As características da urbanização têm alterado a qualidade da água do igarapé da Bolívia que tem sua nascente na Reserva Florestal Adolpho Ducke, em Manaus. Na mesma reserva outros igarapés ainda têm suas nascentes preservadas e em condições naturais. As comprovações são resultados de uma pesquisa do químico e doutor em Engenharia Ambiental, Sávio José Filgueira Ferreira, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).

Na Reserva Florestal Adolpho Ducke as águas saem claras da nascente e vão adquirindo uma coloração mais escura – Postada em: FAPEAM

Intitulado “Hidrologia e hidroquímica em igarapés com origem em Reserva Florestal sob crescente pressão antrópica no seu entorno”, o estudo conta com apoio do Governo do Estado via Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam). Realizada no âmbito do Programa de Apoio à Pesquisa – edital N.021/2011 – Universal Amazonas, a pesquisa foi concluída em 2015.

Segundo o coordenador do estudo, a pesquisa tinha a proposta de estudar os igarapés nas condições naturais, avaliar a passagem das águas por sítios e balneários na área urbana, para entender os processos de degradação dos recursos hídricos. O estudo buscou investigar que impactos as águas drenadas da reserva, que fazem parte da bacia do Tarumã, sofrem ao sair da reserva.

“Observamos que a medida que área urbana de Manaus vai aumentando, vários cursos da água são atingidos. Vários igarapés da cidade foram atingidos. Classicamente, conhecemos o problema do Mindú, que vem da zona leste e passa pelo Parque 10. O igarapé já foi muito utilizado pela sociedade e hoje não tem condições de uso. Quer dizer, aquilo que era um recurso para sociedade foi perdido”, disse o pesquisador.

Sávio informou que a partir do estudo foi possível comprovar que as águas de dentro da reserva ainda estão preservadas. À medida que as águas saem da reserva e passam por sítios e balneários elas mantêm suas características. No entanto,  a pesquisa indica que a urbanização impacta na qualidade da água. “Os resultados mostraram que quando há um adensamento da população, ou seja, as características de uma urbanização, aí sim, há um processo de degradação”, afirmou o pesquisador.

De acordo com Sávio, durante dois anos o grupo de pesquisa, composto por pesquisadores do Inpa e universitários bolsistas de Iniciação Científica (IC), ia a campo semanalmente coletar amostras de águas dos igarapés da reserva em locais distintos. A cada 15 dias os pesquisadores retornavam ao local e coletavam uma nova amostra para analisarem no laboratório de química ambiental do Inpa.

“O que observamos é que grande parte da reserva os recursos hídricos se encontram em condições naturais, ou seja, as águas nesses locais de terra firme são ácidas, tem baixo teor de nutrientes, de íons na água, são águas muito pobres. A exceção é o igarapé da Bolívia que recebe um afluente de outro igarapé que vem da parte urbana da cidade. Esse outro igarapé adentra a reserva e se encontra com o igarapé Bolívia. A partir do encontro o Bolívia já sai poluído de dentro da reserva”, explicou o químico.

Participação de IC’s

Para o pesquisador Sávio, o envolvimento de bolsistas de Iniciação Científica (IC’s) foi de extrema relevância para o andamento da pesquisa. Ele reforça que o contato com a ciência proporcionado pelo projeto será de fundamental importância para a carreira dos universitários.

“Quero destacar que esse projeto possibilitou que nós tivéssemos vários estudantes de Iniciação Científica que colaboraram com a gente nesse estudo. Eles puderam participar e ter um primeiro contato com a pesquisa o que é importante para carreiras deles. Participaram do estudo seis alunos dos cursos de Engenharia Florestal e Geologia, da Ufam, do Uninorte e da Nilton Lins, por meio do Pibic, que também é fomentado pela Fapeam”, contou o pesquisador.

Os resultados alcançados são de grande relevância e permitem auxiliar decisões políticas e ambientais, mas é preciso dar continuidade, conforme o pesquisador. O monitoramento desses recursos hídricos precisa ser constante.

“A cidade está cada vez mais pressionando a Reserva. A cidade tem um grande número de automóveis que causa poluição atmosférica, precisamos avaliar se está havendo modificações com o tempo. Também sabemos que há estudos que comprovam alterações climáticas, temos que estudar quais são as influências de tudo isso nos nossos recursos hídricos”, disse Sávio.

Repórter- Francisco Santos (Agência Fapeam) Fotos: Érico Xavier (Agência Fapeam) e arquivo pessoal do pesquisador

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