Os povos indígenas da região do rio Negro há muito tempo assimilaram algumas culturas de fora. Hoje se vive num dilema de querer separar as culturas indígenas e culturas ocidentais (não indígenas). É mais um discurso de disputa de poderes, mas na prática se mesclam.
A cultura escolar é uma das culturas forasteira. Ela traz para dentro de cada povo muitos conhecimentos e novas práticas de vida. Trabalha para a formação de novos cidadãos e cidadãs, criando consciência de pertencermos a uma “comunidade imaginada” – somos da família brasileira, temos identidade brasileira, temos nossa língua. Através da escola muitos indígenas tiveram acesso a muitos conhecimentos que os tornaram profissionais em diferentes áreas, seguirem carreiras.
Muitos indígenas cursaram cursos universitários em nível de graduação. Outros já concluíram seus cursos de pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado). Na nossa região a partir da década de 2000 muitos indígenas professores tornaram-se assessores pedagógicos e gestores (as) de escolas.
Grande mudança foi no campo da informática, da informação, da comunicação social em geral que atingiu as comunidades, distritos e principalmente a cidade.
No mesmo período as escolas indígenas ensaiaram reações ao modelo ocidental de educação escolar. Procuram com novas metodologias de ensino, fortalecer a aprendizagem das línguas indígenas, com ensino das práticas culturais visaram fortalecer as identidades indígenas. Claro que também nesses espaços continuaram aprendendo outras línguas, outros conhecimentos e mantendo contatos frequentes com a vida da cidade. Nessa perspectiva surgia forte a tendência de uma educação intercultural, que valorizasse os valores das culturas indígenas e valores de povos não indígenas. A formação de Magistério Indígena e as Licenciaturas Indígenas presentes na região buscaram fortalecer os valores das culturas indígenas, principalmente, pelos temas de pesquisa dos alunos e pelos trabalhos de conclusão dos cursos.
Nas últimas duas décadas muitos indígenas saíram a estudar em outros estados brasileiros: Distrito Federal, Pará, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Rio de Janeiro e outros.
Aconteceram avanços em outras áreas, como, campo político partidário. Diversos indígenas filiaram-se e lançaram suas candidaturas, diversos indígenas desde a década de 1980 ganharam como vereadores (as). Um indígena do povo Tariano com seu vice do povo Baniwa chegaram a ocupar o cargo administrativo maior da prefeitura de São Gabriel da Cachoeira (2009-2012). Muitos profissionais de educação ocuparam cargos nas secretarias municipais de educação, na gerência de educação escolar indígena do estado do Amazonas e nos conselhos municipais, estudais e nacional de educação escolar indígena.
Começando desde a década de 1970 gradualmente aumentou o número de jovens indígenas prestando serviço militar no Exército Brasileiro, apesar de número elevado não atingiram as altas patentes como outros não indígenas. No máximo alguns chegaram a ser sargentos.
Como os povos indígenas entendem sobre os ministérios cristãos?
A cultura cristã é a nova cultura que chegou dentro das culturas dos povos indígenas, conforme acenado acima. Variando conforme cada região predomina o catolicismo e em outra, o protestantismo.
Muitos indígenas tornaram-se catequistas, evangelizadores dos seus próprios parentes, com suas próprias e a partir do próprio domínio da religião cristã. No lado da igreja católica muitos jovens indígenas seguindo caminhos de seminários chegaram a se tornar sacerdotes. E muitas jovens indígenas seguiram o caminho da Vida Religiosa. Tanto no sacerdócio como na Consagração à Vida Religiosa criaram ruptura com a cultura indígena, em questão da formação de família, casamento. Na igreja evangélica, diversos indígenas, homens e mulheres tornaram-se pastores e pastoras.
Leia os artigos anteriores a da série:
Povos Indígenas Contemporâneos do Rio Negro, no Amazonas
Como os povos indígenas do rio Negro constroem suas culturas?
Como podemos perceber os valores das culturas indígenas contemporâneas?
JUSTINO SARMENTO REZENDE
Justino Sarmento Rezende é indígena do povo Ʉtãpinopona-Tuyuka, nascido na aldeia Onça-Igarapé, distrito de Pari-Cachoeira, município de São Gabriel da Cachoeira (AM). É padre com formação em Licenciatura em Filosofia pela Universidade Católica de Brasília; Bacharelado em Teologia pela Faculdade Teológica Nossa Senhora da Assunção (SP) e Mestrado em Educação pela Universidade Católica Dom Bosco (MS). Entre as atividades que atua, estão a de professor da Secretaria de Educação do Amazonas e colaborador de Licenciatura Indígena Políticas Educacionais e Desenvolvimento Sustentável.
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Como acontece o encontro das culturas indígenas com as novas culturas do entorno?
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