O GEEA realizou hoje, 21/10/16 sua 43ª reunião. O tema de debate foi “bioma cerrado e interface com a Amazônia”, tendo sido apresentado pelo ecólogo e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Geraldo Wilson Afonso Fernandes.
O Prof. Geraldo Fernandes explanou sobre muitos aspectos interessantes do cerrado brasileiro, especialmente sobre a rica biodiversidade, os elevados graus de endemismo da sua fauna e flora e da grande quantidade de água armazenada no sub-solo.
Foram destacadas três estratégias curiosas das plantas típicas do cerrado: uma, na formação de tubérculos e caules espessos debaixo do chão, para acumular reservas e suportar o fogo que esporadicamente queima as folhas e galhos; outra, na formação de folhas grossas e casca espessa, em forma de cortiça, especializada em suportar o fogo e proteger o âmago do caule; a terceira, na miniaturização, havendo centenas de espécies que passam desapercebidas diante de olhares desatentos.
O maior destaque da palestra foi dado ao elevado índice de destruição do cerrado, ocasionado pela pecuária e monocultura, especialmente soja, milho e algodão. Também foi mostrado que a mineração vem acarretando impactos cada vez mais crescentes e em muitos casos criminosos. Pior de tudo é a complacência e muitas vezes o incentivo do governo para a transformação do cerrado num canteiro de grãos destinados à produção de carne e de ração para bois, cavalos e outros animais (a maioria no outro lado do mundo, já que essa produção é destinada prioritariamente à exportação).
O resultado disso é que o Brasil exporta minérios e fica com os buracos no chão; exporta grãos e importa alimento industrializado; exporta água (para produzir grãos se exige grande quantidade de água de chuva e de irrigação) e produz desertificação. Ou seja, uma produção nada inteligente e muito menos sustentável. Aliás, muito ao contrário disso: uma produção inconsequente e com alto poder destrutivo. Ainda mais quando se lembra que ao abater o cerrado para a monocultura e pecuária, se está reduzindo a biodiversidade, expulsando o homem do interior e queimando sua cultura e suas tradições.
A palestra mostrou claramente que o cerrado vem sendo espoliado de maneira criminosa e sorrateira, enquanto os holofotes da mídia e das organizações ambientalistas se voltam para a mata atlântica e a Amazônia. Políticos, pecuaristas e empresários de todos os tipos parecem acreditar que o Cerrado tem vocação para a destruição, para sua transformação em grãos e pastagens ou, em alguns casos, em plantações de pinho e eucalipto.
É preciso lembrar que no cerrado se encontram as cabeceiras dos principais rios formadores das grandes bacias hidrográficas brasileiras e que todos os maléficos que ali ocorrem se propagam para os cursos inferiores da bacia amazônica e do pantanal matogrossense. Isso significa que a destruição da cobertura florestal desestabiliza os solos e provoca o assoreamento dos rios e lagoas, levando morte aos peixes e outros organismos aquáticos. Ou seja, a morte do cerrado se alastra para todos os cantos e demais biomas.
É preciso lembrar também que no cerrado existem aqüíferos fabulosos que vem sendo contaminados pelo uso abusivo de agrotóxicos nas plantações. Nesse aspecto o Brasil goza de situação privilegiada (pra não dizer vergonhosa!), de ser o país que mais importa e usa produtos químicos danosos ao meio ambiente.
Em suma, a palestra evidenciou que o Brasil está assistindo de forma passiva, negligente e irresponsável à matança de um ecossistema riquíssimo e que poderia ser aproveitado de forma muito mais racional e totalmente sustentável. Para isso bastaria vontade política. Mas como isso é difícil, num país em que o povo ainda não despertou para seu poder e também para sua responsabilidade histórica!
É preciso despertar o povo e essa talvez seja a maior e mais complexa tarefa dos educadores – e também dos cientistas, pois todos eles (e muitos outros) trabalham com o conhecimento e todos eles devem ter responsabilidade social. Vale dizer: responsabilidade com o meio ambiente e com a sociedade, especialmente a sociedade brasileira.
FONTE: Grupo de Estudos Estratégicos Amazônicos – GEEA
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