Ninguém estava muito otimista a respeito do desmatamento da Amazônia. Todos os indícios mostravam que, em 2016, aumentaria a taxa de devastação na floresta. Mas os números oficiais publicados na última terça-feira (29) pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostraram que o aumento foi muito maior que o previsto. Em 2016, a Amazônia perdeu quase 8.000 quilômetros quadrados de florestas. É a pior taxa anual desde 2008 e representa uma mudança da dinâmica do desmatamento, que viu uma grande queda entre 2004 e 2009 e uma fase de estagnação entre 2010 e 2014. Agora, as motosserras voltaram com força.
Como explicar esse forte aumento, depois de quase uma década de políticas bem-sucedidas para a Amazônia? ÉPOCA conversou com dois especialistas que mostram o que pode estar acontecendo com a maior floresta tropical do mundo.
Gado e clima
É praticamente impossível encontrar um único fator que explique o aumento da derrubada de árvores. Para Paulo Barreto, do Imazon, ONG que trabalha com monitoramento de satélite na Amazônia, são vários fatores. “É uma combinação de fatores que já vinham ocorrendo, agravados pelo aumento do preço do gado e pela sequência de anos secos”, disse, em conversa por e-mail.
Entre os fatores, Barreto cita a redução da proteção legal das florestas, já que nos últimos anos o Código Florestal anistiou desmatamentos antigos e reduziu a proteção em margens de rios e topos de morros, além de redução de áreas protegidas promovidas pelos governos federal e estaduais. A redução de fiscalização e projetos de infraestrutura sem medidas de prevenção também contribuíram. Esse cenário já existe há alguns anos. O aumento no preço do gado e a seca fizeram a situação sair do controle.
No caso do gado, a pecuária extensiva já é conhecida como um dos principais fatores para o desmatamento na Amazônia. Produtores derrubam florestas não porque veem valor na madeira, mas para limpar a área e criar gado. A criação de gado no Brasil é pouco eficiente e de baixa tecnologia. Quando uma pastagem se degrada, é mais barato invadir uma área de floresta e desmatar do que recuperar o pasto degradado.
Em 2009, o Ministério Público Federal (MPF) fez um acordo com frigoríficos e pecuaristas para impedir a comercialização de carne vinda de áreas desmatadas. O acordo funcionou por um período, mas chegou ao limite recentemente, em parte por causa da fragilização das regras ambientais, em parte porque o acordo não consegue evitar a venda de carne ilegal por frigoríficos legalizados. Com o aumento do preço da cabeça de gado nos últimos anos, a pecuária ganhou um novo incentivo para avançar sobre as florestas. Para ter uma ideia, o preço da arroba subiu quase 50% desde 2012.
A outra questão é climática. A Amazônia está enfrentando um forte período de estiagem provocado pelo fenômeno El Niño e, possivelmente, pelo aquecimento global. No último trimestre, por exemplo, a região da Terra do Meio, no Pará, enfrentou temperaturas até 2,5 graus célsius maiores que a média. Esse clima torna difícil o controle de queimadas. Só neste ano, já registramos mais de 80 mil focos de queimadas na Amazônia. “Queimadas repetitivas de florestas degradadas acabam resultando em remoção total da vegetação e aparecendo no monitoramento do satélite”, diz Barreto.
Crime e especulação
O secretário executivo do Programa Municípios Verdes do Pará, Justiniano Netto, tem uma explicação diferente para os números do Inpe. Netto, que trabalha na elaboração das operações do Pará no combate ao desmatamento, não acredita que a economia tenha tido tanta influência no aumento e coloca mais peso na ação de quadrilhas organizadas que desmatam ilegalmente as florestas. “Não é a economia. Não estamos com boom de commodities. É resultado de uma ação ilegal em áreas públicas.”
Segundo ele, a informação das equipes de campo é que são dois os vetores do desmatamento atualmente. O primeiro são desmatamentos dentro de áreas de assentamento. Não é que os pequenos produtores estejam desmatando – eles muitas vezes nem sequer têm recursos financeiros para isso. Na verdade, existe um comércio ilegal de lotes. Pessoas que não são assentadas compram, concentram esses lotes e desmatam. Como estão em áreas de reforma agrária, eles conseguem escapar da fiscalização. ÉPOCA já contou essa história.
O outro vetor é para a especulação fundiária. Eles invadem áreas públicas, desmatam e esperam depois regularizar a situação. “Nesses casos, temos de fazer operações policiais. Eles desmatam na chuva, para fugir dos satélites, migram de áreas. Estamos combatendo esses desmatadores, mas eles estão mostrando resistência.”
Ações de controle
Ao anunciar os números do Inpe, o ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, apresentou algumas medidas para tentar reverter o aumento do desmatamento. Uma delas foi a publicação dos dados do Cadastro Ambiental Rural (CAR). Esses dados ajudam a distinguir o que é desmatamento legal e ilegal. Além disso, Sarney Filho prometeu acelerar no programa de concessões florestais.
Por: Bruno Calixto
Fonte: Blog do Planeta
FONTE: AMAZONIA.ORG.BR – http://amazonia.org.br/2016/12/como-explicar-a-explosao-no-desmatamento-da-amazonia-neste-ano/
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