Dar escala nacional ao problema do desmatamento da Amazônia e recuperar as áreas que foram destruídas é o que motivou a criação da Aliança pela Restauração da Amazônia, divulgada na semana passada. Formado por grupos ambientalistas, produtores, empresas, instituições financeiras, governo e sociedade civil a iniciativa pretende impulsionar a restauração florestal, desenvolver pesquisa e reduzir custos para recuperar a cobertura florestal do bioma. 

O desafio parece ainda maior com o para o aumento dos índices de desmatamento da Amazônia, que entre agosto de 2015 e julho de 2016 atingiu 7. 989 km², o maior dos últimos quatro anos dificultando a meta estabelecida pelo Acordo de Paris, que estabelece metas de redução das emissões de gases que causam o aquecimento global. O reflorestamento é um dos pontos chaves para reduzir os impactos ambientais do Brasil e permitir que a floresta cumpra seu papel da captura de carbono.

Segundo Rodrigo Medeiros, vice-presidente da CI-Brasil afirmou em entrevista ao site Amazônia.org a crise econômica contribuiu para o aumento dos índices, já que restringiu o controle e monitoramento, “mas fiscalização não é tudo”, afirma. “Um outro aspecto importante é que ainda não conseguimos também de fato desenvolver e fomentar plenamente uma economia florestal de base sustentável na região, o que limita muito as opções de geração de emprego e renda para as comunidades que vivem na região e que sempre são cooptadas para atividades de exploração ilegais”.

Um dos pontos chaves da Aliança é a participação de representantes do setor produtivo e agropecuário do país. Representado por uma classe política que muitas vezes defende o retrocesso ambiental, por meio de medidas que flexibilizem a legislação ambiental, diminuição de áreas protegidas e criminalização dos povos tradicionais, Medeiros destaca que “não podemos simplesmente aceitar isso como o rótulo que define toda a atividade agrícola do país”.

“Nós tivemos avanços extraordinários nas últimas décadas na direção de melhorar nossa produção no campo e hoje acredito que a maioria dos produtores rurais do Brasil, sejam eles grandes ou pequenos agricultores familiares, produzem em condições muito boas e com bom desempenho ambiental. Não podemos deixar essa minoria criminosa manchar nossa reputação”. 

Confira a entrevista e conheça mais sobre a Aliança pela Restauração na Amazônia

Amazônia.org.br – Como surgiu a iniciativa?

Rodrigo Medeiros – A ideia de criar uma Aliança pela Restauração na Amazônia surgiu do reconhecimento de que se de fato queremos dar uma resposta consistente e definitiva para o desafio de parar o desmatamento na Amazônia e recuperar as áreas que foram destruídas por meio do desmatamento ilegal, precisamos mudar a forma de trabalhar. Dada a escala e o tamanho do problema precisamos migrar do modelo atual que é caracterizado por projetos de restauração isolados, caros e em pequena escala para uma ação coordenada entre diferentes organizações e setores para ampliar a escala, desenvolver e testar novas técnicas e reduzir custos.

Amazônia.org.br – As políticas de combate ao desmatamento da Amazônia se mostraram desatualizadas para continuar combatendo o desmatamento, haja visto o aumento dos índices de degradação nos últimos meses. Qual o caminho para retomar a redução do desmatamento?

O Brasil precisa retomar o controle sobre o desmatamento. Depois de duas décadas de muito sucesso, infelizmente nestes dois últimos anos vimos o desmatamento aumentar perigosamente na Amazônia. As causas para isso são diversas, mas a crise econômica recente é uma delas pois restringiu os orçamentos dos órgãos de controle e fiscalização federal e estadual com reflexos na sua capacidade de ação contra o desmatamento. E na ausência de controle há sem dúvida ainda aqueles que apostam na atividade criminosa do desmatamento como principal oportunidade econômica na região. Mas fiscalização não é tudo. Um outro aspecto importante é que ainda não conseguimos também de fato desenvolver e fomentar plenamente uma economia florestal de base sustentável na região, o que limita muito as opções de geração de emprego e renda para as comunidades que vivem na região e que sempre são cooptadas para atividades de exploração ilegais.

Amazônia.org.br – Uma das atuações é impulsionar a economia da restauração florestal? Esse é um setor com oportunidade de geração de trabalho e renda? Por que é tão pouco difundido?

