A maior torre de estudos climáticos do mundo, o Observatório de Torre Alta da Amazônia (Atto, na sigla em inglês) começou neste mês a receber os equipamentos que servirão para monitorar os dados sobre a interação do clima da floresta amazônica e a atmosfera. A Atto é também maior que a torre Eiffel, Paris.

Com 325 metros de altura, a torre está localizada no meio da maior floresta tropical contínua do planeta, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã, a 150 quilômetros em linha reta de Manaus, no município de São Sebastião do Uatumã.

Instalada numa área livre de qualquer tipo de poluição (ambiente pristino), a torre vai monitorar o clima na região amazônica, por um período de 20 a 30 anos, a partir da coleta de dados sobre os processos de troca e transporte de gases entre a floresta e a atmosfera. A floresta tropical da Amazônia é um dos ecossistemas mais sensíveis do planeta, que desempenha papel importante na estabilização do clima.

De acordo com o gerente operacional da Torre Atto, o técnico Leonardo Ramos, a previsão é que até dezembro todos os equipamentos estejam instalados nos três containers que servirão de laboratórios para que a torre possa começar a operar efetivamente no início de 2017.

Construída com tecnologia nacional, os equipamentos a serem instalados são de última geração, como o de telemetria para transferência de dados, os anemômetros sônicos de alta tecnologia, os analisadores de gás que servirão para analisar os vapores de água no ar e o dióxido de carbono (CO2), além dos sensores de radiação solar, entre outros equipamentos meteorológicos.

“Equipamentos como os analisadores são sensíveis, alguns deles não podem ficar expostos à floresta, porque é úmida e esta umidade é uma grande inimiga dos equipamentos eletrônicos, por isso precisam ficar protegidos em containeres na base da torre e em condições de temperatura e umidade controladas”, explica Ramos.

O complexo da Torre Atto é composto por mais duas torres de 80 metros cada (que funcionam desde 2012), de onde são feitas as medições de aerossóis, gases atmosféricos e os parâmetros do tempo, como temperatura, vento e radiação solar em alta resolução. A Atto é um dos projetos do Programa de Grande Escala Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA). O gerente científico do LBA e coordenador do projeto Atto é o pesquisador do Inpa Niro Higuchi.

A Torre Atto é um consórcio entre o governo brasileiro e alemão, executado pelo Inpa, Unidade de Pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações (MCTIC); o Instituto Max Planck de Química e de Biogeoquímica e a Universidade do Estado do Amazonas (UEA). O investimento foi na ordem de R$ 26 milhões, rateados em 50% para cada governo.

De acordo com o gerente operacional pelo lado alemão, o pesquisador Stefan Wolff, técnicos dos dois governos estão trabalhando noite e dia na preparação de uma campanha de instalação para a grande torre. “A partir do ano que vem, queremos começar várias medidas atmosféricas na torre principal e para isso é necessário instalar sistemas de tubulações, fixações, cabos e conexões na torre”, diz.

 

Segundo Wolff, vários instrumentos serão colocados nos novos containers, instalados na base da torre, e que chegaram recentemente ao sítio Atto. Os instrumentos captarão o ar de várias alturas até o topo da torre para medir um perfil vertical das características do ar dentro e em cima da floresta amazônica. “Para chegar neste ponto, percorremos um longo caminho, interessante em vários aspectos, cheios de aventuras, dificuldades e muitas surpresas”, revela o pesquisador.

As medidas na altura das árvores permitem análises de processos locais de árvores específicas e de características num determinado local. “As medidas no topo da torre Atto vão representar as propriedades de uma grande área de milhares de quilômetros quadrados da floresta amazônica. Os transportes horizontais e verticais e a mistura de gases e partículas na atmosfera podem ser melhor analisados com estas pesquisas”, conta Wolff.

A Torre Atto foi inaugurada no dia 22 de agosto de 2015 e trará resultados inéditos com relação à física e à química da atmosfera desde a superfície da torre até os seus 325 metros. Abaixo e acima da copa das árvores, além de suprir os pesquisadores com dados que antes só eram coletados por experimentos aéreos.

Com a inauguração da torre, a ciência tem um acompanhamento real dos dados numa estrutura imóvel e contínua durante 24 horas. Os dados são repassados ao Inpa e ao Instituto Max Planck de Química e de Biogeoquímica, além das instituições parceiras.

Da Redação – Ascom Inpa – Fotos: Fernanda Farias