Segundo chefe da Defesa Civil, enxurrada causada por cheia súbita de rios atingiu 15 comunidades indígenas. Prefeito da cidade afirma que vai decretar situação de emergência na segunda-feira (22).

A Defesa Civil de Roraima divulgou neste domingo (21) que 936 índios foram afetados pela enxurrada causada pela cheia súbita dos rios Uailã e Maú, em Uiramutã, no Norte de Roraima. Até agora, não há registro de mortos ou feridos, mas a prefeitura da cidade apura o suposto desaparecimento de seis crianças em uma comunidade indígena.

Na madrugada de quinta-feira (18), os rios Uailã e Maú encheram repentinamente. A cheia isolou moradores e até a própria cidade de Uiramutã ficou sem ligação terrestre com a BR-171 que dá acesso ao município. Algumas malocas – moradias dos indígenas – foram submersas pelos rios.

De acordo com coronel Doriedson Ribeiro, chefe da Defesa Civil, ainda não há um número preciso de desabrigados, pois está sendo feito um levantamento. No sábado (21), a prefeitura da cidade divulgou que havia 600 indígenas desabrigados devido à cheia dos rios.

Conforme Ribeiro, 45 habitações foram danificadas em 15 comunidades indígenas que estão na circunscrição da Reserva Indígena Raposa Serra do Sol. Algumas casas tiveram partes da estrutura levadas pela água.

O levantamento da Defesa Civil também identificou que 57 hectares de produção e duas escolas foram afetadas pela enxurrada. As duas unidades de ensino estão sem aulas desde a quinta.

O coronel Ribeiro explicou ainda que o que ocorreu no Uiramutã foi uma enxurrada ocasionada pelo súbito aumento do volume de águas nos rios. Ele também disse que isso aconteceu devido às condições físicas da região que é formada predominantemente por serras. No momento da enxurrada não chovia.

“A região do Uiramutã é serrana e por isso a cheia rápida da cabeceira do rio gerou a enxurrada. As águas subiram de uma vez e os moradores que viviam mais perto do rio foram pegos de surpresa. Eles tiveram que fugir de dentro das casas levando as crianças para os montes mais altos, onde a enxurrada não chegou”, explicou Doriedson.

O município de Uiramutã fica no extremo Norte de Roraima e possui cerca de 9 mil habitantes, segundo o IBGE. A cidade fica a mais de 300 KM da capital Boa Vista.

Situação de emergência e crianças desaparecidas

O prefeito Dedel Araújo (PP) informou ao G1 neste domingo que deve decretar situação de emergência em Uiramutã na segunda-feira (22).

De acordo com Dedel Araújo, os mais de 900 indígenas das etnias macuxi, ingarikó e patamona afetados pela cheia sofrem com a falta d’água, mantimentos e roupas. Por isso, é indispensável baixar o decreto de emergência.

“Nunca tínhamos passados por uma situação como essa aqui em Uiramutã. Há pessoas que perderam todas as coisas delas, o que inclui de bens, a plantações e até mesmo as próprias casas. Queremos ajudá-las e por isso vamos decretar emergência”, afirmou Dedel, acrescentando que os detalhes do decreto ainda estão sendo finalizados.

Ainda segundo o prefeito, há comunidades indígenas que estão isoladas por terra. As mais afetadas são Orinduque, Mutum, Andorinha, Salvador e Kumapai. Também há relatos de que seis crianças sumiram na comunidade Kamawapai.

“Estamos fazendo contato com todas essas comunidades isoladas e vamos investigar esse suposto desaparecimento. Hoje mesmo faremos um sobrevoo sobre Kanawapai”, finalizou.

Risco para surto de doenças

Desde o dia em que os rios subiram, equipes do Exército, Defesa Civil, Corpo de Bombeiros e Secretaria de Saúde Indígena (Sesai) estão no município e atuam para ajudar as populações afetadas. Uma campanha encabeçada pela prefeitura da cidade coleta doações para os indígenas.

O tenente Diogo Oliveira, subcomandante do 6º pelotão especial de fronteira, afirma que o Exército trabalha na região oferecendo água potável e auxílio médico às famílias afetadas.

Ele afirma que crianças indígenas têm sido diagnosticadas com diarreia e febre e alerta que há possibilidade de haver um surto de doenças na região.

“Nossa maior preocupação agora é a questão de saúde visto que depois de três dias do início da enchente, ainda temos comunidades isoladas, mas em algumas, principalmente nas que ficam perto do rio Uailã, as águas estão baixando. Então, depois disso, poderá haver um surto de diarreia e outras doenças relacionadas a esse tipo de incidente”, explicou o tenente.