A Amazônia brasileira ocupa a maior parte do território nacional e é uma região fronteiriça com vários países, estando aí concentradas grandes questões antropológicas, sociológicas, filosóficas e políticas. Isso, naturalmente, torna a literatura local muito rica e diversificada, à semelhança de outras diversidades, como a biológica e a cultural.

A declaração é do professor da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), o doutor Allison Leão, sobre “Literatura na Amazônia: de Carvajal a Luiz Bacellar”, durante a 41ª reunião do Grupo de Estudos Estratégicos Amazônicos (GEEA), em palestra na última quarta-feira (8), no auditório da Diretoria do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC).

“Quando analisamos a Literatura na Amazônia percebemos que há muitas diferenças nos motivos, nos estilos e nos posicionamentos da escrita. No entanto, apesar dessas diferenças também há semelhanças interessantes. É a partir disso que podemos perceber o pluralismo da literatura na região. Além da produção literária clássica, também ocorre a literatura popular, incluindo aquela transmitida oralmente”, disse Leão.

Segundo o professor e pesquisador, no cenário nacional a Literatura na Amazônia sempre teve um caráter político-cultural e isso acontece em decorrência do processo histórico que sempre manteve essa região isolada do restante do país. Apesar disso, essa região sempre teve uma forte identidade cultural e produziu muita literatura que ficou por muito tempo no anonimato. “Essa situação continua, mas precisa ser mudada, por uma questão de justiça social e o bem do pluralismo cultural que caracteriza a nação brasileira”, destacou.

O palestrante ainda destacou alguns autores que ganharam projeção nacional e internacional com suas obras feitas na região ou sobre a Amazônia, como é o caso do escritor amazonense Milton Hatoum, que é conhecido por misturar a sua experiência de vida com as lembranças pessoais em um contexto sociocultural da Amazônia e do Oriente. O romance “Relato de um certo oriente”, de 1989 , rendeu ao autor um grande reconhecimento no país e no exterior.

Além de Carvajal e Luis Bacellar, também foram citados outros autores amazônicos com expressão nacional e internacional e que tão bem interpretaram a Amazônia, como Euclides da Cunha, Márcio Souza, Thiago de Mello e alguns autores jovens que tem se despontado na nova era digital, com perspectivas muito promissoras.

Para Leão, a primeira iniciativa para tornarem conhecidos os escritores da região deve ser nas escolas, inserindo as obras desses autores nas bibliotecas e nos conteúdos disciplinares.

Sobre o palestrante

Allison Leão da Silva é doutor em Estudos Literários e Literatura Comparada; coordena o projeto “bases para constituição de arquivo lítero-visual” da UEA e que visa criar um centro de documentação artística e cultural nesta universidade. Ele também lidera ao lado da professora Luciane Páscoa, o Grupo de Pesquisas em Memória Artística e Cultural do Amazonas (MemoCult).

GEEA

Criado em 2007, o Grupo de Estudos Estratégicos Amazônicos (GEEA) se reúne de forma sistemática de quatro a cinco vezes ao ano e tem registrado suas ideias e posicionamentos numa obra que vem sendo editada desde o começo, denominada Caderno de Debates do GEEA.

De acordo com o secretário-executivo do GEEA, o pesquisador do Inpa Geraldo Mendes dos Santos, já foram publicados sete Tomos e está em preparação o oitavo, com previsão de ser publicado no próximo ano, quando o Grupo completa dez anos de existência. “Planejamos promover um evento especial comemorativo ao décimo aniversário, com o apoio da Rede Amazônica de Rádio e Televisão, uma forte parceira desse Grupo de Estudos”, adiantou.

Por Caroline Rocha – Ascom Inpa / Foto: Fernanda Farias