“Desinformação”, um eufemismo para informações falsas, deliberadamente incompletas ou deturpadas, é um termo adotado pela Agência Central de Inteligência dos E.U.A. (CIA) [1]. Esta definição é essencialmente idêntica ao termo menos palatável “mentira”, ou seja, uma declaração falsa apresentada como sendo verdadeira e com a intenção de ludibriar alguém.

Uma das áreas que melhor ilustra isto é a das hidrelétricas na Amazônia. O assunto é quase sempre apresentado com o enquadramento adotado pelos proponentes das obras, ou seja, uma decisão entre a hidrelétrica e o desenvolvimento do País, ou, então, a única alternativa contra um a apagão ou o sacrifico das esperanças dos que ainda vivem sem luz elétrica.

Este é um caso de desinformação que ganhou aceitação generalizada através da repetição constante. Não mencionada é a presunção subjacente, que não está sendo repassada pela mídia, de que se continue exportando parte da energia na forma de lingotes de alumínio e de outros metais eletro-intensivos.

A primeira pergunta tem que ser: “O que será feito com a energia?”. Só depois disso vem as perguntas sobre os impactos de cada obra. No caso de Belo Monte (Figura 1), os proponentes foram bem sucedidos em evitar qualquer discussão dos impactos das outras barragens acima de Belo Monte.

Em todos os casos, a questão das emissões de gases de efeito estufa pelas hidrelétricas tem sido ausente, muitas vezes simplesmente repetindo a afirmação de que se trata de energia “limpa”. [4]

Figura 1 – Barragens mencionadas no texto: 1.) Balbina, 2) Samuel, 3.) Curuá-Una, 4.) Tucuruí, 5). Belo Monte, 6.) Babaquara (Altamira), 7.) Petit Saut.

NOTAS 

[1] Agee P. (1975) Inside the Company: CIA diary. Penguin Books, New York, E.U.A. 640 pp. 

[2] Fearnside P.M. (2017) “Planned disinformation: The example of the Belo Monte Dam as a source of greenhouse gases”. In: Liz-R. Issberner & P. Lena (eds.) Brazil in the Anthropocene: Conflicts between Predatory Development and Environmental Policies. Routledge, Taylor & Francis Group, New York, E.U.A., pp. 125-142.

[3] Fearnside P.M. (2012) “Desafios para midiatização da ciência na Amazônia: O exemplo da hidrelétrica de Belo Monte como fonte de gases de efeito estufa” In: Fausto Neto A. (ed.) A Midiatização da ciência: Cenários, desafios, possibilidades, Editora da Universidade Estadual da Paraíba (EDUEPB), Campina Grande, Paraíba. pp. 107-123.

[4] Este texto é traduzido e atualizada de [2], que foi adaptado de [3]. As pesquisas do autor são financiadas pelo Conselho Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq: proc. 304020/2010-9; 573810/2008-7), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM: proc. 708565) e Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA: PRJ15.125).

Leia o primeiro artigo: Desinformação no EIA de Belo Monte: 1 – Resumo da série

 

Philip M. Fearnside é doutor pelo Departamento de Ecologia e Biologia Evolucionária da Universidade de Michigan (EUA) e pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus (AM), onde vive desde 1978. É membro da Academia Brasileira de Ciências e também coordena o INCT (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia) dos Serviços Ambientais da Amazônia. Recebeu o Prêmio Nobel da Paz pelo Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC), em 2007. Tem mais de 500 publicações científicas e mais de 200 textos de divulgação de sua autoria que estão disponíveis neste link.  

FONTE:   

http://amazoniareal.com.br/desinformacao-no-eia-de-belo-monte-2-barragens-como-a-unica-opcao/