Se os conhecimentos científicos não tiverem uma circulação aberta e ao alcance de todos, não saberemos se são razoáveis, ou se ferem princípios éticos, ou se são consistentes do ponto de vista científico”. A afirmação é do diretor do Museu da Amazônia (Musa), o físico italiano e pesquisador Ennio Candotti, convidado da 46ª Reunião do Grupo de Estudos Estratégicos Amazônicos (Geea), desta quinta-feira (18), no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC). O tema da palestra do cientista foi “Ética e Ciência: o papel social do cientista”.

Na opinião de Candotti, a verdade científica só é verdade porque muitas pessoas podem realizar experiências, que justifiquem determinados resultados, se forem realizados de maneira independentes em laboratórios, também, independentes.

“Quando isso não é possível e quando há segredos e interesses de mercado envolvidos, não sabemos se a experiência pode levar a um resultado favorável ou não”, diz o cientista. Segundo ele, as pesquisas que são feitas secretamente a sociedade não pode dizer se é permitido ou não, e a comunidade científica, que é a responsável pela legitimidade desses resultados, não pode se pronunciar. “Daí, os monstros são filhos do segredo”, compara o pesquisador ao explicar que a cultura contemporânea valoriza o segredo e a apropriação do conhecimento por  interesses setoriais.

Para Candotti, é importante verificar o valor ético e científico dos conhecimentos para que eles circulem e que estejam ao alcance de todos. “Aqui, na Amazônia, precisamos muito divulgar o que sabemos e fazer com que a população nos apoie na batalha pela conservação da região”, diz o cientista que já foi quatro vezes presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

O pesquisador comenta que a ética não é um corpo de normas universais. Segundo ele, cada cultura, cada nação e cada comunidade tem suas normas e princípios e é preciso respeitá-los, desde que respeitem as dos outros. “A validade de normas e princípios que regulam o comportamento de uma comunidade é fundamental para entender o impacto da ética e da ciência”, diz.

Crítico e combatente, Candotti denomina-se apenas como um cidadão preocupado com os rumos do país para que se possa deixar tudo o que foi contruído para os nossos jovens, de modo que não sofram periodicamente o efeito Sísifo (teoria do Absurdo) – que leva-se uma pedra ladeira acima e depois faz-se com que a pedra role ladeira abaixo e começa-se tudo de novo.

“Espero que possamos encurtar ao máximo essa queda da pedra, o que nos tempos atuais não parece simples”, desabafa o cientista, que ajudou na criação da Revista Ciência Hoje das Crianças e Ciência Hoje, na Argentina.

Sobre o Geea

O Geea, que este ano completa dez anos de existência, é um grupo multidisciplinar de pessoas interessadas na Amazônia, no desenvolvimento sustentável da região e na promoção do ser humano. É formado por cientistas, professores, empresários, poetas, religiosos e gestores que se reúnem a cada três meses para debater temas previamente escolhido e apresentado por uma autoridade no assunto. O secretário-executivo do Geea é o pesquisador Geraldo Mendes.

“As pesquisas que são feitas secretamente a sociedade não pode dizer se é permitido ou não, e a comunidade científica, que é a responsável pela legitimidade desses resultados, não pode se pronunciar”, diz Candotti

Por Luciete Pedrosa – Ascom Inpa