Na tarde de hoje (07), a Funai realizou o lançamento oficial da campanha Abril Indígena 2017. Com o tema Conheça, Pesquise, Combata o preconceito, a campanha traz a importância da ferramenta do conhecimento para a superação de pontos de vista preconcebidos e estereótipos que não correspondem à realidade dos povos indígenas do Brasil.
Ao mesmo tempo, busca ressaltar a relevância dos modos de vida tradicionais indígenas, seus saberes e expressões culturais únicos que, além de enriquecerem o patrimônio cultural brasileiro, contribuem com a proteção do meio ambiente e da biodiversidade.
Antônio Costa, presidente da Funai, se declarou orgulhoso de presidir a instituição indigenista oficial do estado brasileiro, sobretudo no ano em que ela completa 50 anos, e reafirmou o compromisso histórico da autarquia na defesa dos direitos dos povos indígenas. “A Funai jamais se curvará diante de qualquer iniciativa que busque desconstruir seus direitos. Enquanto eu for presidente, jamais permitirei que isso aconteça”, declarou.
Costa lembrou, ainda, a importância da campanha deste ano, que ao abordar cinco eixos temáticos essenciais para o entendimento da importância do respeito à pluralidade dos modos de vida indígenas, chama toda a sociedade a repensar a relação que estabelece com essas populações. São eles: o índio não é preguiçoso; não existe “índio falso” e “índio verdadeiro”; lugar de índio não é no passado; o índio não é obstáculo ao desenvolvimento; os saberes indígenas enriquecem o Brasil.
Após a apresentação do vídeo da campanha, o Diretor de Proteção Territorial da Fundação, Manoel do Prado, ressaltou, ainda, a importância da garantia dos direitos territoriais dos povos indígenas, luta da Funai ao lado dessas populações e direito garantido constitucionalmente.
Não temos um emprego, temos uma causa
Ao lançamento da campanha seguiu-se o lançamento do livro Meu Velho Chico – um rio pede ajuda, de autoria do servidor da Funai João Carlos Figueiredo. A obra narra a expedição de canoagem realizada pelo autor, em 2009, por cerca de 2700 km do rio São Francisco, desde sua nascente, na Serra da Canastra, em Minas Gerais, até sua foz, em Piaçabuçu.
A expedição teve o propósito de conhecer a situação socioambiental e fundiária do rio São Francisco, e percorreu cerca de 20 comunidades indígenas, quilombolas e caboclas, além de 25 cidades ribeirinhas. Segundo o autor, mais do que um relato de aventura, a obra expõe um alerta sobre o risco de extinção do Velho Chico, e denuncia a gravíssima situação em que o rio se encontra, com menos de 20% do volume de águas que possuía em 1500.
Durante a cerimônia, o servidor fez um discurso poderoso sobre a importância do respeito aos modos de vida tradicionais dos povos indígenas, tão ameaçados pelo modelo de desenvolvimento econômico pautado no lucro e na exploração máxima do meio ambiente atualmente adotado pela sociedade brasileira.
Para João Carlos, o servidor da Funai não tem um emprego, mas uma causa, que é “a luta pelos direitos das nações indígenas que incluem suas tradições, suas crenças, suas territorialidades, seus modos de viver e sua cultura, cujo território nacional temos o privilégio em compartilhar, embora sem o devido respeito ao seu direito de viver em paz e a seu modo”.
O servidor também fez duras críticas aos setores sociais que vêm, sistematicamente, atacando os direitos dos povos indígenas, sobretudo os direitos territoriais: “Essa nova civilização que aqui se instalou não sabe o valor inestimável de sua riqueza étnica e cultural e acredita que a missão da nossa instituição indigenista seria apenas a de incorporar a mão de obra do trabalhador indígena ao sistema produtivo capitalista. Nós sabemos que isso não é verdade. Agora, inacreditavelmente, ignorando toda uma luta secular dos sertanistas e indigenistas, querem desconstruir a Funai para, em seu lugar, instalar uma política que só é adequada ao agronegócio, às mineradoras, às madeireiras e aos grandes empreendimentos que juntos vêm devastando a maior floresta tropical do mundo, a mais rica biodiversidade do planeta, para implementar hidrelétricas, extrair minérios para enriquecer os países mais desenvolvidos e transformar florestas e rios em pastos e monoculturas”.
Para o autor, o recado do livro é justamente esse, o de fomentar uma ampla reflexão sobre questões que são fundamentais para a sobrevivência da própria espécie humana que, para continuar a existir, deverá lançar outro olhar aos povos tradicionais e suas culturas milenares não expansionistas e não predatórias.
Texto: Mônica Carneiro/Ascom Funai.
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