As duas estações do ano no Acre se sucedem sem perder as suas características há longas décadas. Nisso se reconhece o clima da região, como sendo o mesmo que há 30 anos, 60 anos, embora existam variabilidades e tendências. O adjetivo sazonal, o substantivo sazonalidade e o advérbio sazonalmente, referem-se à estação. Exemplos de expressões com estas palavras são: – sazonalmente, acontecem alagações em Rio Branco (isto quer dizer que todo ano na estação das chuvas, o nível do rio Acre aumenta e as águas entram nos bairros da parte baixa da cidade situados nas planícies de inundação do rio); – a sazonalidade das secas severas preocupa a população de Rio Branco (significa que todo ano as secas manifestam rigor e no seu transcurso os moradores da cidade ficam com aquela angústia da falta do abastecimento público de água, do aumento das viroses, da ocorrência de queimadas urbanas e florestais e das doenças respiratórias e oculares relacionadas); – excetuando os dias de friagem, de ocasionais dias frios, a variação sazonal da temperatura no Acre não é pronunciada (dito de outra forma, as temperaturas praticamente são as mesmas para todos os meses do ano com exceção de alguns dias afetados pelas frentes frias na estação seca).
A caracterização sazonal na região amazônica acumula conhecimentos que têm a ver com diferentes temas, tais como dinâmicas do carbono, ciclo das águas, interações entre a vegetação e a atmosfera, a saúde da floresta e a vida das populações. Nessa sazonalidade as secas extremas têm tido maiores consequências negativas sobre as populações urbanas e os ecossistemas aquáticos e terrestres, sem desconsiderar os eventos de grandes alagações que, como no caso do ano 2009, afetaram as capitais Manaus e Belém, e muitas outras cidades do Norte e Nordeste do Brasil.
As famílias de baixa renda ocupam as áreas de risco em assentamentos não planejados de escassa ou nenhuma infraestrutura. Nessas condições ficam expostas às catástrofes devido ao componente de vulnerabilidade social. Em grandes cidades em expansão alguns fenômenos naturais obrigam à migração em massa. Não é o caso que envolve as condições de vulnerabilidade social em cidades da Amazônia, o qual é extensivo a outras partes do Brasil e da América Latina, onde os eventos hidrometeorológicos mais frequentes e severos evidenciam a necessidade do ordenamento urbano, sem o trauma da migração, para solucionar o problema social vindo das alagações e secas. A cidade de Rio Branco, no Acre, é um exemplo disso, onde: chuvas em torno da média climatológica ou acima dela, entre outubro e abril, geram fluxos no rio Acre que desalojam milhares de pessoas que habitam bairros localizados nas planícies de aluvião; e as poucas chuvas da época de seca, em torno da média climatológica ou abaixo dela, entre maio e setembro, agravam a falta de suprimento do serviço de água nos bairros periféricos e mais populosos da cidade. Que tal redistribuir essa água? Para continuar na abundância da cheia e não carecer na penúria da seca!
Extremos diários de chuva na bacia do rio Acre e suas contribuições para os acumulados durante semanas e meses implicam vazões de 900 m3/s e mais. Por outro lado, a seca prolongada diminui o nível do rio, às vezes abaixo de 1 m, sendo a vazão inferior a 50 m3/s.
Em Rio Branco, valores acima de 900 m3/s ocorreram em fevereiro de 1971; fevereiro e março de 1972; fevereiro e março de 1973; fevereiro e março de 1974; fevereiro, março e abril de 1976; fevereiro e março de 1977; abril de 1978; de dezembro de 1978 a abril de 1979; fevereiro e março de 1982; abril de 1984; abril de 1985; fevereiro de 1986; fevereiro de 1988; janeiro de 1991; abril de 1994; fevereiro, março e abril de 1997; janeiro e fevereiro de 1999; fevereiro de 2006; março de 2010 e abril de 2011. E valores abaixo de 50 m3/s ocorreram entre agosto e outubro de 1998, em setembro de 2000, entre setembro e outubro de 2004, de julho a novembro de 2005, de julho a setembro de 2006, em agosto de 2007, de julho a outubro de 2008, de agosto a novembro de 2009, de agosto a novembro de 2010; e atualmente entre julho e agosto de 2011.
Cidades no ambiente de águas na Amazônia, como Rio Branco, capital do Estado do Acre, sofrem os impactos negativos de alagações e secas motivados pelas variabilidades climáticas interanuais, em torno das médias climatológicas. Na medida em que essas cidades aumentam em população e, regularmente, em deficiente infraestrutura, tais problemas se agravam em números crescentes de pessoas desabrigadas, bairros carentes do serviço municipal de água, e as consequências em termos de falta de bem-estar e de saúde, embora a situação seja evitável. O conhecimento hidrometeorológico e de outras áreas do saber pode contribuir para políticas de gerenciamento dos recursos hídricos com vistas a minimizar ou evitar os impactos negativos recorrentes nas áreas de risco e de vulnerabilidade social, tanto por excessos quanto por déficits de água.
* Alejandro Fonseca Duarte
* Coordenador do Grupo de Estudos e Serviços
Ambientais da Universidade Federal do Acre – UFAC
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