Na reserva extrativista Cazumbá-Iracema, no interior do Acre, a colheita da castanha-do-pará não foi a mesma em 2017. Moradores que trabalham com o alimento sentiram o impacto positivo que conhecimentos sobre o manejo de recursos naturais podem ter sobre a produção. A comunidade é uma das beneficiadas pelo projeto Bem Diverso, parceria do PNUD e da EMBRAPA para levar capacitação e monitoramento a comunidades que vivem do que a natureza produz.
Fevereiro é o mês da colheita da castanha-do-pará, principalmente no norte do país. Na reserva extrativista Cazumbá-Iracema, em Sena Madureira, interior do Acre, 40 famílias, das 350 que vivem no local, trabalham com o alimento.
A coleta é feita a muitas mãos. Dezoito famílias se unem e fazem a coleta juntas para depois dividir a produção entre o grupo. Dentre os coletadores, está Francisco de Souza Carvalho, morador e conselheiro deliberativo da Cazumbá-Iracema.
Em 2017, tanto Francisco quanto os outros moradores perceberam uma diferença no modo como a colheita é realizada: toda a produção dos castanhais passou a ser monitorada pelos extrativistas com o auxílio de pesquisadores.
A iniciativa faz parte do Projeto Bem Diverso, executado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) e pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e financiado pelo Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF).
O acompanhamento do Bem Diverso busca solucionar problemas observados pela própria comunidades, como a diminuição da quantidade de castanhas em árvores mais antigas.
“Com o monitoramento, vamos tentar trazer mais repostas para a comunidade e entender melhor a razão disso”, afirma o analista do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Tiago Juruá Ranzi.
Certas recomendações feitas por especialistas associados ao Bem Diverso já foram implementadas — e deram resultados positivos. “Algumas castanheiras tinham cipós e não produziam. Nós fomos orientados a cortar os cipós, e tem árvore que já está dando até cinco latas de ouriço”, afirma o presidente do Núcleo de Base Cazumbá, o extrativista Afonso da Silva.
“Ao trabalhar com a castanha, o projeto foca no uso sustentável da biodiversidade para promoção da geração de renda para os extrativistas, bem como na instrução sobre os melhores métodos e práticas de manejo de solo e da biodiversidade”, explica a gerente do Bem Diverso pelo PNUD, Patrícia Benthien.
Outro objetivo da iniciativa é coletar dados sobre os custos da atividade. “Por enquanto, vale a pena fazer a coleta coletiva porque o produto está valorizado no mercado. Mas, se os preços caírem, os custos de produção podem não ser cobertos com a venda da castanha na cidade”, completa Ranzi.
Com as informações obtidas através do monitoramento e do treinamento da EMBRAPA, Francisco descobriu que é importante “cuidar das mudas de castanheiras que encontramos para garantir uma produção para as futuras gerações”. “Além disso, o mapeamento das árvores vai ser útil para os jovens saberem onde estão as árvores e quais são mais produtivas”, acrescenta.
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