Em abril do ano passado, o anúncio da existência de um recife de corais de cerca de mil quilômetros de extensão na foz do rio Amazonas surpreendeu a comunidade científica internacional. Nove meses depois, a ONG Greenpeace inicia uma campanha para livrar a área da iminente atividade petroleira.

O coral se estende do Maranhão ao Amapá, com área total de 9.500 km², equivalente a seis cidades de São Paulo. A partir desta terça-feira (24), ambientalistas e pesquisadores partem de Macapá (AP) para uma expedição de 16 dias na foz do Amazonas a bordo do seu maior navio, o Esperanza, que comporta 40 pessoas.

Pesquisadores manuseiam animais do coral na Amazônia

Equipada com um submarino com dois lugares, o objetivo principal da expedição será produzir as primeiras imagens dos corais amazônicos, que, a uma profundidade média de 100 metros, mudaram o paradigma desse tipo de ecossistema por serem os primeiros do mundo encontrados em águas de pouca luminosidade e na desembocadura de um rio.

Em paralelo à expedição, a ONG está fazendo uma petição para que três petroleiras –a francesa Total, a brasileira Queiroz Galvão e a britânica British Petroleum (BP)– desistam dos blocos de prospecção na foz do Amazonas. Somadas, as empresas desembolsaram R$ 346,5 milhões pelas concessões.

“Mal o conhecemos, não o entendemos muito bem e já nasce ameaçado”, disse à Folha Thiago Almeida, da campanha de energia do Greenpeace Brasil.

Participam da expedição cinco dos 39 coautores do artigo científico que revelou a existência dos corais. Embora nem todos endossem formalmente a campanha do Greenpeace, há um consenso de que as pesquisas realizadas até agora são insuficientes para medir o impacto da atividade petroleira na região do novo bioma, incluindo como se espalharia o óleo em caso de derramamento.

“Mapeamos apenas 5%. Precisamos descobrir praticamente tudo: a arquitetura dos recifes, as dimensões, a composição específica em termos de organismos, o funcionamento”, enumera o biólogo Fabiano Thompson, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Outro pesquisador que estará a bordo, o biólogo Ronaldo Francini-Filho, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), afirma que já foram descobertos diversos gêneros e espécies de esponjas e que há potencial para novos peixes e micróbios. Participam também da expedição os coautores Nils Asap (UFPB), Eduardo Siegle (USP) e Carlos Rezende (Universidade Estadual do Norte Fluminense).

Os Corais da Amazônia estão a 110 km da costa entre a divisa do Amapá com a Guiana Francesa até o Maranhão

EMPRESAS

Procuradas pela reportagem da Folha, todas as três empresas informaram, via assessoria de imprensa, que os poços em planejamento estão afastados em distância e profundidade dos corais e que haverá filmagens adicionais antes da perfuração para assegurar a ausência de recifes.

As petroleiras informaram que as atividades seguem a legislação ainda dependem a emissão do licenciamento ambiental pelo Ibama. Todas afirmaram também que a viabilidade comercial e o tamanho das reservas ainda dependem dos resultados das prospecções exploratórias.

Ao todo, a foz do rio Amazonas tem sete blocos. O mais próximo do recife pertence à Total, que planeja começar as perfurações exploratórias ainda neste ano. A empresa francesa informou que, no máximo, haverá perfuração a 35 km dos corais. Concessionária de cinco blocos, pretende investir R$ 951 milhões na fase de exploração.

Fonte: Folha de São Paulo 

VER MAIS EM: http://amazonia.org.br/ – http://amazonia.org.br/2017/01/recife-na-foz-do-amazonas-e-unico-no-mundo/ (disponível em janeiro/2017)