As emissões de barragens tropicais representam uma lacuna significativa nos inventários nacionais de gases de efeito estufa compilados para a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC). Pelas diretrizes do IPCC, informações para cada item podem ser relatadas em um de três “tiers“, ou níveis de complexidade metodológica.

Tier 1 é o nível básico, que é projetado de modo que pode ser aplicado por todos os países, incluindo aqueles com poucos dados e pessoal qualificado; Tier 2 é um nível intermediário que permite maior resolução fatores específicos a cada país; Tier 3 é o nível mais alto e oferece flexibilidade para métodos específicos de cada país, incluindo medições diretas e estimativas por modelagem, ou para um maior nível de desagregação.

As diretrizes revistas de 1996 (“1996 revised guidelines”) do IPCC, que estavam em vigor até o final de 2014 para ambos os países do Anexo I e os não abrangidos pelo Anexo I [ou seja, os países com e sem limites sobre emissões nacionais] omitem inteiramente os reservatórios [1].

As diretrizes do IPCC sobre “boas práticas” (“good practice guidelines”), que estavam em vigor o final de 2014 como um suplemento para países do Anexo I, fornecem algumas informações para comunicação voluntária, mas a parte sobre reservatórios ([2], Apêndice 3a.3) é intitulada como uma mera “base para futuro desenvolvimento metodológico” [2].

Este apêndice afirma que “devido à ligação estreita entre as emissões de CO2, CH4 e N2O e as metodologias, todas as três espécies de gases são tratadas nesta seção e nenhuma distinção para emissões de terras alagadas é feita com base na idade do reservatório” ([2], Apêndice 3a.3, p. 3.286). Isso é estranho, dado que o pico muito grande das emissões de metano nos primeiros anos depois de criar um reservatório dos trópicos já era conhecido há pelo menos uma década na época e havia sido documentado em alguns dos trabalhos citados no relatório.

Nenhuma sugestão é feita para relatar as emissões no nível de detalhamento de Tier 1, e o relatório sugere que os países podem desenvolver seus próprios parâmetros se eles desejam relatar nos Tiers 2 ou 3. Intervalos de estimativas publicadas são dados para difusão e ebulição de CH4 das superfícies de reservatórios tropicais. Não há comentários sobre as emissões a jusante [3].

PHILIP MARTIN FEARNSIDE

Philip M. Fearnside é doutor pelo Departamento de Ecologia e Biologia Evolucionária da Universidade de Michigan (EUA) e pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus (AM), onde vive desde 1978. É membro da Academia Brasileira de Ciências e também coordena o INCT (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia) dos Serviços Ambientais da Amazônia. Recebeu o Prêmio Nobel da Paz pelo Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC), em 2007. Tem mais de 500 publicações científicas e mais de 200 textos de divulgação de sua autoria que estão disponíveis neste link.

ÍNTEGRA DISPONÍVEL EM: Hidrelétricas e o IPCC: 5 – Emissões de gases nos inventários nacionais – Amazônia Real (amazoniareal.com.br)