Produtores de soja do Amapá, técnicos de extensão rural e pesquisadores reuniram-se na última quinta-feira, 9/3, na Embrapa Amapá, em reunião técnica sobre alternativas de manejo de solos para enfrentar doenças que afetam o cultivo desta cultura no estado, como Soja Louca II, Ferrugem e Antracnose. Pela manhã, o pesquisador engenheiro agrônomo José Salvador Foloni, da Embrapa Soja (Londrina-PR) apresentou as características dos solos de Cerrados da Amazônia e as tecnologias Sistema Plantio Direto (SPD) e Integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), recomendadas para prevenção e combate a doenças que afetam a cultura da soja e que contribuem para a manutenção produtiva do solo. No período da tarde, o pesquisador Maurício Meyer, fitopatologista também da Embrapa Soja, abordou as características, sintomas e outros aspectos das principais doenças que afetam a cultura da soja.

Na abertura do evento, o chefe de Transferência de Tecnologias da Embrapa Amapá, Nagib Melém, explicou que a cultura da soja está se consolidando como uma realidade de investimentos na produção agrícola do Amapá, e a Embrapa cumpre seu papel de desenvolver pesquisas e estudos voltados ao fortalecimento da produção agropecuária do estado, desde a produção da agricultura familiar até à escala comercial. Esta reunião remonta a um encontro realizado no final de 2016, em Macapá, entre equipes da Embrapa Amapá, Embrapa Soja e produtores locais, quando foram apontados os problemas fitossanitários e de clima com impacto direto na produtividade local. “Na ocasião, levantamentos problemas sérios como a ocorrência das doenças Soja Louca II e Antracnose, além da questão do manejo de solos. No decorrer do planejamento, conseguimos o apoio da Embrapa Soja que disponibilizou os dois pesquisadores para estarem aqui junto com os produtores, ampliando nosso conhecimento e captando a situação vivida pelos produtores”, acrescentou Nagib Melém. A Soja Louca II causa danos severos e pode inviabilizar a sojicultura, dependendo do nível de ataque. “Nosso desafio é saber como essa doença se comporta e desenvolver mecanismos de resistência e controle, sejam por meio de estudos de melhoramento genético para desenvolver cultivares resistentes, ou outras formas de manejo”, afirmou o pesquisador José Salvador Foloni.   

O presidente da Associação dos Produtores de Soja do Amapá (Aprosoja), Daniel Sebben, presente na reunião, confirmou que a Soja Louca II já chegou a comprometer a produção local em até 50% nas áreas que vem sendo cultivadas há cerca de 8 anos. Trata-se de uma doença cuja identificação da causa vem sendo pesquisada há 10 anos pela Embrapa. No ano passado, foi reconhecida pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) como uma doença causada pelo nematoide Aphelenchoidessp, direcionando assim as atividades de pesquisa para a definição de métodos de manejo. O pesquisador Maurício Meyer explicou que os principais sintomas da Soja Louca II são plantas com haste verde, retenção foliar e abortamento de vagens antes de finalizar seu ciclo. “As plantas afetadas permanecem com a folha verde no momento de finalizar o ciclo da soja, quando deveriam ficar secas. Isso gera uma perda direta para o produtor, seja na produtividade dos grãos de qualidade ou em quantidade suficiente por planta”, acrescentou o pesquisador fitopatologista.

A produção de soja no Amapá foi elevada a uma escala de 1,6 mil hectares em 2012 a 16 mil hectares em 2014. Projeções para daqui a 20 anos mostram que a área deve atingir o potencial máximo, com 200 mil hectares. “Em 2012 já tivemos casos de Soja Louca II no nosso estado, e esse é hoje o maior desafio para os produtores, porque compromete a produtividade da soja no Amapá de duas formas. Primeiro, diretamente, porque quando há incidência da Soja Louca ela causa perda significativa na produtividade, e segundo porque o manejo que encontramos até então para driblar a doença é trabalhando o solo. Só que, este manjo, além de impactar nos custos da produção, impacta negativamente também na produtividade. Mesmo sem Soja Louca ao longo dos anos, se tivermos que nivelar a terra, revolver o solo todo ano, estaremos dando um tiro no pé porque é um risco de destruição da matéria orgânica e estaríamos indo na contramão de toda a pesquisa e tudo que se tem de mais moderno na agricultura brasileira, que é a rotação de cultura, formação de palhada, matéria orgânica através da palha e proteção de solo”, ponderou o presidente da Aprosoja Amapá. Com relação à iniciativa da Embrapa, em realizar a reunião técnica, ele disse que tem expectativa otimista diante do alinhamento de esforços entre pesquisa, produtores e extensão rural.

Em 2015 o Amapá produziu cerca de 40 mil toneladas de grãos de soja. A entidade dos produtores esperava pelo menos 50 mil toneladas. “O problema é que houve atraso no plantio, que ficou fora da janela ideal em função de problemas logísticos que ainda temos para receber insumos na época adequada”. Para 2017, a estimativa é de atingir até 55 mil toneladas, até porque a área cultivada cresceu em torno de 30%, de 14 mil para 18 mil e 800 hectares. O otimismo também deve-se ao cumprimento do calendário agrícola local. “Sentimos no ano passado, que a data limite da janela ideal é até 20 de abril. Então, soja plantada a partir de 25, 30 e até 5 de maio como tivemos casos ano passado, não apresenta produtividade satisfatória”, explicou Sabben. O calendário agrícola para cultivo de grãos em áreas de cerrado no Estado do Amapá foi lançado pela Embrapa no final do ano passado. Resulta do cruzamento de informações de práticas dos produtores e estudos científicos. “O produtor precisa seguir o calendário e as regras do clima. A Embrapa produziu um documento que serve para nós e para os próprios pesquisadores”.

Diante dos participantes, o pesquisador José Salvador Foloni chamou a atenção para outros fatores agregados que devem ser levados em consideração com relação ao sucesso da cultura da soja. “É preciso entender as características da cadeia produtiva local. Não é só produzir com eficiência e viabilidade econômica, tem a parte da logística. Quais são os papéis dos agentes da cadeira produtiva para que tudo funcione de forma equilibrada do ponto de vista econômico, social e ambiental. Temos histórias de outros Estados onde a sojicultura não foi para frente e aí vamos entender que não deve existir só a preocupação agrícola, mas também os elementos da porteira para fora”. Ele salientou que por uma questão climática, o parasita da Soja Louca II se deu bem no Amapá, e a soja é planta hospedeira. “Existe um grande desafio agronômico para identificar a biologia do parasita e indicar táticas de manejo, e assim fazer a sojicultura prosperar em um ambiente de pressão, de tal forma que consiga conviver com a doença sem chegar a comprometer a produção”. Os maiores desafios do manejo da soja para que seja viável economicamente são os investimentos em adubação e manejo da fertilidade do solo, acrescentou o pesquisador da Embrapa Soja. O desafio é compreender as características regionais de clima e dos solos, e entender quais são os caminhos para consolidar as práticas adequadas de cultivo conservacionistas de grãos no contexto do Sistema Plantio Direto (SPD), por exemplo, assim como cultivos integrados com pecuária e espécies florestais, em referência à tecnologia denominada Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF). “Já temos modelos consolidados em outras regiões do Brasil. A gente traz experiências que precisam ser adaptadas para a realidade local, a partir do entendimento do clima e do solo locais”. No Amapá, a Embrapa realiza experimentos com cultivares de soja no Campo Experimental do Cerrado. A BRS Tracajá é uma das cultivares de soja lançadas pela Embrapa mais utilizadas pelos produtores do Amapá.

 

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