O biólogo Ubirajara de Oliveira tinha uma ideia bastante diferente para o doutorado. Ele pretendia usar um modelo que desenvolveu no mestrado para identificar áreas de endemismo de espécies no Brasil. Mas os resultados eram inesperados, não batiam com a hipótese aceita até agora de que os rios limitavam grandes áreas de endemismo na Amazônia.
O resultado está em um artigo, publicado em junho na Scientific Reports, no mesmo grupo da Nature. Com base em informações da ocorrência de aves em toda a bacia amazônica, e com a ajuda de computadores, ele pode mostrar que a distribuição de espécies na Amazônia é muita mais complexa do que se imaginava, com fatores como mudanças no clima e variação na altitude que podem contribuir para a existência de dezenas de áreas de endemismo.
“No começo, achei que o modelo estava errado”, recorda Ubirajara Oliveira. “Rodei o modelo para as aves da Amazônia Brasileira e depois aumentei a amostragem com espécies de outros países. Continuou não batendo”. Depois disso, ele resolveu usar outros dois métodos conhecidos. O resultado era semelhante.
Os modelos demonstravam que a maior parte dos rios não eram limites que faziam da floresta uma grande concha de retalhos, com cada interflúvio abrigando um conjunto diferente de espécies de aves. Na verdade, apenas os maiores cursos d’água, Solimões, Madeira e Amazonas, cumpriam esse papel. Ubirajara de Oliveira conta que é um padrão semelhante ao observado para primatas por Alfred Wallace no século XIX.
Mais do que isso, ele identificou também uma complexa combinação de áreas de endemismo definidas não por rios, mas por outros fatores, com zonas menores dentro de maiores, numa combinação que é chamada, segundo ele, de boneca russa, dada a semelhança com o tradicional brinquedo.
“Estes resultados têm uma implicação muito grande para a conservação”, afirma o biólogo. “A gente tem áreas de endemismo muito pulverizadas e muito pequenas. Isso cria a necessidade de muitas unidades de conservação”, defende.
Por Vandré Fonseca
quarta-feira, 14 junho 2017
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Nota da Ecoamazônia: Texto recebido por e-mail.
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