LiDAR é a sigla para Light Detection And Ranging, tecnologia que utiliza dados gerados por instrumentos aeroembarcados laser e óticos para fins florestais. “A quantificação e qualificação da biomassa é rotina essencial para a gestão de florestas. Assim podemos acompanhar o desenvolvimento desse recurso natural, e detectar se o crescimento é saudável ou se há degradação”. Quem explica é o professor Luiz Carlos Estraviz, que coordena na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP um grupo de estudos sobre o tema.
Em 2009, um de seus orientandos do Programa de Pós-graduação em Recursos Florestais da Esalq concluiu seu mestrado demonstrando que tecnologias laser tinham enorme potencial na área florestal. A pesquisa de Matheus Felipe Zonete foi, portanto o marco zero da ideia do novo grupo, estruturado dois anos depois com a ajuda do doutorando Eric Gorgens. Ele e os demais alunos sob a orientação de Estravitz formaram o Grupo de Estudos em Tecnologias LiDAR (GET-LiDAR), cujo foco seria a quantificação e a qualificação de florestas utilizando tecnologias LiDAR.
Gorgens tornou-se especialista em LiDAR na área florestal e, depois de um curto período no Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE) em São José dos Campos, ingressou como professor na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, em Diamantina (MG).
Dados precisos
Atualmente, o GET-LiDAR desenvolve de forma pioneira no Brasil o uso de dados gerados por esses instrumentos. “Os trabalhos iniciais, e vários outros que continuamos desenvolvendo, comprovam a alta correlação existente entre a realidade de campo e as métricas extraídas das nuvens de pontos produzidas pelos equipamentos de escaneamento aeroembarcado a laser, técnica mais conhecida pela sigla em inglês, ALS (Airborne Laser Scanning). E isso acontece porque as nuvens de pontos que geram essas métricas são representações 3D bastante precisas da superfície escaneada pelo ALS”, completa o professor. Técnicas terrestres de escaneamento, ou TLS (Terrestrial Laser Scanning), são também exploradas pelo grupo.
O grupo formou cinco mestres e dois doutores, e já publicou, em seis anos, mais de quinze artigos em periódicos nacionais e internacionais. Destacam-se no GET-LiDAR dois objetivos que moldam a sua personalidade. “O primeiro, é a vontade de substituir métodos de mensuração florestal que se tornaram obsoletos. O segundo, é contribuir para que esse processo de modernização vá além da pesquisa e transfira efetivamente para o setor produtivo os resultados encontrados”.
Na prática isso se materializa a partir de um programa de transferência tecnológica coordenado pelo professor Estraviz no âmbito do Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais (Ipef). Com o apoio de cinco grandes empresas brasileiras (Cenibra, Duratex, Eldorado, Suzano e Veracel), do setor de chapas e celulose, associadas ao Ipef, a transferência acontece via Programa Cooperativo de Pesquisa em Gestão Florestal (PCGF). “No momento, a nossa equipe está envolvida na fase de capacitação dos técnicos das empresas que integram a cooperativa de pesquisa. A capacitação antecede o início dos projetos pilotos dentro da empresa que aplicarão os princípios ALS, TLS, estereoscópicos e de visão computacional em atividades de monitoramento das florestas industriais, de restauração e naturais geridas por esses empreendimentos”, detalha Estraviz.
Mapeamentos de cursos d’água
Outra frente de transferência dos trabalhos do GET-LiDAR é desenvolvida pelo engenheiro florestal Daniel Papa, analista de transferência de tecnologias da Embrapa Acre, em Rio Branco que veio fazer o mestrado na Esalq. “Escolhi a Esalq pelo elevado nível de pesquisa da USP, pela inovação em pesquisas com LiDAR na área florestal e pela proximidade entre pesquisadores da Embrapa Acre com o professor Luiz Carlos Estraviz”. Papa foi liberado de suas funções no Acre e chegou em Piracicaba em fevereiro de 2016. “Meu projeto de pesquisa usa o LiDAR para mapear a floresta amazônica com objetivo de aperfeiçoar os planos de manejo florestal. O LiDAR é uma tecnologia que permite, por exemplo, o mapeamento dos cursos d’água abaixo da copa das árvores, coisa que uma imagem de satélite não consegue. Com um mapeamento preciso dos cursos d’água dentro de uma área de manejo florestal, é possível delimitar com exatidão a Área de Preservação Permanente (APP) e assim assegurar a não extração de árvores nessas áreas”.
O trabalho do GET-LiDAR já se viu reconhecido nacionalmente, e foi um dos destaques de empreendedorismo em 2015, quando o professor Estraviz, e o seu orientado Esthevan Gasparoto, mestrando do programa de pós-graduação em Recursos Florestais da Esalq, receberam o Prêmio Santander de Empreendedorismo. “O nosso maior desafio é manter a pesquisa e a transferência tecnológica equilibradas, sem perder a qualidade científica das nossas publicações e o nosso propósito constante de inovar a cada trabalho”, finaliza o professor coordenador do GET-LiDAR.
JORNAL DA USP – VER IMAGENS EM: Tecnologia usa laser aeroembarcado para monitorar a floresta – Jornal da USP