Rio Negro atingiu a chamada cota de emergência ao ultrapassar os 29 metros de altura em relação ao mar. Apesar disso e contrariando secretário, prefeitura ainda não editou decreto. 

O rio Negro atingiu durante este final de semana a cota de emergência de 29 metros e permanecia nela ontem. Durante esses três dias, a prefeitura de Manaus não decretou a situação de emergência imediatamente como havia garantido o secretário da Defesa Civil de Manaus, Cláudio Belém, durante o último alerta de cheia, divulgado na última quarta-feira.

O secretário disse que o órgão tinha previsão de decretar situação de emergência entre os últimos dias 25 e 30, o que não aconteceu porque a cota do rio Negro não atingia os 29 metros, e desde sábado quando atingiu a cota até então o município continua sem se pronunciar. Por conta disso, a população que mora em áreas alagadas continua sem assistência alguma da prefeitura.

A Secretaria Municipal da Mulher, Assistência Social e Direitos Humanos (Semmasdh), informou que em abril foram identificadas 2.610 famílias de 15 bairros da capital que seriam atingidas com a cheia e deveriam receber o auxílio SOS Enchente, após a publicação do Decreto de Situação de Emergência. “Enquanto não for decretada a situação de emergência, não tem como a Prefeitura de Manaus dar início a todo o trâmite”, informou a secretaria.

A família da vendedora Adriana Silveira Pacheco, 27, é uma das 2.610 famílias identificadas pela secretaria. Moradora há 17 anos do beco São Domingos, bairro Presidente Vargas, Zona Sul, ela afirmou que todos os anos passa por sufoco quando as águas poluídas daquela região começam a entrar no barraco onde vive com mais sete pessoas, incluindo crianças e adolescentes.

“Tem quase um mês que a água começou a entrar na nossa casa. Convivi pelo menos cinco dias andando e perdendo meus pertences entre a água por não ter condições de levantar o assoalho. Hoje só estamos com o assoalho por causa da ajuda de vizinhos que viram essas madeiras jogadas no lixo e pegaram para nos ajudar. Se não fosse por isso, não sei como estaria vivendo agora, tenho filhos pequenos e minha irmã que mora comigo também, desde esse tempo nossos filhos tem sempre adoecido”, contou Adriana.

Ajuda mútua

Muitos moradores do beco São Domingos só estão conseguindo levantar o assoalho por conta da ajuda de vizinhos e da comunidade em geral. Alguns pegam as madeiras de antigas casas abandonadas no caminho para pelo menos conseguir levantar a geladeira e a cama, como é o caso da dona de casa Lúcia Vieira, 38. Com medo dos bichos e impurezas da água poluída, a dona de casa encaminhou as duas filhas para a casa da irmã no São Jorge, Zona Oeste, enquanto aguarda pela ajuda humanitária da prefeitura na companhia da cadelinha Mel.

“Não estou trabalhando, logo não tenho condições financeiras para alugar um canto e ficar com as minhas filhas. No início do ano, apareceram umas pessoas realizando um cadastro para a prefeitura. Eles informaram que nós seríamos assistidos com uma ajuda, mas até agora nada. Se não fosse pelos meus vizinhos, hoje nem assoalho teria. Não tenho como deixar tudo e ir embora, pois tenho meus pertences que batalhei muito para conseguir”, disse.

Personagem: Valderino Pereira, Chefe do Ser. de Hidrologia do Porto

“Acredito que essa enchente não vai demorar muito tempo. O rio Negro desde o mês passado começou a subir poucos centímetros, e tem dias que ele tem ficado parado como foi o caso desde domingo e segunda-feira. Nesse mesmo período, no ano passado, a cota do rio Negro variava entre a cota de 27,06 metros e subia em média de dois a três centímetros por dia. Em 2012, ano da maior cheia no qual tivemos registro, nos dias 4 e 5 de junho o rio iniciava sua vazante e estava n a cota de 29, 92 metros. Não espero muito para este ano, ele (rio Negro) tem dado sinais de fim de enchente. No dia 29 de maio de 2012, o rio Negro chegou atingir a maior cota desde quando começamos a monitorá-lo, quando seu volume de água atingiu os 29,97 metros. Enquanto vazantes, o menor registro ocorreu em 24 de outubro de 2010, quando ele atingiu a cota de 13,63 metros”.

Defesa Civil do AM tem 34 cidades em emergência

Conforme a Defesa Civil do Amazonas, 34 municípios do Amazonas estão em situação de emergência por conta da enchente dos rios em 2017, totalizando 62.069 famílias afetadas. Além disso, mais 12 municípios estão em situação de alerta, entre eles Manaus. Fora esses municípios, dois estão em situação de atenção.

Os municípios de Manacapuru e Tefé, respectivamente a 68 quilômetros e 525 quilômetros de Manaus, também estão em situação de emergência por deslizamento de terras. Pelo menos 121 famílias estão afetadas. Esses municípios foram atendidos com a ajuda humanitária da Defesa Civil.

Ontem, a Defesa Civil estava no município de Anamã, localizada na calha do Solimões (a 168 quilômetros de Manaus), realizando a ajuda humanitária às famílias do municípios. Anamã decretou emergência no início de maio, e desde essa época, as unidades de saúde e escolas estavam afetadas por conta da subida das águas. Expectativa é de que a prefeitura de Manaus edite o decreto de emergência.

Isabelle Valois  –   Manaus (AM)

FONTE: A CRÍTICA

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