Com o titular ainda indefinido durante a gestão Temer, lideranças indígenas de diferentes estados defendem a indicação do general Franklimberg Ribeiro de Freitas, que é índio, para o cargo de presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), o que seria um fato inédito na história do órgão. Nascido em Manaus, Franklimberg Ribeiro de Freitas pertence à etnia Mura, tem 60 anos, e é reconhecido pela atuação no combate ao tráfico nas fronteiras e crimes ambientais. Para eles, o general é o mais indicado, além da própria origem, por ter uma carreira consolidada, uma patente importante e estar envolvido em causas que beneficiam as comunidades indígenas. No entanto, há divergências sobre a possível indicação.
Em reunião na tarde de terça-feira (2), no Memorial do Índio, um grupo de líderes vindos de tribos do Alagoas, Amapá e Pernambuco, afirmou ser livre de ideologias políticas e partidárias e não se alinhar às ONGs e associações contrárias à nomeação de um general. Suas reivindicações giram em torno da demarcação de terras e revisão da PEC 215, que transfere do Executivo para o Legislativo o poder de demarcação. O movimento defende a atuação das Forças Armadas nas reservas indígenas.
Jocelio Xucuru, da etnia Xucuru Pesqueira, critica a Funai e defende a nomeação do general. “A Funai se encontra omissa e sucateada. O índio na Funai, sem recursos, não vai fazer nada. O orçamento não é compatível com as demandas das comunidades indígenas. Precisamos de transparência na Funai, que o ministro da Justiça olhe com uma visão diferente para esses movimentos que estão sendo contra. Esses que estão aqui em Brasília não nos representam, quem nos representa é cacique, pajé e a comunidade”, afirma.
Em julho, quando o nome de um outro general, Roberto Peternelli, foi cogitado, uma onda de protestos explodiu em vários estados porque o general era um entusiasta do regime militar e celebrou o aniversário da “revolução que impediu a implantação do comunismo no Brasil”. Em Brasília, foi realizado um ato contra a indicação, no Ministério da Justiça. Agora, as lideranças de aldeias mais afastadas condenam os atos e questionam as informações que receberam à época.
Sílvia Nobre, representante da etnia Waiãpi, no Amapá, destaca a atuação do general em causas indígenas. “Todos nós fomos pesquisar o passado dele e vimos sua atuação junto à polícia federal, à própria Funai, para tirar garimpeiros das áreas indígenas, madeireiros e também fazendo caça ao narcotráfico dentro das nossas fronteiras”. Para Sílvia, não existem rixas entre índios e militares. “Quando o índio é picado por cobra, na mata, e ele vai morrer se não for socorrido, não é Sesai ou Funai que tira, são as Forças Armadas. Na hora que estamos morrendo, é um helicóptero da FAB que desce para nos resgatar”.
Álvaro Fernandes Sampaio, da tribo dos Tukanos, Alto do Rio Negro-AM, diretor do Museu do Índio, é militante da causa indígena há 45 anos e rechaça a transferência do poder de demarcação de terras. “Não cabe ao Congresso Nacional ficar demarcando terras indígenas, porque lá é cheio de fazendeiros, madeireiros, é cheio de outros interesses”. A presidência da Funai está vaga desde o dia 3 de junho, quando João Pedro Gonçalves (PT) foi exonerado do cargo. As questões indígenas seguem travadas desde então.
Fonte: Correio Braziliense
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