Quem sai de Porto Velho, em Rondônia, rumo ao Amapá pelo Rio Madeira, consegue avistar, à margem esquerda, a Reserva Extrativista Lago do Cuniã. Ali, os moradores – grande parte descendentes de migrantes nordestinos atraídos pelo trabalho nos seringais e índios da etnia Mura – já experimentaram um histórico de lutas pelo direito ao uso do território.
A Reserva Extrativista possui um lago de exuberante beleza e riqueza ambiental, que dá nome à Unidade, o Lago do Cuniã.
Com o aumento da população de jacaré-açu na área da Reserva Extrativista, a comunidade decidiu propor ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade a implementação do manejo da espécie. A prática alcançou diretrizes definidas em instrumentos legais, através de instruções normativas que a regulamentam.
A comunidade foi capacitada para realizar todas as atividades necessárias, desde a captura, até o beneficiamento da carne e do couro.
Atualmente, com o manejo, uma cota anual de abate é estabelecida para que a atividade seja feita de maneira sustentável. A atividade já beneficia 80 famílias, após 10 anos do início da sua implementação.
“O jacaré é uma proteína animal de altíssima qualidade, tem a pele de valor reconhecido no mercado nacional e internacional e percebemos um potencial enorme nas unidades da Amazônia. A inovação consiste em praticar o manejo aliando pesquisa, desenvolvimento e inovação, ou seja, o próprio manejo gera conhecimento, capacitação e uma série de benefícios para a comunidade” explica Marcos Coutinho, do Centro Nacional de Conservação de Répteis e Anfíbios, vinculado ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade.
A equipe do projeto é composta por 83 pessoas da comunidade, divididas por especialidades que vão desde a captura do jacaré à destinação dos resíduos e gestão da bioindústria.
Na área técnica, junto com os comunitários, trabalham um veterinário responsável pelo frigorífico junto à Secretaria Municipal de Agricultura e Abastecimento,um especialista em manejo de fauna, um responsável técnico e o coordenador técnico do Projeto “Crocodilianos Brasileiros”, que é vinculado ao Centro de Conservação de Répteis e Anfíbios, vinculados ao Instituto Chico Mendes.
“Além de consolidar um plano de manejo de jacarés da Unidade de Conservação, com a criação de uma nova fonte de geração de emprego e renda, o projeto tem permitido qualificar comunitários e atuar nas práticas de gestão da cadeia, já que a maioria das comunidades extrativistas ainda não tem o conhecimento necessário para implantar e gerir negócios que implicam em procedimentos industriais, de gestão financeira e comercial”, explica Marcos.
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