Neste mês de dezembro completam-se seis anos do início das pesquisas com o plantio de pau-de-balsa realizadas pela Embrapa Agrossilvipastoril em parceria com a Prefeitura de Guarantã do Norte (MT), Compensados São Francisco e Cooperativa dos Reflorestadores de Mato Grosso (Copromab). Nesse período foi possível obter informações que estão ajudando a orientar produtores sobre as melhores práticas para o cultivo da espécie.
Entre os principais resultados já sistematizados está a recomendação de espaçamento. As avaliações mostraram que a melhor alternativa é o espaçamento de 3mx3m. De acordo com o pesquisador Maurel Behling, ao utilizar a configuração 2mx2m e 3mx2m é necessário fazer o desbaste para adequação populacional, ocasionando aumento dos custos operacionais.
“No espaçamento 3mx3m é possível obter o mesmo volume de madeira com custo de produção menor”, explica Maurel.
Outro ponto importante da pesquisa é a recomendação correta de adubação. Na avaliação foram testadas a dose até então recomendada para o cultivo, o dobro desta dosagem, metade do valor de referência e a ausência de adubação. A recomendação final somente será definida após o fechamento da curva de crescimento dos seis anos, o que será feito após a última medição prevista para janeiro.
“Temos que ver se a tendência de crescimento verificada nos últimos anos se mantém para fazer um balizamento da recomendação final. Mas acreditamos que ela ficará entre a dosagem recomendada anteriormente e o dobro dela. Vimos que o pau-de-balsa responde bem à adubação”, afirma o pesquisador.
Além da avaliação agronômica, a recomendação final levará em conta a avaliação econômica do plantio, achando o ponto ideal entre o incremento de produtividade e o aumento de custos.
Um destaque encontrado na pesquisa é o grande acúmulo de carbono no solo pelo pau-de-balsa. Em apenas dois anos, o estoque alocado na camada superior já chegava 5 toneladas por hectare.
“Se futuramente se consolidar o mercado de crédito de carbono, o pau-de-balsa é uma espécie interessante. Não só pelo que está alocado no solo, mas também pelo que está em forma de tronco, raízes e folhas. E é claro que isso implica em melhorias das condições do solo. Mesmo que se retire o pau-de-balsa, ao cultivar outra cultura ela terá o benefício da matéria orgânica acumulada”, afirma Maurel.
Demanda atendida
A iniciativa da pesquisa começou a partir de uma demanda feita pela prefeitura de Guarantã do Norte para apoiar produtores que estavam cultivando o pau-de-balsa, mas enfrentavam problemas como mato-competição, baixa produtividade e crescimento lento das árvores.
Para contribuir com a solução deste problema, a pesquisa foi conduzida respeitando-se sempre as boas práticas silviculturais, como o revolvimento mínimo do solo, correção do solo, etc. Ao longo de todo o processo, foram realizadas ações de transferência de tecnologia, como dias de campo, palestras e visitas técnicas nas quais produtores da região puderam acompanhar o desempenho das plantas e conhecer as práticas adotadas.
Com isso, parte dos problemas puderam ser sanados, como a redução dos problemas com plantas daninhas, aumento de produtividade, menor índice de mortalidade, entre outras.
O agrônomo da prefeitura de Guarantã do Norte, Júlio Santin, acompanhou o trabalho desde o início e se tornou referência na região para produtores. Ele, inclusive, utiliza o experimento para coleta de dados para a dissertação do mestrado que cursa na Universidade Federal de Mato Grosso. Para ele, a pesquisa vem contribuindo para a melhoria dos plantios de pau-de-balsa na região.
“A gente não sabia como plantar árvores direito em nossa região. Com o experimento, conseguimos identificar, principalmente a densidade de plantio, o que já vem ajudando muito os produtores. O conhecimento adquirido com a pesquisa tem servido de referência e norte até para o cultivo de outras espécies, como o paricá”, afirma Júlio Santin.
Agora, a expectativa para o agrônomo e para os reflorestadores da região está na conclusão das informações sobre níveis de adubação e manejo.
“Estamos vendo no dia-a-dia no campo o trabalho e estamos corrigindo os erros que antes eram cometidos. Mas com o resultado finalístico, poderemos recomendar com dados científicos, melhorando nossos cultivos florestais”, afirma.
Mercado
O pau-de-balsa é uma espécie nativa da Amazônia central, de baixa densidade e rápido crescimento. Os materiais com menor densidade são muito utilizados na fabricação de hélices de geradores de energia eólica. Como as plantas cultivadas no Brasil possuem maior densidade, sua principal aplicação é na indústria de compensados e laminados.
Apesar do reconhecido potencial de uso por indústrias de diferentes segmentos, como moveleira e de construção civil, por exemplo, o mercado da madeira ainda não está consolidado.
O diâmetro limitado dos troncos exige que as indústrias processadoras utilizem equipamentos específicos, implicando maior investimento. As indústrias por sua vez, aguardam maior oferta de matéria-prima, com fornecimento constante, para adquirir o maquinário necessário.
Gabriel Faria (mtb 15.624/MG JP)
Embrapa Agrossilvipastoril
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