Maria de Jesus recebia desde 2014 cerca R$ 100 por mês por conservar as florestas em seu lote da Reserva Extrativista do Alto Juruá, na fronteira do Acre com o Peru. É muito pouco, mas essencial para a manutenção da família grande, que vive da extração sustentável de produtos como castanha e borracha e da agrofloresta. Na Reserva, onde 804 famílias recebem o mesmo benefício, 97% da área permanecem cobertos por florestas.

Quanto vale o Bolsa Verde? São milhões que protegem bilhões para nós e as futuras gerações.

A família da Dona Maria Antônia é uma das 53 mil beneficiárias do Bolsa Verde, um programa implementado em 2011 com o objetivo de incentivar as famílias de baixa renda vivendo em assentamentos e unidades de conservação a se desenvolverem ao mesmo tempo que protegem as florestas. Na prática, é o primeiro programa em larga escala de pagamento por serviços ambientais no Brasil.

São 28 milhões de hectares (o que equivale a seis vezes o Estado do Rio de Janeiro) que mantêm mais de 95% de cobertura florestal e com consistente queda do desmatamento desde a implantação do programa. Mesmo em 2015 e 2016, quando as taxas de desmatamento de toda a Amazônia subiram, nas áreas do Bolsa Verde baixaram.

Quanto vale o Bolsa Verde? São milhões que protegem bilhões para nós e as futuras gerações.

Pois o programa está seriamente ameaçado pelo corte de orçamento promovido pelo governo federal. Faltam R$ 35 milhões para arcar com os benefícios até o fim do ano e, para 2018, a proposta orçamentária em discussão corta os recursos a praticamente zero. Na prática, significaria o fim do programa. Isso no momento em que o Brasil precisa de ações efetivas além do monitoramento e controle para conter o avanço do desmatamento.

A corrupção, os desvios de finalidade e a falta de prioridades têm drenado os recursos públicos de áreas estratégicas e fundamentais para manutenção da vitalidade do país. Os ajustes da economia para lidar com o buraco nas contas públicas fazem vítimas entre os mais vulneráveis.

É preciso reagir. O Bolsa Verde não pode acabar!

Tasso Azevedo é engenheiro florestal