A petrolífera canadense Pacific E&P anunciou que irá se retirar do território de diversas tribos isoladas na Amazônia peruana, onde começou sua primeira fase de exploração em 2012.

O aviso chegou até a organização global Survival International, no dia 13 de março, por meio de uma carta assinada pela área de Relações Institucionais e de Sustentabilidade da E&P. No comunicado, eles informam que decidiram renunciar seus direitos sobre exploração de petróleo no bloco 135 imediatamente e reiteraram o compromisso da companhia em conduzir suas operações de “acordo com as mais elevadas diretrizes de sustentabilidade e direitos humanos.”

O bloco exploratório 135 fica dentro da reserva indígena proposta de Yavarí Tapiche. A organização nacional indígena do Peru (AIDESEP) pede a criação da reserva há mais de 14 anos e parte da área concedida para a exploração fica no recém-criado Parque Nacional da Serra do Divisor, considerado um dos locais de maior biodiversidade da Amazônia.

O governo peruano concedeu à Pacific E&P os direitos de explorar dentro do parque e, desde então, as campanhas para barrar a exploração não cessaram, com milhares de apoiadores lotando a caixa de email do presidente da E&P mostrando indignação com a exploração em área protegida.

A região de Yavarí Tapiche é parte da Fronteira Isolada Amazônica. Essa área se estende ao longo da fronteira do Brasil e Peru e é lar de mais tribos isoladas do que em qualquer outro lugar no mundo, de acordo com informações da Survival International.

Ainda de acordo com a organização, sabe-se muito pouco ainda sobre as tribos isoladas da área, mas acredita-se que alguns sejam Matsés, mas também existem outros povos nômades e isolados na região.

Em uma reunião indígena no fim de 2016, um homem Matsés, cuja tribo foi forçada a fazer contato no fim do século 20, teria dito que não queria os filhos destruídos pelo petróleo. “Por isso, estamos aqui reunidos, Matsés. As petroleiras vão trazer o pior e com tal afronta não vamos ficar calados, sendo explorados em nossa própria casa. Se for necessário morrer, vamos morrer na guerra contra o petróleo.”

A exploração de petróleo envolve a contínua invasão de terras em diversas áreas da região Amazônica, assim como a exploração ilegal de madeira, ouro e diamante, o que pode aumentar drasticamente o risco de contato forçado com tribos isoladas, além de ser ameaça constante a terras já demarcadas. Isso as deixa vulneráveis à violência e a doenças como a gripe e o sarampo, às quais não têm resistência. Além disso, já está comprovado que as terras indígenas são a melhor maneira de proteger o meio ambiente e barrar o desmatamento.

A Fronteira Isolada Amazônica, uma grande área na fronteira entre o Brasil e o Peru, é lar para a maior concentração de tribos isoladas do mundo

O anúncio de que a exploração não irá em frente foi recebido com satisfação por muitos como um passo significativo na luta para proteger as terras, vidas e direitos humanos dos povos indígenas isolados.

“Essa é uma ótima notícia para a campanha global pelas tribos isoladas e para todos aqueles que querem parar o genocídio que ocorre nas Américas desde a chegada dos colonizadores. Todas as tribos isoladas enfrentam uma catástrofe, a não ser que suas terras sejam protegidas. Nós acreditamos que elas são uma parte vital da diversidade humana e merecem que seu direito à vida seja protegido. Nós continuaremos a liderar a luta para deixá-las viver”, afirmou o diretor da Survival, Stephen Corry.

Fonte: Eu na Floresta/ Estadão

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