A história dos ribeirinhos do Médio Rio Juruá, no coração da Amazônia, começa a mudar com programa do governo federal. 

 

Maria Concebida, 44 anos, é uma entre as quase 170 mil marias, brasileiras, mães de família que vivem na Amazônia. Em Nova Esperança, pequena comunidade dentro da Reserva Extrativista do Médio Juruá, localizada a 800 Km de Manaus, é a floresta que dita o ritmo de sua vida, do marido e dos dez filhos. São dias de um Brasil profundo, que o Programa Bolsa Verde, do Ministério do Meio Ambiente, está ajudando a tirar da invisibilidade. 

O programa é reconhecido internacionalmente como uma das experiências mais bem-sucedidas em integrar as comunidades locais aos projetos de preservação da fauna e flora. Ribeirinhos, quilombolas, populações indígenas e comunidades tradicionais utilizam os recursos renováveis de forma sustentável, recebendo uma bolsa de R$ 300, de três em três meses, pelo período de dois anos. Assim, melhoram sua renda e ajudam a preservar a biodiversidade que os cercam, atuando como verdadeiros agentes ambientais.

Às margens do rio na Resex Médio Juruá, cerca de 400 famílias, moradoras de 43 pequenas comunidades, estão encontrando o caminho para cruzar a linha da pobreza rumo a um futuro melhor. São quase 2 mil ribeirinhos que vivem da pesca, do plantio de mandioca e da produção e comercialização coletiva da farinha. Sem deixar a floresta para buscar a sobrevivência, eles agora ajudam a preservá-la para as gerações futuras.

NA RESERVA

Eles contam, também, com o apoio de políticas públicas de distribuição de renda, como o Bolsa Família, do governo federal, e o Bolsa Floresta, destinado a moradores de unidades de conservação estaduais.  O programa Luz para Todos, que leva a eletricidade até as residências, já chegou. Mas a floresta à sua volta interrompe constantemente o fornecimento. E os R$ 250 que pagam para ter eletricidade “é muito alto”, lamenta Manoel Miranda, marido de Maria Concebida.

É ele quem mostra, com satisfação, um pequeno freezer onde guarda o peixe que pesca no Juruá. E no canto da cozinha, um fogão de seis bocas novinho. “Antes de vir a ajuda do governo era muito difícil a vida melhorar”, diz. Conservar e cozinhar o pescado ficou bem mais fácil. “Antes tinha que salgar e perdia muito peixe”, conta.  

A casa do ribeirinho continua simples como a dos vizinhos. Na sala sem móveis, um televisor analógico de 14 polegadas faz a alegria da família e da vizinhança.  Espalhados pelo assoalho de madeira na frente do aparelho, eles não perdem “nenhum capítulo das novelas”, admite Maria, com a casa cheia de amigos e parentes. 

Aos poucos, esta Maria, a Concebida, está deixando as estatísticas que a situavam na linha da pobreza e à margem das políticas públicas de desenvolvimento. Agora, já se sente uma Maria “aparecida”, sorrindo com orgulho e muita esperança de que os filhos vivam dias melhores e não precisem deixa a floresta se não quiserem. 

A CIDADE

A pequena Carauari, sede do município onde fica a Resex, chegou a enfrentar um surto de crescimento na década de 1980.  A Petrobrás instalou na localidade a base de operações para as atividades de exploração de gás e petróleo em Urucu, a 20 minutos pelo ar. O projeto atraiu muita gente para a região, mas se inviabilizou economicamente. A população cresceu. 

Grande parte dos novos habitantes não retornou à região de origem. A queda da atividade econômica pode ser sentida no comércio. E os moradores se voltaram mais uma vez para o rio e a floresta, fontes trabalho e renda.  A criação de unidade de conservação deu novo alento aos extrativistas e ribeirinhos. 

 No entender de Manoel Cunha, gestor da Resex e morador de uma de suas comunidades, não foi a primeira, nem será a última crise no Médio Juruá. “Viver na floresta é um desafio”, salienta. Ele lembra os milhares de nordestinos que deixaram seus estados no início do século passado. Trocaram a seca do sertão por melhores dias na floresta úmida, atraídos pelo ciclo da borracha, riqueza que a biopirataria levou para o sudeste asiático. “Os seringais também não melhoraram a vida do ribeirinho, quem ganhava era só o patrão”, conclui.

O PROGRAMA

Criado em 2011, o programa do governo federal atende hoje 48 mil famílias em situação de extrema pobreza. Para ser beneficiário é preciso morar em áreas importantes para a conservação ambiental. A contrapartida é adotar práticas sustentáveis, que contribuam para preservar os ecossistemas brasileiros. 

Saiba mais sobre o Bolsa Verde

 

PAULENIR CONSTÂNCIO                                                                                        

Enviado especial ao Médio Juruá

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