Por que a escala dos projetos de restauração na região ainda é bem pequena e as oportunidades concentradas nos locais onde essas iniciativas ocorrem. Mas agora, se levarmos em conta as metas de restauração que o país se comprometeu no Acordo de Paris e com a Política Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa, a coisa toda muda de figura. Saímos da fase de projetos atomizados e em sua maioria quase que voluntários, para um setor que precisará ser estruturado como negócio para cumprirmos essa meta. Isso possibilitará a geração de varias oportunidades de negócios, trabalho e geração de renda na chamada cadeia da restauração, incluindo posterior atividades de exploração sustentável das florestas reflorestadas.

Amazônia.org.br – O setor ruralista aliado ao governo tem conseguido aprovar iniciativas que trazem bastante insegurança para a área ambiental – como a alteração da demarcação de terras indígenas, o constante adiamento do Cdastro Ambiental Rural (CAR), etc. Nesse cenário qual a importância de uma aliança em prol da Amazônia?

A Aliança pela Restauração da Amazônia é uma iniciativa multisetorial com a adesão de organizações do terceiro setor, do governo, da academia mas também da iniciativa privada onde vários ruralistas, ou seja, empresários e empreendedores no meio rural, estão aderindo por que acreditam que é possível sim produzir e gerar todas as riquezas que esse setor tem gerado há décadas, sem destruir nosso maior patrimônio que é a natureza. O setor ruralista no Brasil, em sua maioria, já pensa assim. A maior prova de que o setor rural no Brasil de fato está comprometido com essa ideia foi a maciça adesão ao CAR. Mas é claro, como em todos os setores, há sempre uma minoria bastante barulhenta com a cabeça no passado e com muita dificuldade de se adaptar aos novos tempos.

Amazônia.org.br – O próprio Ministério do Meio Ambiente é parceiro da iniciativa? Como foi o diálogo com o governo?

O diálogo com o Ministério tem sido fantástico. O mesmo com os governos dos estados da Amazônia. Estão todos convencidos e motivados com o fato de que a Aliança será uma ótima plataforma de parceria capaz de dar o salto que precisamos para cumprir não apenas os acordos e metas estabelecidos, mas também saldar essa enorme divida com a sociedade global de recuperar aquelas áreas que foram destruídas no passado.

Amazônia.org.br – Vocês possuem como parceiro a Agropecuária Fazenda Brasil, representante de um setor que tem sido principal responsável pelo desmatamento e trabalho escravo na sua cadeia produtiva. Qual a importância de dialogo com o setor agropecuário? 

Como eu mencionei agora a pouco, desmatamento ilegal e criminoso da Amazônia, grilagem de terras, emprego de trabalho escravo e infantil na atividade agrícola e uma série de outros problemas infelizmente ainda é realidade em algumas áreas no Brasil e que precisa ser banida de vez. Mas não podemos simplesmente aceitar isso como o rótulo que define toda a atividade agrícola do país. Pelo contrário. Nós tivemos avanços extraordinários nas últimas décadas na direção de melhorar nossa produção no campo e hoje acredito que a maioria dos produtores rurais do Brasil, sejam eles grandes ou pequenos agricultores familiares, produzem em condições muito boas e com bom desempenho ambiental. Não podemos deixar essa minoria criminosa manchar nossa reputação.

Amazônia.org.br – Existe algum exemplo de ação prática ou política pública que já esteja acontecendo e que aponte caminhos para uma economia que não degrade a floresta?

O trabalho que é desenvolvido na rede de Reservas Extrativistas (RESEX) espalhadas pela Amazônia é um bom exemplo de como conservação e uso sustentável dos recursos florestais podem andar lado a lado beneficiando as pessoas que vivem nessas regiões. Seja nas atividades desenvolvidas em áreas no coração da Amazônia como a região do Médio Juruá, passando pelo Tapajós, Marajó até as RESEX localizadas na região do Salgado Paraense, a Amazônia está cheia de excelentes exemplos.

Amazônia.org.br – A adesão é voluntária? Estão convidando outras organizações e instituições?

Sim totalmente voluntária e várias organizações estão aderindo. Esse é o espírito da Aliança pela Restauração na Amazônia: criar essa grande corrente de cooperação para algo que é muito importante não apenas para os brasileiros, mas para todo o mundo, seja atingido. Os estados da Amazônia estão fortemente engajados com os compromissos nacionais e internacionais de proteção de florestas e mitigação dos efeitos das mudanças climáticas e o nosso papel é oferecer apoio técnico e institucional para fortalecer a implementação desses compromissos. É neste sentido que a Aliança chega para somar os esforços realizados pela sociedade brasileira.

Por: Aldrey Riechel
Fonte: Amazônia.org

 

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http://amazonia.org.br/2017/02/alianca-pela-amazonia-queremos-dar-uma-resposta-consistente-e-definitiva-para-o-desafio-de-parar-o-desmatamento-na-amazonia/