Comunidades indígenas localizadas às margens do Rio Negro, nas proximidades do município de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, vão ter acesso a dois mutirões de saúde neste mês como parte da 36ª Expedição Cirúrgica e Clínica à Amazônia.

A Ação é promovida pela Associação Expedicionários da Saúde (EDS), em parceria com a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Saúde; o Ministério da Defesa, a Fundação Nacional do Índio (Funai) e lideranças indígenas.

O primeiro mutirão será realizado entre os dias 12 e 18 e vai oferecer um tratamento inédito de triquíase tracomatosa, na região de Iauareté. A doença é causada por uma bactéria e pode levar à cegueira. Segundo a coordenadora geral do projeto Operando na Amazônia da EDS, Márcia Abdala, a triagem de pacientes já está sendo feita e as equipes estão trabalhando na infraestrutura para realização das cirurgias.

“São cirurgias que vão ser realizadas em um pequeno hospital que tem lá em Iauaretê, na região da Cabeça do Cachorro. Estamos reformando esse hospital para deixá-lo em condições para a gente operar. A gente leva todos os equipamentos e insumos. Pretendemos fazer, pelo menos, 80 cirurgias. Como são povos da etnia hupda, muitos assustados e difíceis de encontrá-los, a gente está com essa expectativa. Temos condições de fazer 100 cirurgias, mas se conseguirmos até 50 ou 80, a gente vai ficar muito feliz”, disse.

O segundo mutirão de saúde vai atender, entre os dias 18 e 26, às comunidades indígenas de Assunção do Içana, também na região conhecida como Cabeça do Cachorro, extremo noroeste do Amazonas. De acordo com Márcia, vários tipos de atendimentos e exames vão ser oferecidos nessa etapa da expedição.

“Aí já são cirurgias de oftalmologia em geral, catarata e pterígia, que é aquela carne que cresce no olho, incomoda muito e, dependendo do grau, pode levar à cegueira. São cirurgias simples pra nós, mas pra eles que vivem sempre sob o sol, na roça, pescando, são muito impactantes. E as cirurgias gerais são de hérnias e outras pequenas cirurgias de médio porte. A gente também leva várias especialidades. Tem pediatria, ginecologia, ortopedia, clínica médica e dentista”, destacou.

Apoio logístico

A expectativa é atender mais de 2,5 mil pacientes e fazer cerca de 300 cirurgias no segundo mutirão. A expedição tem apoio logístico de militares do Exército e da Aeronáutica. Foram disponibilizadas aeronaves, viaturas e embarcações que vão transportar as equipes, cerca de 80 pessoas, e 15 toneladas de medicamentos e materiais. O gerente da subchefia de operações do Ministério da Defesa, coronel da Aeronáutica Júlio César Pontes, ressalta que os locais onde haverá atendimentos são de difícil acesso e, por isso, é fundamental a parceria com os militares.

“Para fazer esse tipo de operação, a participação das Forças Armadas é imprescindível porque a partir de São Gabriel não há voos comerciais para se deslocar para essas localidades. Somente através dos aviões da FAB [Força Aérea Brasileira] é que poderemos transportar os equipamentos e os profissionais de saúde. E partir dessas localidades, como Assunção do Içana, ainda temos um deslocamento mais dentro da Região Amazônica, para atender a localidades indígenas, onde nós contamos com embarcações do Exército”, afirmou o coronel.

A Associação Expedicionários da Saúde é formada por profissionais voluntários e promove três expedições por ano à Região Amazônica. A organização estima que, desde 2004, já tenha realizado mais de cinco mil cirurgias e 36 mil atendimentos clínicos.

Bianca Paiva – Correspondente da Agência Brasil

Edição: Luana Lourenço