Estima-se que existam na Amazônia entre 5 e 10 mil plantas com potencial farmacológico, mas ainda há pouca quantidade de estudos químicos voltados para a sua utilidade como insumo para as indústrias farmacêutica, cosmética e de alimentos. Esse foi o tema da palestra do Coordenador-geral do Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA), Dr. Adrian Martin Pohlit no IV Congresso Brasileiro de Recursos Genéticos em Curitiba (PR).
Dr. Adrian, que trabalha há 19 anos como pesquisador na região amazônica, afirma que apesar de ser um bioma bastante preservado, vários insumos estão sendo extraídos de forma desordenada e correm o risco de desaparecer. Como exemplo, ele cita a Marapuama, cuja raiz é utilizada no tratamento da paralisia e do beribéri (doença nutricional causada pela falta de vitamina B1), a Copaíba, cujo óleo tem propriedades anti-inflamatórias, entre outras.
“São plantas extraídas da floresta em processos que nós não conhecemos. Portanto, não temos dados suficientes para garantir que a exploração é sustentável, só sabemos que são mercados rentáveis, com compradores e mercado no exterior”, afirmou Adrian.
O potencial antimalárico de plantas da Amazônia
De acordo com Dr. Adrian, nos últimos 30 anos o volume de novas drogas e produtos naturais originários da Amazônia vem aumentando. Uma das biomoléculas mais estudadas é a Quinina, extraída da planta Chinchona (ou Quina) e conhecida pelas suas funções antitérmicas, antimaláricas e analgésicas. A substância é muito utilizada no tratamento da malária, doença tropical que ainda afeta entre 40 e 50 mil pessoas por ano no Brasil.
O pesquisador também citou outras plantas antimaláricas já estudadas no INPA, tais como: Picrolemma sprucei (Caferana), Piper peltatum (Capeba), Minquartia guianenses (Acariquara), Carapa guianenses (Andiroba), Tachia grandiflora, Angiosperma vargasii e Cassia spruceana. Segundo ele, alguns estudos mostraram que algumas plantas foram responsáveis pela supressão de até 50% do crescimento do parasita Plasmodium.
Dr. Adrian faz um alerta para a dificuldade de se obter escala suficiente para trabalhar com substâncias antimaláricas originárias da Amazônia, uma vez que uma pesquisa para obter novos fármacos necessita em média de pelo menos 200 kg de substância pura. “As plantas amazônicas são fontes das principais substâncias antimaláricas utilizadas hoje, mas é preciso tornar os produtos naturais mais ativos que os sintéticos oferecidos pelo mercado farmacológico”, afirma.
Outra preocupação do pesquisador é o risco de extinção por que passam algumas espécies, como a Ipeca, conhecida pelo seu uso emético (para provocar o vômito em casos de intoxicação), o Jaborandi (utilizada no tratamento contra o glaucoma) e também a Castanha-do-Brasil, planta símbolo da Amazônia e do Brasil. “Já há publicações indicando que a reposição de plantas jovens não está acontecendo. Essas são questões para as quais precisamos adensar a tecnologia e reflorestar essas espécies que já tem mercado, são plantas econômicas com mercados garantidos e precisamos garantir isso para os nossos filhos e netos”.
Irene Santana (MTb 11.354/DF)
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
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