Os quase 3 mil quilômetros que separam Bauru (interior de São Paulo) da comunidade ribeirinha de Calama (Rondônia) foram percorridos numa cansativa viagem de 60 horas de ônibus até Porto Velho, além de outras 12 navegando pelo Rio Madeira. Mas apesar do cansaço e dos pés inchados, os professores, alunos e funcionários da Faculdade de Odontologia de Bauru da USP chegaram a Calama cheios de energia e disposição. O relógio marcava por volta das 19 horas do domingo, 04 de setembro de 2016. Além de descarregar os equipamentos e materiais odontológicos e fonoaudiológicos do barco, ainda era preciso montar as clínicas para, no dia seguinte, pela manhã, começar os atendimentos que seguiriam pelos próximos três dias. Eles tinham muito trabalho pela frente.
Desbravando fronteiras
Eles atravessaram quatro estados brasileiros. Enfrentaram um gigantesco congestionamento após um acidente que paralisou a BR-364, logo após Cuiabá, no Mato Grosso, além do estouro de um dos pneus. Mas assim que desceram do ônibus no Porto Cai N’água, em Porto Velho, em Rondônia, professores, alunos de graduação, pós-graduandos e funcionários da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) da USP se mostravam animados e dispostos.
Depois das 60 horas de ônibus, navegaram mais 12 horas pelo Rio Madeira até chegar em Calama no início da noite do domingo, 4 de setembro de 2016. A comunidade ribeirinha tem cerca de 3 mil habitantes e está localizada na margem direita, quase na divisa com o Amazonas. Nos 3 dias que se seguiram, foram realizadas, gratuitamente, extrações, restaurações e limpeza dentária, atividades de educação em saúde bucal, acompanhamentos e avaliações fonoaudiológicas e até a doação e adaptação de aparelhos auditivos. Não há farmácia na comunidade, nem dentistas, nem fonoaudiólogos. Os últimos que ali estiveram, em setembro de 2015, também eram da Faculdade de Odontologia de Bauru.
E tem sido assim há quatro anos. Desde 2013, uma equipe da FOB realiza anualmente essa longa mas fascinante viagem: estamos falando da Expedição Ribeirinhos. A iniciativa faz parte do Projeto de Extensão FOB USP em Rondônia, iniciado em 2002 em Monte Negro, cidade a 250 quilômetros ao sul de Porto Velho. A expedição realizada em Calama é a “caçulinha” do projeto. O programa permite que os alunos do último ano de graduação em odontologia e fonoaudiologia tenham contato direto e intensivo com a prática profissional; treina pós-graduandos para a docência e a gestão em saúde; possibilita a realização de pesquisas e leva atendimento gratuito para a população ribeirinha.
Na primeira parte deste especial, apresentamos a 4ª Expedição Ribeirinhos, realizada entre os dias 1 e 10 de setembro de 2016: o histórico do projeto, quem são os expedicionários e quais os atendimentos realizados. Ainda preparamos uma vídeorreportagem e o depoimento dos professores, além de contar um pouco sobre a nossa rotina no barco que serviu de hotel e restaurante durante a permanência lá. Dividimos ainda com você, leitor, a saga dos 10 dias de expedição em um “Diário de Viagem” e uma galeria de fotos.
Para a segunda parte da reportagem (que será publicada em março de 2017) vamos acompanhar, durante o mês de janeiro, uma das duas expedições anuais que a FOB realiza em Monte Negro. Na terceira parte da reportagem (também a ser publicada em março de 2017), vamos falar sobre o projeto que abriu os caminhos para a existência do FOB USP em Rondônia. O foco será a base que o Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP mantêm em Monte Negro, desde 1997: o ICB-5.
Valéria Dias – Subeditora de Ciências do Jornal da USP
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