Na semana do Dia do Índio (19/04), os povos indígenas do Vale do Javari ocuparam as ruas de Atalaia do Norte (AM) para uma série de atividades como forma de reivindicar direitos e mostrar sua insatisfação com as recentes medidas do atual governo Temer. 

Matsés (também chamados Mayuruna), Matis, Marubo, Kulina Pano, Kanamari, um pequeno grupo Korubo de recente contato e um grupo Tsohom Dyapá estiveram representados na mobilização, que reivindica ainda os direitos dos povos indígenas isolados que vivem próximos.

Na terça-feira (18), a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) realizou, com apoio das organizações parceiras locais (indígenas e indigenistas), um debate sobre as violações dos direitos dos povos indígenas em todo o país.

O debate foi seguido de uma passeata pelas ruas da cidade em que se viam cartazes contra os recentes cortes de cargos na Fundação Nacional do Índio (Funai) pelo governo Michel Temer, visto pelos manifestantes indígenas como um desmonte do órgão indigenista.

“Nos mobilizamos essa semana pois não estamos satisfeitos com as atitudes desse presidente Michel Temer”, diz Paulo Marubo, presidente da Univaja.

“Precisamos fortalecer a FUNAI. O atual governo viola os direitos indígenas e o dos brancos também. Precisamos nos unir nessa luta contra a violação de direitos”, completa.

A preocupação dos povos do Vale do Javari passam também pelas recentes declarações de Antônio Fernandes Toninho Costa de que os indígenas não podem “ficar parados no tempo” e que deveriam buscar financiamentos para se inserir na cadeia produtiva.

“A nossa terra não é pra produzir um volume grande de produtos, é pra gente viver a vida. A floresta depende da gente e a gente depende dela”, opina Paulo Marubo.

O presidente da Univaja fala ainda sobre a preocupação das comunidades com os povos isolados que compartilham territórios na Terra Indígena Vale do Javari e seus entornos.

“O Vale do Javari tem a maior concentração de povos isolados no país. Eles não querem ter contato, e nós temos que defende-los e reconhecer o mundo que eles vivem”, diz.

Logo após a passeata, os indígenas organizaram uma mostra de filmes seguida de debates. Destaque para questões locais, com atenção para a questão da exploração de petróleo em território Matsés, e para pautas nacionais como a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215 que tramita no Congresso. 

A PEC 215, proposta da Bancada Ruralista, pretende transferir do governo federal para o Congresso a última palavra sobre a demarcação de Terras Indígenas e, caso aprovada, deverá paralisar de vez as demarcações, podendo ainda rever processos de demarcação já concluídos.

A quarta-feira (19), Dia do Índio, foi reservada para torneios esportivos e atendimentos da Rede de Proteção aos Indígenas. Essa rede é uma articulação de diversos órgãos públicos com intuito de garantir assistência em saúde, através da vacinação, atenção básica e palestras educativas, além de garantir outros benefícios sociais à população indígena da região.

FONTE: CTI