Uma pesquisa, desenvolvida no Instituto Mamirauá, busca estimar o papel das florestas alagáveis da Amazônia na absorção de carbono do bioma, diante de um cenário de mudanças climáticas. Integrando diferentes metodologias de análise, o projeto propõe esclarecer a variação da produtividade vegetal da floresta em diferentes níveis de inundação no ambiente de várzea amazônica.

“Hoje, há uma grande discussão sobre mudanças climáticas e sabemos que a Amazônia é, de um modo geral, um sumidouro de carbono atmosférico. Ela sequestra e armazena parte significativa do carbono da atmosfera, que está causando uma mudança no clima. Mas os dados são da Amazônia como um todo. Se formos considerar as florestas alagáveis, temos apenas uma aproximação, uma suposição. Então, queremos refinar esses números”, explicou Jefferson Ferreira-Ferreira, autor da pesquisa e técnico do Instituto Mamirauá – que atua como uma unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.

O professor doutor do Instituto de Geociências e Ciência Exatas (IGCE) da Universidade Estadual Paulista (UNESP), Thiago Sanna Freire, orienta Jefferson na pesquisa. Ele afirma que as mudanças causadas pelo clima na Amazônia “podem levar a uma reorganização e redistribuição significativa das comunidades vegetais das várzeas, com efeitos diretos sobre a biodiversidade e a biogequímica desses ecossistemas”. Segundo o professor, a “análise dos registros históricos de dados hidrológicos para os grandes rios amazônicos já sugere uma intensificação do ciclo hidrológico nas últimas décadas, e predições usando modelos hidrológicos indicam que pode haver uma intensificação e aumento na frequência e recorrência de eventos extremos de seca e cheia, aos quais a vegetação não se encontra adaptada”.

Monitorando o ambiente

Para realizar uma parte do trabalho, foram instaladas seis parcelas florestais – áreas delimitadas que funcionam como “amostras” de florestas na pesquisa – em diferentes tipos florestais da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá: várzea baixa, várzea alta e chavascal, que passam por níveis diferentes de alagação. As áreas estão sendo monitoradas regularmente. São coletadas amostras de serrapilheira, que é a matéria orgânica depositada na floresta, composta por folhas, galhos, flores, frutos e outros. A ideia dessa etapa, como explica Jefferson, é compreender como a floresta devolve, ao ambiente, o carbono absorvido em forma de gás da atmosfera.

A pesquisa também conta com a análise de imagens de satélite, visando extrapolar as estimativas para áreas maiores dentro da Reserva. “A ideia é compreender como diferentes regimes de inundação influenciam a produtividade de um mesmo tipo florestal e captar essa heterogeneidade da paisagem. Então, uma vez que conseguimos mapear a duração da inundação e as fitofisionomias para áreas maiores, conseguimos expandir este dado, que a gente está olhando só localmente e em campo, para áreas maiores”, comentou Jefferson, que é geógrafo e também trabalha com Geotecnologias no Instituto Mamirauá.

Previsão da Inundação

Os eventos extremos de cheia e seca costumam ser características conhecidas das mudanças climáticas. De acordo com Jefferson, uma contribuição importante da pesquisa será o desenvolvimento de uma modelagem da inundação na região contemplada pelo projeto. A partir disto, seria possível prever o período e o nível de inundação das áreas, o que contribuiria para o desenvolvimento de medidas para conter prejuízos ou para o planejamento das atividades econômicas praticadas pelas comunidades ribeirinhas.

Isso será possível com base em análises estatísticas dos dados de monitoramento do nível da água realizado, desde 1999, pelo Instituto Mamirauá na unidade de conservação. O modelo poderia demonstrar espacialmente a duração anual da inundação, de acordo com o autor. “Se este modelo de inundação evoluir como estamos esperando, ele pode ser usado para muitas coisas como, por exemplo, o manejo madeireiro ou para saber se os lagos estão conectados ou acessíveis num determinado momento do ano e planejar a pesca”, contou Jefferson.

Anéis de crescimento

Outra metodologia utilizada pela pesquisa será a dendroecologia, que é a análise das informações ecológicas contidas nos anéis de crescimento de algumas espécies de árvores. Jefferson comenta que, com as amostras da madeira, é possível reconstruir a história do crescimento das árvores e também obter informações sobre o ambiente, em cada ano de vida daquele indivíduo. “Na literatura, temos uma lista de mais ou menos oitenta espécies cujos anéis de crescimento são marcados pela inundação. Vamos selecionar as espécies que ocorrem ao redor das parcelas que instalamos, para amostrar os anéis de crescimento”, disse.

O geógrafo acredita que a pesquisa pode melhorar as estimativas globais sobre o sequestro de carbono e para apoiar iniciativas como políticas de mitigação de efeitos climáticos causados pela emissão de carbono a partir da degradação ambiental. “Queremos refinar esses números e dar um retorno para a comunidade cientifica do que acontece, afinal, nesses ambientes de florestas alagáveis”, completou.

A pesquisa é realizada no Instituto Mamirauá, como o projeto de doutorado de Jefferson na Universidade Estadual Paulista (Unesp) – campus Rio Claro, e conta com a colaboração de pesquisadores do Instituto Mamirauá, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), da Escola de Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” na Universidade de São Paulo, da University of California Santa Barbara e da Jet Propulsion Laboratory da National Aeronautics and Space Administration (NASA). O estudo é realizado com o financiamento da National Geographic Society e da NASA.

Fonte: Instituto Mamirauá

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