O IPCC produziu um novo conjunto de diretrizes em 2006, que fornece informações para as emissões de reservatório em um apêndice. A 17a Conferência das Partes (COP-17), realizada em Durban (África do Sul) em 2011, decidiu que as diretrizes de 2006 do IPCC seriam usadas para os inventários nacionais começando em 2015 para os países de Anexo I (Decisão 15/CP.17: [1]). Para relatar emissões de metano, o Tier 1 é especificado para incluir apenas as emissões relativamente modestas que ocorrem por meio de difusão da superfície do reservatório.
Os países podem optar para relatar as emissões de ebulição das superfícies do reservatório no Tier 2, mas as grandes emissões de metano a partir das turbinas são relatadas somente no Tier 3, raramente utilizado ([2], Vol. 4, Apêndice 3). O apêndice sobre reservatórios nas orientações de 2006 ([2] IPCC, 2006, Vol. 4, Apêndice 3) é identificado como uma atualização das orientações de boas práticas, do IPCC ([3], Apêndice 3a.3), mas nem todas as alterações representam adições: a tabela de dados sobre as emissões de ebulição desapareceu ([3], Apêndice 3a.3, p. 3.290, Tabela 2A.3.4 versus [2], Vol. 4, Apêndice 3, p. Ap.3.5, Tabela 2A.2).
A reunião-chave que resultou nesta seção das orientações foi descrita da seguinte maneira por um dos participantes: “a nossa última reunião (Sydney [Austrália], em dezembro passado) foi muito difícil. Conclusão política: Emissões de CO2 devem permanecer no corpo principal das orientações de 2006 do IPCC, mas o CH4 será num anexo…as emissões de bolhas e desgaseificação só são consideradas, respectivamente, sob as abordagens dos Níveis 2 e 3. O perito da Hydro-Quebec argumenta que nós não temos conhecimento suficiente para emissões difusivas de CH4… ” [4].
O apêndice (“anexo”) às diretrizes de 2006 do IPCC fornece um valor padrão (“default”) para o fluxo de difusão de metano a partir de superfícies reservatórios tropicais ([2], Vol. 4, Apêndice 3, p. Ap.3.5). Isso é calculado como o valor mediano de uma série de medições publicadas para diferentes reservatórios. A mediana é usada em vez da média, porque a distribuição de valores é altamente distorcida.
A mediana é frequentemente usada em vez da média como uma forma de minimizar o efeito de valores “outlier” (valores fora da faixa esperada) que são o resultado de erros de medição. No entanto, a distribuição desigual dos valores de fluxo de metano não é o resultado de erro de medição, mas sim uma característica do próprio sistema. Na maioria dos dias, a taxa de emissão será modesta, mas menos frequentemente haverá grandes explosões de emissão.
Uma situação similar aplica-se aos dados de diferentes reservatórios. Sendo que o objetivo do valor padrão do IPCC é para a estimativa de um total anual de emissões, a métrica necessária não é aproximada melhor pela mediana, mas sim pela média. Usando uma mediana efetivamente descarta o efeito dos reservatórios de alta emissão (i.e., casos como Balbina, mesmo se eles tivessem sido incluídos), mas isto não pode ser feito sem enviesar o resultado.
O apêndice das diretrizes do IPCC de 2006 ([2], Vol. 4, Apêndice 3, p. Ap3.5) cita os seguintes documentos como base para seu valor padrão para a difusão de CH4 das superfícies de reservatórios nos trópicos úmidos [ou seja, Tier 1]: [5-12]. Não há valores padrão fornecidos para ebulição [ou seja, Tier 2], mas o apêndice afirma que “informações úteis podem ser obtidas das seguintes referências”: [5, 6, 13-22] ([2], Vol. 4, Apêndice 2, p. Ap2.2). Nem as referências bibliográficas nem os valores padrão são dados para desgaseificação nas turbinas [ou seja, Tier 3], embora um conselho muito bom e amplamente ignorado é dado que “concentrações de CH4 a montante e a jusante das barragens seriam necessárias para estimar as emissões a partir da desgasificação” ([2], Vol. 4, Apêndice 3, p. Ap3.5). Observe-se que nenhum dos documentos listados acima foi usado no relatório especial do IPCC (ver a Tabela 1 na Parte 2 desta série) [23].
PHILIP MARTIN FEARNSIDE
Philip M. Fearnside é doutor pelo Departamento de Ecologia e Biologia Evolucionária da Universidade de Michigan (EUA) e pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus (AM), onde vive desde 1978. É membro da Academia Brasileira de Ciências e também coordena o INCT (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia) dos Serviços Ambientais da Amazônia. Recebeu o Prêmio Nobel da Paz pelo Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC), em 2007. Tem mais de 500 publicações científicas e mais de 200 textos de divulgação de sua autoria que estão disponíveis neste link.
ÍNTEGRA DISPONÍVEL EM: Hidrelétricas e o IPCC: 6 – As diretrizes de 2006 – Amazônia Real (amazoniareal.com.br)